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Em 2010, o romancista Daniel Alarcón, 36 anos, foi incluído na lista "20 com menos de 40" de jovens promissores escritores norte-americanos, publicada pela revista "The New Yorker". Três anos antes seu nome aparecera numa lista similar de romancistas latino-americanos, a "Bogotá 39", mas desta vez como peruano. Como Alarcón acaba de publicar o romance "At Night We Walk in Circles", um relato das desventuras de uma trupe de teatro em turnê pelos Andes, parece pertinente fazer a pergunta: ele é um escritor peruano ou norte-americano? Alarcón responde rapidamente: por que eu deveria ter de escolher entre as duas coisas? "Acho que sou um escritor norte-americano que escreve sobre a América Latina, e sou um escritor latino-americano que, por acaso, escreve em inglês", ele falou recentemente em sua casa.

Desse ponto de vista, Alarcón criou retratos de sociedades à beira do caos, muitas vezes como resultado da guerra civil. Deborah Treisman, editora de ficção da "New Yorker", que publicou várias de suas histórias, afirmou que Alarcón está "tentando fazer algo muito ambicioso, que é pegar a inseparabilidade das artes e da política na América Latina e mostrar como elas interagem e dão forma à vida das pessoas".

Pairando sobre seus primeiros dois livros, a coletânea de contos "War by Candlelight" e o romance "Rádio Cidade Perdida", encontra-se o espectro do tio Javier Alarcón Guzmán, professor e sindicalista que desapareceu e teria sido morto pelas forças de segurança peruanas, em 1989, e virou tema de campanha da Anistia Internacional. "A primeira coisa quase madura que escrevi foi sobre isso e o telefonema que recebemos", disse Alarcón. "Eu me lembro de ouvir o telefone tocando pela casa à uma hora da manhã, e de escutar meu pai gritando" com a notícia.

Nascido em Lima, Alarcón cresceu nos arredores de Birmingham, Alabama, onde os pais, ambos médicos, o mandaram a uma escola de ensino médio progressista. A língua espanhola era falada em casa e os verões foram passados no Peru, onde a guerrilha maoísta do Sendero Luminoso mergulhou o país numa espécie de guerra civil. Porém, Alarcón descreve sua "infância muito maravilhosa" como sendo apenas típica de um subúrbio norte-americano na década de 1980.

Alarcón disse que o novo romance começou como uma espécie de ruminação "e se" sobre a trajetória de sua família. "E se tivéssemos ficado no Peru?", ele questionou, referindo-se ao que chamou de "experiência de pensamento". "O que teria acontecido comigo? Eu não teria ganhado um visto; não poderia ter ido a lugar algum." o idioma espanhol, ele escreveu um romance gráfico chamado "Ciudad de Payasos" e colabora regularmente com a revista limenha "Etiqueta Negra", especializado em jornalismo investigativo, ensaios e perfis.

"Gosto bastante dessa voz", disse Alarcón a respeito de escrever em espanhol. "É simples, direta ao ponto e mais silenciosa." No ano passado, Alarcón e a esposa, Carolina Guerrero, também inauguraram um podcast em espanhol, Radio Ambulante, que ele descreveu como "’This American Life’ em espanhol". O programa é transmitido por rádio nos Estados Unidos, México, Colômbia, Argentina, e pode ser ouvido na BBC Mundo. Uma dos amigos peruanos de Alarcón, Julio Villanueva Chang, editor da "Etiqueta Negra", vê apenas vantagens em o escritor "ter um pé aqui e outro ali". O editor compara esse fato à maneira como o escritor circula entre ficção e não ficção. "Ele trabalha em dois universos que têm suas próprias regras", disse.

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