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As Olimpíadas de Inverno em Sochi neste ano foram em parte um exercício de relações públicas, tentando mostrar uma nova Rússia ao mundo, diz um ex-embaixador | doug mills/The New York Times
As Olimpíadas de Inverno em Sochi neste ano foram em parte um exercício de relações públicas, tentando mostrar uma nova Rússia ao mundo, diz um ex-embaixador| Foto: doug mills/The New York Times

Em 2006, executivos da empresa de relações públicas Ketchum voaram para Moscou para garantir uma conta que vale dezenas de milhões de dólares.

O Presidente Vladimir V. Putin, da Rússia, havia contratado a Ketchum para aconselhamento em relações públicas antes de a nação receber o Grupo dos 8 em São Petersburgo. Na época, Putin "preocupava-se muito com o que outros líderes, especialmente presidentes, pensavam dele", disse Michael A. McFaul, antigo embaixador dos Estados Unidos na Rússia, hoje professor da Universidade de Stanford, na Califórnia.

Os tempos mudaram. A escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia esfriou as relações com os Estados Unidos.

"Houve uma grande mudança de atitude", disse McFaul. "Eles decidiram: ‘Ok, já chega desses caras. Não nos preocupemos tanto com nossa reputação’".

A Ketchum, uma divisão da Omnicom, gigante de publicidade e marketing, encontra-se em uma situação delicada. Ela já teve dezenas de funcionários em pelo menos seis países trabalhando com a conta da Rússia. Agora há apenas 10 deles, disse Kathy Jeavons, parceira da Ketchum em Washington, que chefia a conta da Rússia.

Membros da equipe da Ketchum que continuam a trabalhar com a Rússia em Moscou, Washington, Nova York, Londres e Bruxelas devem evitar ser vistos como defensores de atos contrários aos interesses americanos, mas continuam a polir a imagem do lucrativo cliente.

"Estamos constantemente examinando e avaliando nossa interação com eles, como fazemos com qualquer cliente", disse Jeavons.

Do ponto de vista da Rússia, o relacionamento com a Ketchum faz todo o sentido, disse McFaul. Ele mencionou as Olimpíadas de Inverno em Sochi neste ano, que custaram dezenas de bilhões de dólares e foram, em parte, um exercício de relações públicas. Segundo McFaul, os jogos eram vistos como uma forma de "apresentar a nova Rússia ao mundo".

Angus Roxburgh, antigo consultor da Ketchum e jornalista da BBC e da revista The Economist, narra suas experiências de trabalho com a empresa em seu livro de 2011, "The Strongman: Vladimir Putin and the Struggle for Russia" (O Homem-forte: Vladimir Putin e a Luta pela Rússia, em tradução livre).

A Ketchum trabalhou com membros do círculo íntimo do líder russo, escreveu Roxburgh. Segundo ele, os oficiais russos acreditavam inicialmente que poderiam pagar por uma melhor cobertura, ou intimidar jornalistas para atingir esse objetivo. Mas, em vez disso, acabaram sendo persuadidos a levar repórteres para jantar. Porém, depois do assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, grande crítica do Kremlin que foi assassinada em circunstâncias misteriosas, eles pararam de se envolver com a mídia.

"Como o assassinato de Politkovskaya foi seguido pelo assassinato de Litvinenko", escreveu Roxburgh, referindo-se a outra morte misteriosa de um crítico do Kremlin em Londres, "e logo depois pela invasão russa da Geórgia, comecei a pensar se a razão pela qual o Kremlin havia decidido assumir uma agência de relações públicas ocidental era porque sabia de antemão que sua imagem estava prestes a afundar".

Nos arquivos do Departamento de Estado dos Estados Unidos que detalham o trabalho da Ketchum, consta que ela articulou com a revista Time a nomeação de Putin para Personalidade do Ano em 2007.

Jeavons defendeu o trabalho da sua empresa. "Se podemos facilitar a comunicação, no final das contas, isso só pode ajudar", ela disse. "Quer dizer, é por isso que estou neste negócio. Nem sempre é perfeito, nem sempre é preto no branco, mas acho que ajuda".

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