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Expedição oceânica descobriu que micróbios também são afetados pelo aquecimento global; medusa no Mediterrâneo | Christian Sardet/Centro Nacional de Pesquisas Científicas /Expedições Tara
Expedição oceânica descobriu que micróbios também são afetados pelo aquecimento global; medusa no Mediterrâneo| Foto: Christian Sardet/Centro Nacional de Pesquisas Científicas /Expedições Tara

Os cientistas que estudam a mudança climática sabem há anos que o aumento da temperatura afeta as criaturas marinhas, desde os grandes peixes até o plâncton microscópico na base da cadeia alimentar.

Agora, após quatro anos de expedição da escuna Tara, que colheu amostras de micróbios de todos os oceanos do mundo, estudos estão enfocando os mecanismos dessa mudança.

Essas criaturas minúsculas, que podem estar entre as mais antigas da Terra, absorvem dióxido de carbono, fabricam oxigênio, decompõem lixo e alimentam outros seres vivos. Além disso, são profundamente afetadas pela temperatura da água, segundo cinco estudos publicados na revista “Science”.

“A temperatura é o principal fator ambiental que influencia a composição dessas comunidades”, disse Chris Bowler, que participou dos cinco estudos e é especialista em genômica na Escola Normal Superior e no Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França. “A mudança climática, com o aquecimento dos oceanos, terá forte impacto nesses organismos e nas funções que eles desempenham para o bem-estar de nosso planeta.”

As descobertas da expedição Tara, segundo os pesquisadores, acrescentaram uma ordem de magnitude ao que conhecemos sobre a Árvore da Vida, expandindo sua base. Os micróbios estudados vão de vírus e bactérias pequenos demais para se enxergar ao microscópio até as amebas ou os paramécios unicelulares que as crianças estudam nas aulas de biologia.

A nova pesquisa mostrou que esses micróbios fazem uma dança constante uns com os outros, colaborando e lutando logo abaixo da superfície da água. Suas interações mantêm o ecossistema em equilíbrio, evitando que uma espécie domine os mares.

Segundo Stephen Palumbi, biólogo marinho da Universidade Stanford que não participou dos estudos, a expedição Tara revelou novos parasitas e predadores microscópicos marinhos.

Os pesquisadores do projeto Tara Oceans, um consórcio de 18 instituições, identificaram cerca de 40 milhões de genes nas camadas superiores dos oceanos do mundo. Os dados brutos produzidos pela expedição deverão permitir que os cientistas prevejam como a vida microbiana mudará em função das alterações na temperatura da água, segundo Eric Karsenti, diretor-científico do consórcio.

Um dos novos trabalhos acompanha os efeitos que as águas aquecidas têm sobre a diversidade das bactérias, sugerindo que outros micróbios, como vírus e organismos unicelulares, provavelmente também são afetados. Análises futuras deverão permitir que os pesquisadores construam modelos do que vai acontecer com as comunidades microbianas conforme a temperatura da água mudar, disse Karsenti, e o quanto isso afetará a produção de oxigênio e a absorção de dióxido de carbono.

A vida na Terra começou nos oceanos, por isso os dados também fornecem novas percepções de criaturas descendentes daquelas de um milhão de anos atrás, segundo Bowler. “Ao equiparar a informação no nível do DNA com a aparência desses organismos, poderemos aprender mais sobre eles, sobre como funcionam e possivelmente também saber mais sobre nossas origens.”

Na viagem de 2009 a 2013, a escuna de pesquisa de 33 metros de comprimento teve de fugir de piratas na costa da Arábia Saudita, evitar o gelo no Ártico e enfrentar ventos com força de furacão no estreito de Magalhães.

Quando a Tara atracava nos 210 portos em sua rota, os cientistas da expedição tornavam-se defensores do mar, educando crianças e adultos sobre essas criaturas —próximas e desconhecidas.

A equipe de pesquisadores, com mais de 200 pessoas, incluiu especialistas de 35 países. Os membros começaram a analisar suas 35 mil amostras, e apenas 579 foram exploradas nesses cinco trabalhos.

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