• Carregando...
Operários trabalham na construção do metrô em Adis Abeba, um de muitos projetos de infraestrutura em curso na Etiópia | Tiksa Negeri/Reuters
Operários trabalham na construção do metrô em Adis Abeba, um de muitos projetos de infraestrutura em curso na Etiópia| Foto: Tiksa Negeri/Reuters

Escavadeiras, tratores e guindastes estão ocupados dia e noite, pavimentando novas estradas, levantando arranha-céus de vidro e construindo um novo sistema de trem para ligar as extremidades da cidade.

Em menos de cinco anos, o perfil desta capital mudou drasticamente. “O governo modificou suas políticas”, disse Abiy Gebeyehu, gerente de empreendimentos imobiliários na construtora Sunshine. “Ele agora está contratando empresas privadas.”

Três décadas depois de uma penúria que levou alguns dos principais astros mundiais da música a angariar dinheiro com a canção “We Are the World”, a Etiópia se recuperou. Ela teve um crescimento econômico médio de 10% durante mais de uma década e alcançou várias metas de desenvolvimento da ONU. Alguns economistas passaram a chamar o país de “leão africano”, em alusão às histórias de sucesso dos tigres econômicos da Ásia. Além disso, até 2035, o governo pretende transformar a Etiópia em um país de renda média.

Mas os críticos dessa história de crescimento econômico denunciam abusos aos direitos humanos e a falta de uma verdadeira democracia. “Quando uma sociedade não é livre, o desenvolvimento não é sustentável”, disse Obang Metho, do Movimento Solidariedade para uma Nova Etiópia, grupo de defesa dos direitos civis.

“Não é um investimento na capacidade humana da população, mas somente em infraestrutura e oportunidades que beneficiam, antes de tudo, os interesses estreitos dos partidários do regime.”

Casas de lata em bairros degradados ainda podem ser vistas ao redor da capital, os cortes de eletricidade são comuns, a internet é lenta e as telecomunicações não são confiáveis. Seguindo o exemplo de países como Coreia do Sul e China, o governo tem grande participação na economia. Ele se expandiu nas áreas de serviços, infraestrutura, educação e saúde, tomando empréstimos junto a bancos estatais e administrando a ajuda ao desenvolvimento fornecida por EUA, Reino Unido e outros países.

Uma economia que já dependeu do café como principal fonte de renda hoje vê sua companhia aérea nacional, Ethiopian Airlines, como principal geradora de divisas. O país também está construindo a maior usina hidrelétrica da África, a Grande Represa do Renascimento Etíope.

“Nossa luta é o combate à pobreza”, disse Haji Gendo, porta-voz do Ministério das Finanças e Desenvolvimento Econômico.

As remessas da diáspora etíope e os investimentos de países como China, Índia, Turquia, Suécia e Reino Unido, “atraídos pelo mercado de trabalho de baixo custo do país”, ajudaram a economia a crescer, especialmente nos setores têxtil e de couro.

Mas projetos de desenvolvimento que fazem parte de um plano para expandir a capital para áreas fora da cidade causaram revolta e choques.

No ano passado, protestos provocaram pelo menos nove mortes. Em outras partes do país, o deslocamento e as relocações de populações para grandes projetos de barragens e agrícolas também incitaram o descontentamento.

“Embora a Etiópia precise de desenvolvimento, a abordagem do governo não deixa espaço para dissidência ou oposição a suas políticas”, disse Felix Horne, pesquisador da Human Rights Watch. “Por todo o país, os cidadãos são habitualmente deslocados por projetos de desenvolvimento, e há pouca consulta ou indenização pela perda de suas terras.”

Alguns economistas também questionam por quanto tempo o capitalismo dirigido pelo Estado poderá se manter na Etiópia.

“Esse tipo de modelo econômico funcionou muito bem para o país”, disse Guang Z. Chen, diretor local do Banco Mundial. “A questão é: pode-se continuar com esse modelo sem modificá-lo nos próximos dez anos? Nosso argumento é que não.”

A Etiópia foi de modo geral poupada de ataques terroristas como os que atingiram o Quênia. E continua sendo uma ilha de relativa estabilidade em um ambiente convulsionado, que inclui Sudão, Sudão do Sul e Somália.

Um motorista de táxi que fazia um zigue-zague com seu Lada azul soviético em meio a um congestionamento na cidade explicou as raízes do sucesso econômico do país: “Não temos mais guerra”.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]