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Após capturar território iraquiano, o Estado Islâmico declarou um califado. Militantes na Síria festejam a declaração do grupo | reuters
Após capturar território iraquiano, o Estado Islâmico declarou um califado. Militantes na Síria festejam a declaração do grupo| Foto: reuters

Enquanto a guerra civil síria corria solta, um islamita kuaitiano, Ghanin al-Mteiri, canalizou dinheiro de doadores no golfo Pérsico para a organização filiada à Al Qaeda presente na Síria, na esperança de que derrubasse o governo e deitasse as bases de um Estado islâmico.

Assim, Mteiri ficou consternado quando o Estado Islâmico tomou uma parte da Síria, invadiu o Iraque e não apenas declarou-se um califado como exigiu que todos os muçulmanos jurassem fidelidade a seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi.

Pela primeira vez em mais de duas décadas, a Al Qaeda de Osama bin Laden está diante de uma organização jihadista rival dotada dos recursos e da influência necessários para ameaçar seu status de movimento símbolo do extremismo violento.

Os setores ainda aliados à Al Qaeda acham que o novo grupo será vítima das mesmas táticas que o tornaram ao mesmo tempo inimigo do Ocidente e de Ayman al-Zawahri, o líder da Al Qaeda.

Embora muitos tenham tachado de mera propaganda o anúncio do Estado Islâmico de que tinha fundado um califado, a ascensão do grupo em apenas um ano, partindo do nada, criou um choque em torno de ideologia e uma divisão geracional, eletrizando um novo grupo de jihadistas radicais com sua ênfase sobre uma guerra sectária.

"Está claro que a primeira e segunda gerações que criaram a Al Qaeda estão, na maioria, apoiando Zawahri, mas que a nova geração é mais radical e mais próxima do Estado Islâmico", disse Hassan Abu Hanieh, especialista em movimentos islâmicos.

A Al Qaeda criticou o Estado Islâmico por matar civis e combater outros muçulmanos. Essa rivalidade perturbou a paisagem jihadista e alimentou novas discussões sobre como travar a jihad e como exatamente deve ser um Estado islâmico.

"Agora que existe um califado de fato, com um califa, muitos muçulmanos vão ter que discutir o que isso significa, e haverá algum apoio", disse Shadi Hamid, do Brookings Institution.

A liderança central da Al Qaeda vem perdendo poder e influência há anos. Zawahri, que assumiu a liderança após a morte de Bin Laden, é visto amplamente como estando distanciado dos militantes mais jovens e destituído do carisma necessário para inspirá-los.

Essa nova geração foi cortejada pelas campanhas de mídia social do Estado Islâmico e acha sua abordagem ativista à criação de um Estado mais inspiradora que a visão de longo prazo da Al Qaeda.

"A Al Qaeda é uma organização. Nós somos um Estado", disse um combatente do Estado Islâmico que deu seu nome em um bate-papo on-line como sendo Abu Omar. "Osama bin Laden, que Deus tenha piedade dele, lutava para estabelecer o Estado islâmico para governar o mundo, e nós, graças a Deus, realizamos esse sonho."

Outros ironizam a iniciativa do grupo e a veem como pouco mais que bravata.

"Al-Adnani anunciou o califado!" escreveu no Twitter um pregador jihadista em Londres, Hani al-Sibai. "Ou você jura fidelidade ou retorna a Saturno!"

O grupo, então conhecido como EIIL (Estado Islâmico no Iraque e no Levante) nasceu dos remanescentes da Al Qaeda no Iraque, que aproveitou o vácuo criado pela guerra civil síria para acumular recursos e recrutar combatentes.

Seu avanço no Iraque no mês passado aproveitou uma onda de indignação entre os sunitas iraquianos com as políticas discriminatórias do primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki. Esse avanço criou um dilema para alguns islamitas que tinham criticado a violência do EIIL em relação a grupos rebeldes na Síria, mas agora viam a organização como defensora dos sunitas iraquianos.

Muitos dos aliados atuais do Estado Islâmico apreciam sua ajuda no combate a um inimigo comum, mas rejeitam sua ideologia. Isso significa que, se tentar afirmar sua autoridade, o grupo pode enfrentar resistência acirrada.

Refletindo essas tensões latentes, o xeque Zaydan al-Jabiri, chefe da ala política do Conselho de Revolucionários Tribais do Iraque, afirmou: "Enquanto o Estado Islâmico defender os mesmos princípios que as tribos, estaremos juntos". Mas, quando ouviu uma gravação de um porta-voz do grupo anunciando o califado, o xeque Jabiri chamou o porta-voz de "filho de um cão" e disse que as tribos já eram muçulmanas e não deixariam ninguém governá-las em nome do islã.

Mteiri, o islamita kuaitiano, comentou: "Todos nós sonhamos com um Estado islâmico, mas queremos um islã político, capaz de ficar em pé e não ser apagado do mapa. As grandes potências nunca vão aceitar isto, e elas são maiores e mais fortes".

Colaboração de Hwaida Saad, Karam Shoumali e Ranya Kadri

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