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Eles chegaram marchando pela entrada sul do mercado de Brixton, agitando cartazes em protesto à "yuppificação" do famoso bairro do sul de Londres.

Os cupcakes veganos vendidos do outro lado da rua, naquela que já foi a linha de frente de muitos tumultos, aparentemente eram alternativos o suficiente, como também era o blend "contraband" de espresso em oferta a dois corredores dali: pelo menos vinha em copo de papel reciclado onde se via uma estrela revolucionária. A inauguração da Champagne & Fromage, porém, foi longe demais.

"Isto aqui é Brixton, não Chelsea", reclamou um homem enquanto outro distribuía fatias de queijo processado, embrulhadas em filme, para "enfatizar" os produtos franceses exclusivos que agora eram vendidos ali: raclette e Gruyère maturado.

Há tempos um dos bairros mais desprezados, insubordinados e diversificados da capital, onde convivem rastafáris e vegetarianos, comunas, raves underground e tumultos, Brixton vem sentindo os efeitos da gentrificação há três décadas, mas, recentemente, o processo parece ter se acelerado.

Em 2009, o mercado coberto, que já foi chamado de "supermercado de drogas 24 horas" pela polícia, tornou-se o Brixton Village e reinventou-se como um centro gourmet; um ano depois, chegou a Starbucks. O preço dos imóveis subiu 45 por cento no último ano e meio, fazendo aumentar a temperatura entre os que têm saudade da batida reggae e dos aluguéis baratos de outrora e aqueles que preferem as ruas mais seguras, os restaurantes descolados e as lojas de estilistas locais.

Quando a sofisticada imobiliária Foxtons abriu um escritório ali, no ano passado, alguém pichou "Eca!" na fachada de vidro, embaixo de "Yuppies, voltem para casa".

"Há uma guerra de classes acontecendo via mercado imobiliário", diz Rowland Atkinson, da Universidade de York, que estuda a gentrificação. Ele explica que, historicamente, Londres sempre foi melhor que as outras capitais em termos de integração das diferenças sociais. Ao contrário de Paris, onde os guetos se espalham na periferia, na capital britânica os conjuntos habitacionais pipocam em todas as áreas, inclusive nas mais nobres, mas muitos desses apartamentos hoje têm dono.

Brixton surgiu durante a expansão do mercado imobiliário do século XIX, destinado à classe média que começava a crescer; no entanto, ao fim da Segunda Guerra Mundial, a maioria das casas tinham se tornado pensões. Em 1948, os imigrantes caribenhos começaram a se estabelecer ali. Conhecido pela boemia, a criminalidade e a pobreza, o bairro virou sinônimo, acima de tudo, de tensão racial. Em abril de 1981, no auge da recessão, ocorreu ali o primeiro grande tumulto.

Alex Wheatle estava lá. Era um sábado. A polícia tinha prendido um taxista sem nenhum motivo aparente. Dois dias de quebra-quebra se seguiram, deixando centenas de feridos e dezenas de detidos, inclusive Alex, na época com 18 anos. Hoje escritor, ele conta que a loja de discos onde costumava comprar discos jamaicanos se tornou um bar de sucos e tapas.

Será que Brixton está perdendo sua essência para a gentrificação? "Eu tenho cara de burguesa, moça?", respondeu Etta Burrell, que vende peixes e frutos do mar em seu restaurante.

Ela conta que teve um sonho um dia, em 2009. Mãe solteira, com três filhos para cuidar e vivendo da pensão do governo, achou uma nota no bolso da calça e resolveu comprar peixe; no fim do dia, as dez libras viraram cem.

Hoje, com 46 anos, Etta conta que vive em Brixton desde os nove — e viu o aluguel subir de 80 libras/mês, em 1990, para 600 libras/mês. O do restaurante também não para de subir, assim como o número de clientes.

"Levando tudo em consideração, Brixton se tornou um lugar melhor".

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