• Carregando...
 | Boyoun Kim/
| Foto: Boyoun Kim/

Em 2015, a descrição que melhor se aplica ao hajj, peregrinação que leva milhões de muçulmanos a Meca, na Arábia Saudita, é “O Ano do Desenvolvimento”, destacando as grandes mudanças econômicas e sociais no reino.

Com as finanças abaladas pela queda do preço do petróleo no mundo, o objetivo nacional é melhorar a infraestrutura e o desenvolvimento comercial, incluindo a construção de novos hotéis por grupos como Marriott, Carlson Rezidor e InterContinental.

Só que, com toda essa expansão, surge a dúvida: será que as executivas estrangeiras podem trabalhar em uma cultura onde, por exemplo, uma mulher saudita foi detida em dezembro por assistir a uma partida de futebol? Onde elas não podem nem dirigir?

Sim, mas é preciso planejamento e agilidade, afirma Nancy J. Ruddy, uma das fundadoras da CetraRuddy, escritório de arquitetura de Nova York que está trabalhando no projeto de um hotel cinco estrelas em Jedá – o Galleria, que inclui um centro de compras e que será inaugurado ainda este ano.

O esquema básico da sociedade saudita já é conhecido; por causa dele, até os restaurantes são divididos, com mulheres e crianças sentadas em uma seção diferente da dos homens, mas há outras dificuldades, pouco conhecidas, que as mulheres enfrentam trabalhando no país.

“O mais óbvio é ter que usar essa roupa, a tal da abaya, e se cobrir, mas há detalhes superbásicos no resto do mundo, mas não aqui, como a disponibilidade de banheiros, por exemplo”, conta Nancy.

A maioria das reuniões de que ela participou com a construtora, que pertence à família real saudita, foi em um edifício comercial de 23 andares supermoderno.

“Só que não tinha banheiro feminino. Eu levei um choque”, conta ela.

A logística resultante é considerada absurda para muita gente: “Como praticamente não há mulheres na mão-de-obra saudita, a situação é estranhíssima, Na minha primeira visita, se tivesse que usar o banheiro, tinha que voltar ao hotel, mas só se fosse na companhia de um homem porque mulher não pode andar desacompanhada.”

E acabou recorrendo à diplomacia durante o período mais assíduo de reuniões. “Todos os executivos homens têm banheiros privativos, então perguntei se seria possível liberar um deles para mim, assim não seria necessário ter que sair, acompanhada de alguém, para voltar ao hotel”, explica.

Conforme cresce o número de mulheres que vão à Arábia Saudita a negócios, maiores são as chances de terem que driblar o sistema de alguma forma. Ao mesmo tempo, a pressão social dos vinte por cento de mulheres sauditas que trabalham já se faz sentir, mesmo que esse número tenha crescido apenas quatro pontos percentuais em dez anos e ainda esteja entre os mais baixos do mundo, segundo dados do Banco Mundial.

“Passar por cima de costumes que parecem imutáveis e intransponíveis tem sido, no mínimo, interessante”, confessa Nancy.

“O pessoal na Arábia Saudita tem uma grande admiração por profissionais competentes, então as regras mudaram um pouco depois que perceberam que eu era a especialista — que foi, é claro, o motivo de terem me contratado. Depois de um tempinho, alguns já até me chamavam pelo nome e me olhavam nos olhos”, revela.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]