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 | fotografÍas de gilles sabrie para The New York Times
| Foto: fotografÍas de gilles sabrie para The New York Times
  • Minas de carvão foram fechadas e uma rodovia teve seu trajeto desviado para reduzir a chuva ácida que corrói o arenito das Grutas de Yungang, esculpidas na China nos séculos 5° e 6°

As colossais estátuas de Buda nas cavernas de penhascos perto desta cidade do norte da China, esculpidas nos séculos 5° e 6° em arenito por conquistadores nômades de língua turcomana, estavam tão recobertas de pó de carvão que nuvens pretas se elevavam quando visitantes assopravam sobre elas.

Conhecidas como as Grutas de Yungang, as relíquias sobreviveram à ascensão e queda de dinastias, às guerras modernas e à Revolução Cultural. Mas o flagelo de uma China mais próspera, a poluição, está erodindo o arenito.

Autoridades e preservacionistas lançaram um esforço para proteger as estátuas, numa iniciativa que pode tornar-se um modelo para salvar antiguidades.

Não apenas limparam as estátuas e criaram um parque, como fecharam minas de carvão e removeram ou regulamentaram outras fontes de poluição aérea.

"Você não sabe como a situação era péssima antes", disse Huang Jizhong, engenheiro-chefe do Escritório de Relíquias Culturais da Província de Shanxi.

De acordo com relatos na imprensa chinesa, entre as antiguidades danificadas pela chuva ácida estão o Buda monumental de Leshan, na Província de Sichuan, e uma estátua de 800 anos de idade de Guanyin, uma figura budista reverenciada, em Dazu.

Um professor universitário em Guangzhou avisa que a chuva ácida está erodindo as construções de arenito vermelho da dinastia Ming na cidade. Mesmo os guerreiros de terracota de Xi’an, um símbolo da civilização chinesa, podem estar em risco.

O professor Lee Shun-cheng, da Universidade Politécnica de Hong Kong, pediu que sejam erguidas paredes de vidro em volta dos guerreiros, hoje protegidos apenas por um teto.

"Todas essas coisas têm algo em comum: sofrem o efeito do ar e da água", disse Huang.

Grande parte do problema se deve ao carvão. A queima do combustível emite dióxido sulfúrico, que se combina com a água para produzir ácido sulfúrico.

Nos anos 1980 e 1990, à medida que a indústria do carvão emShanxi impulsionava o crescimento na China, o impacto da chuva ácida e da poluição do ar sobre as estátuas foi "severo", disse Liu Xiaoquan, do Instituto de Pesquisas das Grutas de Yungang.

Uma rodovia passava diante das grutas, onde 51 mil estátuas ocupam 254 nichos e cavernas. Até 20 mil caminhões carregados de carvão passavam por ela todos os dias. Os moradores dos arredores queimavam carvão para cozinhar e aquecer suas casas.

Os esforços de restauração começaram na década de 1990, sob o impulso de um pedido para que o sítio ganhasse status de Patrimônio Mundial da Unesco.

Em 1998, as autoridades mudaram o trajeto da rodovia e proibiram seu uso por caminhões de carvão. Cerca de dez minas foram fechadas, segundo Huang, e as autoridades transferiram 4.750 famílias para fora da área.

O pó de carvão que revestia as estátuas foi tirado com pincéis macios. Muitos dos Budas agora aparecem na glória dourada visualizada por seus criadores.

Em algumas estátuas, a pintura acrescentada em dinastias posteriores voltou a ser visível. A maior de todas, um Buda sentado de 17 metros de altura, tem o rosto pintado com uma camada de ouro.

As grutas foram designadas Patrimônio Mundial em 2001, e em 2008 foram iniciados novos trabalhos. Ônibus de turismo foram proibidos de transitar pela rodovia vizinha, o parque foi ampliado e árvores foram plantadas.

O parque recebe entre 1,5 milhão e 2 milhões de visitantes por ano, disse Liu, sendo que menos de dez anos atrás recebia 500 mil.

Os trabalhos mais intensos de preservação e restauração são realizados em quatro das cavernas mais deslumbrantes. Operários estão construindo tetos para proteger as estátuas da chuva.

Depois disso, parte da pintura será restaurada. A última vez em que a caverna foi pintada foi na dinastia Qing, que governou a China do século 17 ao início do século 20.

Os restauradores também estão procurando fazer registros digitais de todas as obras de arte. O que as autoridades chinesas não conseguiram ou não estão dispostas a controlar são os níveis estratosféricos de poluição do ar.

A agência de notícias Xinhua informou que no início de 2013, 135 cidades foram atingidas por chuva ácida, sendo que 23 foram gravemente afetadas. De acordo com Huang, "a poluição atual do ar ainda representa uma ameaça".

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