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Cindy Parlow cabeceando a bola para o gol na Copa do Mundo de Futebol Feminino em 1999 | Eric Risberg/Associated Press
Cindy Parlow cabeceando a bola para o gol na Copa do Mundo de Futebol Feminino em 1999| Foto: Eric Risberg/Associated Press

Nos Estados Unidos, onde as raízes do futebol não são tão profundas quanto no resto do mundo, o nível da popularidade do esporte foi estabelecido bem antes da recente Copa do Mundo – em 1999, pela seleção nacional feminina. Liderada por Mia Hamm, Julie Foudy e Brandi Chastain, essa equipe venceu a Copa do Mundo de Futebol Feminino, e com a enorme audiência televisiva, isso inspirou muitas crianças a pegarem uma bola e saírem chutando e cabeceando.

Agora, várias dessas mulheres voltaram. Chastain e duas de suas colegas da equipe de 1999, Cindy Parlow Cone e Joy Fawcett, estão tentando avisar aos pais, aos treinadores e aos órgãos reguladores que os jogadores não deveriam cabecear a bola até que estejam na adolescência, a fim de limitar a possibilidade de danos ao cérebro.

Essas mulheres se juntaram ao Instituto Legado dos Esportes e ao Instituto Santa Clara de Lei e Ética Desportiva para uma campanha chamada Pais e Profissionais por um Futebol Com Mais Segurança, pedindo a eliminação do cabeceio da bola por parte dos jogadores menores de 14 anos.

Neste momento, muitas organizações de tebol nos Estados Unidos sugerem que os treinadores comecem a ensinar as crianças a cabecearem a bola apenas depois de completarem 10 anos. A nova regra daria aos jogadores outros quatro anos praticando o esporte com mais segurança. "Seu eu consigo ajudar a evitar a quantidade de situações potencialmente arriscadas no nosso esporte, por que não fazer isso?", Chastain perguntou.

Para Parlow Cone, que se aposentou como jogadora há cerca de 10 anos parcialmente por causa das dores de cabeça e da fadiga causadas por suas concussões, proteger as crianças significa impedir que elas vejam estrelas.

Quando era jogadora, durante muito tempo acreditou que ver estrelas quando cabeceava simplesmente fazia parte do jogo. Ela começou a jogar quando tinha três anos, e agora se lembra de ver estrelas ao cabecear com 10 ou 11 anos, com uma galáxia de luzes brilhantes surgindo diante dos seus olhos depois do impacto. Ela ficava tonta. A cabeça doía. No entanto, era jovem e ingênua para saber que isso tudo eram os sintomas de trauma no seu cérebro.

"A maioria das crianças não associa essas coisas a uma concussão", declarou Parlow Cone, que, mais de uma década depois, ainda está lutando contra as dores de cabeça e a fadiga por causa dos danos cerebrais no campo. "Nessa idade, ninguém pensa, ‘Como isto irá me afetar posteriormente na vida?’". Durante décadas, os estudos apontaram uma ligação entre cabecear a bola e os danos cerebrais, com esses estudos agora surgindo em um ritmo mais acelerado. No ano passado, o periódico Radiology publicou os resultados de um estudo que analisou 39 jogadores adultos de futebol amador que jogavam desde a infância. Esse levantamento concluiu que o cabeceio havia causado alterações perceptíveis no cérebro e provocaram "desempenho neurocognitivo mais fraco".

Mas a prova mais cabal veio este ano quando Patrick Grange, ex-jogador de futebol e grande cabeceador, tornou-se o primeiro jogador a ser diagnosticado com encefalopatia traumática crônica, o distúrbio cerebral degenerativo associado a golpes repetidos na cabeça. Ele morreu aos 29 anos, após o diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica (ELA), mais conhecida como a doença de Lou Gehrig. "A conclusão é que bater a cabeça repetidamente contra algo nunca é bom", Chastain disse. Contudo, nem ela, nem tampouco os envolvidos na campanha querem espantar ninguém do jogo.

O dr. Robert Cantu, um dos fundadores do Instituto Legado dos Esportes, disse que a nova regra não eliminaria os perigos dos jogos, mas os adiariam até que o corpo do atleta esteja mais preparado para enfrentá-los. Nas idades entre 10 e 12, o cérebro ainda está formando as suas vias cognitivas, disse. Parlow Cone declarou não saber se os seus sintomas são resultados de suas duas concussões severas ou dos milhares de pequenos golpes na cabeça que sofreu ao cabecear a bola. Ela contou que planeja doar o seu cérebro para maiores pesquisas e possivelmente para ajudar a proteger outros jogadores. "Pode até não ser igual ao futebol americano, mas de fato sabemos que os danos cerebrais no futebol são um grande problema", ela disse.

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