Cílios longos e exuberantes estão na moda pelo menos desde Cleópatra. Mas os cientistas agora sugerem que sua verdadeira função é ajudar a evitar que os olhos ressequem.
David Hu, do Instituto de Tecnologia da Geórgia, decidiu investigar os cílios depois de ver sua filha recém-nascida piscando pela primeira vez. Ele recrutou alunos de pós-graduação de seu laboratório de Biomecânica e outros colegas para participar da investigação. Eles mediram os cílios de diferentes mamíferos — a maioria desses animais os possui. Fizeram um olho artificial com cílios, colocaram-no em um túnel de vento, onde o ar começou a soprar. E criaram modelos matemáticos do fluxo do ar pelos fios.
Eles descobriram que em uma grande variedade de mamíferos, os cílios são sempre cerca de um terço mais longos do que o comprimento do olho, o que foi visto como o tamanho ideal para desviar o fluxo de ar em volta do olho e reduzir a evaporação.
Hu, Guillermo J. Amador e vários outros pesquisadores, todos do Georgia Tech, publicaram suas descobertas no Journal of the Royal Society Interface.
Steven Vogel, professor emérito da Universidade Duke, na Carolina do Norte, que estuda problemas semelhantes em Biomecânica, disse que agora “sabemos por que os cílios têm esse comprimento”.
No passado, os cientistas propuseram diferentes explicações para sua existência, incluindo a proteção do olho contra a poeira e atuando como sensores para acionar a piscada, que ajuda a proteger os olhos e mantê-los lubrificados.
E claro, em humanos, pensou-se também que eles teriam um papel no sexo e sedução, ou, em termos biológicos, no acasalamento. Todas essas funções podem ser verdadeiras, disse Hu, mas mudar o fluxo de ar ao redor dos olhos é tão importante que, desde elefantes até coelhos, a proporção entre o comprimento dos fios e a largura do olho não muda.
A pesquisa começou com medições de cílios de 22 espécies de animais preservados no Museu Americano de História Natural. Essas medições mostraram a constante relação com o tamanho do olho.
Os modelos matemáticos de fluxo de ar mostraram que esse comprimento, um terço da largura do olho, é o mais eficiente para desviar o fluxo de ar. As experiências no túnel de vento reforçaram a conclusão.
Os pesquisadores usaram um recipiente de água do tamanho de um olho, com um círculo de malha em torno dele para imitar os cílios. Primeiro determinaram que essa malha funcionaria como cílios postiços feitos com cabelo humano.
O comprimento real dos cílios dos mamíferos funcionou melhor para evitar a evaporação da água e para evitar que as partículas que correntes de ar carregam pousassem nela. Se os cílios são muito longos, disse Hu, eles canalizam ar para o olho.
Além de satisfazer sua curiosidade e fornecer uma preocupação potencial para quem utiliza longos cílios postiços, Hu disse que a pesquisa pode ter alguma aplicação em painéis solares, que sofrem de redução da eficiência quando partículas se depositam neles.
E isso, segundo Vogel, é um exemplo do que Hu faz de melhor. No passado, ele estudou o tempo que leva para mamíferos esvaziarem a bexiga e a frequência na qual os cães molhados se sacodem.
Ele tem um talento, disse Dr. Vogel, para “olhar o que todo mundo olha e ver o que ninguém vê”.
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