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O novo livro de Mitchell reúne “fios” de obras anteriores e pode ser base para futuros romances | eoin o’conaill/The New York Times
O novo livro de Mitchell reúne “fios” de obras anteriores e pode ser base para futuros romances| Foto: eoin o’conaill/The New York Times

Se você for a um pequeno vilarejo pesqueiro perto de Clonakilty, Irlanda, e perguntar sobre o escritor que mora lá, invariavelmente as pessoas o levarão até David Mitchell. "Sou o único romancista local", disse Mitchell em uma entrevista recente por telefone. O isolamento é conveniente para ele. "Eu vivo com medo de que pessoas venham me procurar", comentou.

Sua paranoia pode ser justificada. Na última década, Mitchell evoluiu de um autor cultuado por poucos fãs para uma personalidade do mundo literário cuja obra tem sido comparada aos legados de Nabokov, Pynchon e Dostoiévski. Ele já lançou seis romances, dos quais cinco ficaram entre os finalistas do Man Booker Prize, incluindo o mais recente, "The Bone Clocks" [os relógios de ossos]. Seu romance de 2004, "Cloud Atlas" [atlas das nuvens], vendeu 1 milhão de exemplares na América do Norte e ganhou uma adaptação cinematográfica com o título de "A Viagem". Acadêmicos e fãs ardorosos leem atentamente seus livros e vão em peso a conferências que abordam temas como "Narratologia e a Obra Multiversada de Mitchell".

"Multiversado" pode soar como um termo metafísico empolado em referência a um romancista, mas fãs e estudiosos dizem que ele descreve bem certos livros de Mitchell, que englobam séculos, continentes e gêneros literários.

"The Bone Clocks" serve de chave para um quebra-cabeça narrativo maior que Mitchell vem criando. "A semente da história é minha crise iminente da meia-idade e exploro o que eu estaria disposto a fazer para driblar o envelhecimento e a morte", explicou Mitchell, que é inglês, tem 45 anos e vive com a mulher, K. A. Yoshida, e os dois filhos.

A história começa em 1984 na Inglaterra, onde uma adolescente, Holly Sykes, é enredada em uma guerra oculta que se desenrola há séculos. No estilo típico de Mitchell, a narrativa salta para o Iraque atual, os Alpes suíços medievais, o sertão australiano no século 19, uma casa em Manhattan e, por fim, chega a um vilarejo irlandês em 2043, onde Holly já está idosa e luta para proteger seus netos.

Em sua resenha sobre "The Bone Clocks" no Times, Michiko Kakutani escreveu: "O surgimento de Holly como a personagem mais comovente e memorável já criada por Mitchell comprova suas habilidades como um realista à moda antiga, que se move furtivamente sob o alvoroço da superfície pós-moderna de sua ficção e que neste romance arrebatador, porém inflado, consegue transcender o absurdo do sobrenatural".

Torna-se claro rapidamente que "The Bone Clocks" é a parte mais recente de uma história bem maior, uma tapeçaria que reúne fios condutores de seus livros anteriores e, provavelmente, cria a base para futuros romances.

Hugo Lamb, o adolescente insensível de "Black Swan Green" [cisne negro novato], o romance semi-autobiográfico de Mitchell, ressurge como um jovem que faz um pacto faustiano com um conluio sombrio. E há várias outras personagens retomadas pelo autor.

"De certa forma, estou montando o que passei a chamar de uma maneira pretensiosa de ‘überlivro’ a partir de romances com numerosas ramificações", disse Mitchell, "pois sou megalomaníaco e gosto da ideia de escala máxima."

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