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Bobby Hadid, um ex-policial, ficou desiludido com seu trabalho de recrutar muçulmanos como informantes | Ozier Muhammad/The New York Times
Bobby Hadid, um ex-policial, ficou desiludido com seu trabalho de recrutar muçulmanos como informantes| Foto: Ozier Muhammad/The New York Times

Um homem era um vendedor de comida de rua do Afeganistão, preso numa discussão por uma multa de estacionamento proibido. Outro era um motorista de limusine nascido no Egito, pego numa operação contra prostituição. Outro, um estudante de contabilidade do Paquistão que dirigia sem habilitação válida.

Os homens, todos imigrantes muçulmanos, passaram por provações semelhantes: esperaram em celas de delegacia de Nova York, aguardando para enfrentar as acusações, apenas para serem puxados de lado e interrogados por detetives. As perguntas eram sobre onde eles iam a mesquitas e quais eram seus hábitos de oração. No fim, os detetives chegaram ao ponto: eles estariam dispostos a trabalhar para a polícia, escutando conversas em cafés e restaurantes muçulmanos, ou em mesquitas?

Alguns anos depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, um esquadrão de detetives, conhecido como Citywide Debriefing Team, vem vasculhando as cadeias municipais por imigrantes – principalmente muçulmanos – que possam ser persuadidos a se tornar informantes da polícia, segundo documentos obtidos pelo "The New York Times", através de entrevistas com ex-membros da unidade e policiais. Em abril, o Departamento de Polícia anunciou ter desmantelado uma unidade que havia enviado detetives à paisana a comunidades muçulmanas para criar arquivos detalhados sobre onde as pessoas comiam, rezavam e faziam compras. Mas a continuidade de existência da equipe mostra que o departamento está persistindo com as iniciativas de contraterrorismo.

Bayjan Abrahimi, o vendedor de comida de rua afegão, contou que três detetives vieram interrogá-lo na delegacia do Harlem, onde ele estava sendo mantido. Eles queriam saber "sobre a Al Qaeda, você conhece estas pessoas?" recordou Abrahimi, de 31 anos. Os detetives lhe perguntaram sobre a mesquita que ele frequentava e as nacionalidades de outros muçulmanos que rezavam lá. Eles queriam saber sobre seu irmão, um motorista de táxi em Mazar-i-Sharif, no leste do Afeganistão. No fim, fizeram-lhe uma proposta: ele estaria disposto a visitar mesquitas na cidade e reunir informações, talvez até mesmo viajar ao Afeganistão? "Eu disse ‘Tudo bem, tudo bem’, pois queria acabar com aquilo", afirmou Abrahimi. "Naquele momento, eu estava realmente assustado".

Após sua soltura, Abrahimi nunca mais teve notícia dos detetives.

Segundo Moro Said, o motorista de limusine egípcio preso por acusações de prostituição, um policial ofereceu fazer seu caso desaparecer. "Se você nos ajudar, tudo ficará bem", teria dito o homem. "Ele disse, ‘Apenas vá ao café, à mesquita, e nos diga se alguém está falando alguma coisa suspeita’".

Autoridades policiais declararam que a unidade gerou uma série de casos importantes. Ela foi fundamental, disseram eles, para identificar um informante posteriormente envolvido no caso contra Jose Pimentel, um homem em Manhattan que havia se tornado fascinado pelo militante muçulmano (e nascido nos Estados Unidos) Anwar al-Awlaki, e mais tarde se declarou culpado numa acusação de terrorismo. Em 2007 e 2008, os 10 investigadores da unidade conduziram mais de 1.000 entrevistas. Bobby Hadid, ex-sargento da unidade e ele mesmo um imigrante muçulmano da Argélia, contou que já se sentia desconfortável com o que ele e seus colegas estavam fazendo. Hadid acabou sendo removido da divisão, após ser condenado por perjúrio num caso sem relação com seu trabalho antiterrorismo. Segundo ele, toda manhã os detetives recebiam uma lista de imigrantes, catalogados por país de origem, que haviam sido presos no dia anterior. Presos de países muçulmanos atraíam o maior interesse. Nem toda entrevista terminava com um prisioneiro concordando em se tornar informante.

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