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O templo da Igreja Universal do Reino de Deus, em São Paulo, levou quatro anos para ser construído, a um custo de aproximadamente US$300 milhões | Daniel Kfouri para The New York Times
O templo da Igreja Universal do Reino de Deus, em São Paulo, levou quatro anos para ser construído, a um custo de aproximadamente US$300 milhões| Foto: Daniel Kfouri para The New York Times

A construção ocupa um quarteirão inteiro desta fervilhante megalópole: uma versão do Templo de Salomão com 10 mil lugares.

O enorme complexo de 11 andares acena com paredes monumentais de pedras importadas de Israel e bandeiras das dezenas de países onde sua proprietária, a Igreja Universal do Reino de Deus, vem nutrindo um império cristão evangélico.

Um heliporto permitirá que Edir Macedo, o magnata da mídia de 69 anos que fundou a Igreja Universal numa casa funerária do Rio de janeiro, em 1977, apareça para sermões.

A réplica do Templo de Salomão, que levou quatro anos para ser construída a um custo de aproximadamente US$300 milhões, captura o amplo crescimento da fé evangélica no Brasil. Embora este país de 200 milhões de habitantes ainda tenha mais católicos romanos do que qualquer outra nação, o número de evangélicos atingiu 22 por cento da população em 2010, frente a 15 por cento em 2000, segundo números do censo.

Grandes igrejas evangélicas, especialmente instituições pentecostais como a Universal, também estão exercendo maior influência política em todo o Brasil, refletindo um bloco considerável de voto evangélico no Congresso e os esforços de candidatos de todo o espectro político para apelar aos eleitores evangélicos nas eleições presidenciais deste ano.

Ninguém remodelou o panorama da fé do Brasil como Macedo, um comunicador religioso com fortuna pessoal estimada em US$1,2 bilhão. Ele saiu da obscuridade através de seu controle da Rede Record, uma das maiores emissoras de televisão do Brasil, e sua agressiva expansão da Igreja Universal – durante a qual enfrentou acusações de corrupção, incluindo evasão fiscal e lavagem de dinheiro.

Macedo ficou preso por 11 dias em 1992, acusado de fraude. Afastou com sucesso outras investigações criminais, incluindo alegações de promotores de que ele e outros líderes de igrejas estariam desviando doações de fiéis para enriquecimento próprio.

A réplica do Templo de Salomão inclui um grande menorá perto da entrada. "Existe apenas uma fé bíblica; é impossível desvincular o cristianismo de suas raízes judaicas", afirmou Cássia Duarte, porta-voz da igreja.

Segundo estudiosos, a promoção do simbolismo judaico pela Universal em sua réplica do Templo de Salomão deriva de uma busca por legitimidade histórica numa igreja que existe há apenas 37 anos.

"Macedo foi um pioneiro em enxergar símbolos e rituais ligados ao Velho Testamento e ao Judaísmo como peças vitais na criação de uma igreja capaz de capturar mentes e corações", explicou Rodrigo Franklin de Sousa, da Universidade Mackenzie, em São Paulo.

"Esse templo monumental será um poderoso símbolo do Brasil como o epicentro do pentecostalismo global, e da Igreja Universal como a principal congregação desafiando a Igreja Católica no Brasil", argumentou R. Andrew Chesnut, da Universidade Virginia Commonwealth.

Embora a Igreja Universal projete sua influência através da emissora de televisão de Macedo e sua rede de operações em mais de 100 países, a instituição enfrenta rivais importantes no Brasil que adotaram estratégias similares de expansão.

Segundo Ricardo Mariano, sociólogo da Universidade de São Paulo, a Universal recentemente perdeu algum espaço no Brasil, com seus membros caindo de 2,1 milhões, em 2000, para 1,8 milhão em 2010 – mesmo com os evangélicos tendo crescido em proporção ao resto da população no mesmo período.

"O templo é tão enorme, tão lindo, mas também tão cheio de ostentação", apontou recentemente Solange Barbosa de Nascimento, de 58 anos, costureira que frequenta outra igreja evangélica brasileira, chamada Paz e Amor. "Eu me pergunto se eles poderiam ter investido todo esse dinheiro de outra forma, simplesmente cuidando dos pobres".

Mariana Simões contribuiu com a reportagem

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