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Twm Morys cozinhava cenouras quando parou tudo momentaneamente para recitar um canto de batalha do século XV em galês. Marcando as consoantes guturais batendo o pé no chão, Morys, poeta, disse que estava na hora de "botar fogo na barriga" de seu povo.

Nas antigas montanhas que pairam sobre esta cidade litorânea no norte do País de Gales, onde oito em cada dez pessoas falam a língua céltica nativa, os nacionalistas galeses têm os olhos voltados na independência, na independência escocesa, é claro.

"Se a Escócia votar sim, o gênio vai sair da garrafa", disse Leanne Wood, líder do partido nacionalista galês Plaid Cymru. Somente um em dez eleitores galeses apoia a independência, comparados a perto de quatro em dez na Escócia, mas Wood acredita que isso poderia mudar.

Tremores provocados pelo debate escocês já podem ser sentidos pela Grã-Bretanha. Independentemente do que ocorrer em 18 de setembro, demandas crescentes por mais autonomia regional vão dar novo formato ao país. Na Irlanda do Norte, nacionalistas veem uma oportunidade de reviver os sonhos de uma Irlanda unida. A Cornualha ganhou recentemente o status de minoria para os habitantes celtas. Até mesmo o norte inglês está questionando a concentração cada vez maior de riqueza em Londres e no sudeste. Contudo, no País de Gales, talvez mais do que em qualquer outro lugar, os nacionalistas apostaram as fichas de que a independência escocesa vai agitar paixões.

Desde que Margaret Thatcher, primeira-ministra conservadora, fechou suas indústrias pesadas, eleitores escoceses e galeses têm votado à esquerda dos ingleses. Segundo Peter Florence, diretor do festival literário de Hay, existe a sensação comum de não ser representado em Westminster.

Entretanto, o País de Gales é menor e mais pobre do que a Escócia. A região não tem petróleo para compensar os subsídios londrinos que mantêm os serviços públicos. Gerald Holtham, um dos mais famosos economistas galeses, fez as contas: os gastos totais no País de Gales somam 30 bilhões de libras esterlinas por ano, mas a receita advinda de imposto é de 17 bilhões. "Estamos falando em um déficit de um quarto do tamanho da economia", ele disse.

"Nunca uma nação administrou bem a outra", afirmou Adam Price, famoso defensor da independência. "Somos pobres porque não somos independentes, não é o contrário".

Contudo, ele também reconheceu que a hora da independência galesa ainda não chegou. Para Price, primeiro "temos de aprender a ser novamente uma nação".

Ao contrário da Escócia, cujo Parlamento aprovou a união com a Inglaterra há três séculos, o País de Gales foi conquistado em 1282. Os escoceses mantiveram seu sistema jurídico, escolas, universidade, igreja e, com tudo isso, uma forte identidade cívica distinta da inglesa. Todas as instituições galesas foram engolidas.

Deter o declínio do idioma galês – somente um em cinco galeses fala a língua – é o maior triunfo do nacionalismo local, mas isso também dividiu um país de três milhões de habitantes entre aqueles que falam galês e os que não falam, principalmente nas regiões rurais do norte e do oeste. Porém, a hostilidade contra a língua vem declinando, e o apetite por autonomia vem crescendo.Em 2011, dois a cada três eleitores queriam ampliar os poderes legislativos da assembleia.

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