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Marie Kondo,  à dir. no closet de uma cliente, ficou famosa devido a seus métodos de arrumação |
Marie Kondo, à dir. no closet de uma cliente, ficou famosa devido a seus métodos de arrumação| Foto:

Segundo seu próprio relato, Marie Kondo foi uma criança incomum. Ela passava seu tempo lendo revistas de estilo de vida para aprender técnicas de organização e então as praticava em segredo em casa e na escola, deixando sua família e seus professores perplexos.

No livro "The Life-Changing Magic of Tidying Up: The Japanese Art of Decluttering and Organizing" [A magia da arrumação: a arte japonesa de se livrar de entulho e organizar], Kondo conta que costumava entrar de fininho nos quartos de seus irmãos para jogar fora brinquedos e roupas que eles não usavam mais. Já na escola, ela passava o recreio organizando as estantes de livros da sala de aula e o armário de vassouras.

A obra está entre as mais vendidas no país de Kondo, o Japão, e na Europa.

Aos 30 anos de idade, Kondo é uma espécie de celebridade em seu país e já virou tema de um filme feito para a TV. Há uma lista de espera de três meses para fazer uso de seus serviços de organização de espaços —ou havia até recentemente, porque Kondo deixou de aceitar clientes, preferindo se concentrar em ensinar outros a usar seus métodos.

Suas teorias sobre como se livrar do acúmulo desnecessário de objetos podem ser reduzidas a dois princípios básicos: primeiro, descarte tudo que não "suscita alegria", depois de agradecer aos objetos que estão sendo postos de lado; segundo, não compre equipamentos para a organização: sua casa já tem tudo o que é preciso para armazenar coisas.

Kondo apresenta seu manifesto da arrumação como se fosse uma espécie de babá zen. "Não se limite a abrir seu guarda-roupa e, depois de um olhar por alto, decidir que tudo o que há nele o emociona. É preciso segurar cada item de vestuário na mão."

"Suscitar alegria" pode ser um conceito flexível. Algo que provoca coceira ou é quente demais com certeza não gera alegria. O mesmo pode ser dito de qualquer coisa muito solta, disforme ou de corte boca de sino.

Fazer uma arrumação é um diálogo que temos com nós mesmos, escreve Kondo.

É claro que, depois de fazer isso por dez ou 12 horas, você começa a se sentir um pouco bobo. Você se esquece de agradecer às coisas que está jogando fora. E o que é a alegria, afinal?

É possível encontrar vídeos no YouTube que ilustram a técnica de Kondo: dobre tudo para formar um retângulo comprido, depois dobre-o de novo para formar um retângulo menor e então enrole esse retângulo menor para formar um tubo, como um rolinho de sushi. Coloque os rolinhos em pé em suas gavetas. Kondo recomenda: faça isso com o coração. "Quando pegamos nossas roupas e as dobramos com cuidado estamos transmitindo uma energia que exerce um efeito positivo sobre as roupas."

Ela propõe uma técnica igualmente agradável para pendurar peças de roupa. Pendure em cabides qualquer coisa que pareça mais feliz quando está pendurada e coloque as coisas junto a seus semelhantes, trabalhando da esquerda para a direita, com as roupas escuras e pesadas à esquerda: "Como as pessoas, as roupas conseguem relaxar quando estão na companhia de outras de tipo muito semelhante; logo, organizá-las por categoria as ajuda a se sentirem mais confortáveis e seguras."

Essas atitudes são comuns na cultura japonesa, disse Leonard Koren, teórico do design.

Koren, que passou dez anos no Japão, disse que a hiperconsciência ou até uma atitude de reverência em relação aos objetos é uma reação racional à geografia. "Pense no quimono e na tradição da dobradura", disse. "Há também o ‘furoshiki’, que é basicamente um quadrado de pano usado diariamente para embrulhar pacotes. A dobradura é algo profundo e onipresente na cultura japonesa. A dobradura é uma estratégia-chave de sistemas modulares que se desenvolveram devido aos espaços habitacionais limitados."

Ele acrescentou: "Falando espiritualmente, é uma relação com a realidade que propõe que tudo está inextricavelmente interligado e vivo, mesmo os objetos inanimados. Se tratamos tudo o que existe com compaixão e respeito, então temos que ter essa atitude até em relação a meias numa gaveta que não estão corretamente dobradas."

De fato, as instruções de Kondo com relação a meias são espantosas. Para ela, se você forma uma bola com as meias, elas não têm a chance de descansar.

As instruções de Kondo sobre como organizar papéis talvez representem as mais libertadoras de todas suas máximas: simplesmente jogue todos fora.

"Não existe nada mais irritante que papéis", diz com firmeza. "Afinal, nunca vão suscitar alegria, não importa com quanto cuidado você os guarde."

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