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A crise está piorando para os venezuelanos, que enfrentam uma inflação de 60 por cento ao ano | Carlos Garcia Rawlins/REUTERS
A crise está piorando para os venezuelanos, que enfrentam uma inflação de 60 por cento ao ano| Foto: Carlos Garcia Rawlins/REUTERS

A Brink’s, empresa de carros blindados, viu cerca de US$400 milhões em receita desaparecerem de suas operações neste país, somente este ano. A Procter & Gamble anunciou uma queda de US$275 milhões em seus negócios venezuelanos. American Airlines e Delta Air Lines estão reduzindo seus voos para a Venezuela.

"Este costumava ser um ambiente lucrativo para todos eles, mas isso parece estar mudando", declarou Carlos Tejera, gerente geral da Câmara Venezuelana e Americana do Comércio.

A Venezuela, antes um aparente centro de lucros para multinacionais, se parece cada vez mais com um buraco negro financeiro.

A crise econômica nesta nação aumentou desde que o presidente, Hugo Chávez, morreu em março do ano passado. O novo presidente, Nicolás Maduro, não vem conseguindo conter a forte inflação e outros problemas.

Empresas americanas sempre efetuaram vendas e obtiveram lucros em suas operações venezuelanas usando a taxa de câmbio principal, definida pelo governo. Durante anos, a moeda ficou supervalorizada, permitindo que empresas multinacionais apresentassem números fortes.

A alta inflação do país – atualmente em torno de 60 por cento ao ano – fez os preços em bolívares (que as empresas cobram por muitos bens e serviços) aumentaram acentuadamente. Isso tem impulsionado ainda mais os números de venda em bolívares, e exacerbado a distorção quando os valores são convertidos para o dólar.

"Tudo é espelho e fumaça", afirmou Jonathan M. Rosenthal, cofundador da Newfoundland Capital Management, fundo de investimento baseado em São Paulo, no Brasil, que mantém posições curtas na Brink’s, apostando que suas ações irão cair quando o impacto da crise na Venezuela sobre suas operações ficar mais evidente. Segundo ele, essa prestação de contas preencheu os livros de muitas empresas com "lucros fantasmas".

As empresas estão sentindo as dores de uma série de desvalorizações de moeda ao longo do último ano e meio.

Primeiro, o governo alterou a taxa de câmbio fixa para 6,3 bolívares por dólar, vindo de 4,3. Em seguida, criou-se uma taxa de câmbio de três camadas. A taxa primária de 6,3 bolívares é basicamente destinada à importação de bens essenciais, como alimentos e remédios. Então há uma taxa intermediária de 10,5 bolívares por dólar, disponível a empresas convidadas para participar em leilões do governo; e mais uma, criada no início deste ano, de 50 bolívares, destinada a todos os indivíduos e empresas – embora o acesso venha sendo bastante restrito.

No caso da Brink’s, registros da empresa mostraram que a receita venezuelana no ano passado, mensurada pela taxa de câmbio fixa do governo, foi de robustos US$447 milhões.

Mas o panorama alegre mudou no final de março, quando a Brink’s começou a calcular suas vendas usando a taxa de câmbio recém-criada de aproximadamente 50 bolívares por dólar. Se a taxa desvalorizada houvesse sido aplicada à receita do ano passado, ela encolheria 88 por cento – e o lucro operacional de toda a empresa teria caído 31 por cento.

Complicando ainda mais o quadro, o governo venezuelano não permitiu que as empresas repatriassem seus lucros pelos últimos cinco anos. Muitas empresas estrangeiras estão presas com montanhas de bolívares que perdem valor sempre que há uma desvalorização.

Em abril, a Procter & Gamble declarou que possuía o equivalente a US$900 milhões em dinheiro neste país, e que estava sofrendo uma depreciação de US$275 milhões após aplicar a taxa de câmbio intermediária do governo ao seu balanço venezuelano. A Colgate-Palmolive reduziu seu capital em US$174 milhões, e a Ford, em cerca de US$314 milhões.

Para essas multinacionais, os controles cambiais tornaram difícil obter os dólares de que precisam para importar bens, serviços, peças e outros materiais.

A DirecTV parou de aceitar novos clientes, pois não pode importar mais antenas. Ford e Toyota foram obrigadas a fechar temporariamente suas fábricas.

Tejera afirmou: "Tudo indica que essas empresas precisarão dar uma boa olhada no que está acontecendo aqui e tomar uma decisão, pois isso é insustentável".

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