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Cães selvagens africanos, em perigo de extinção, originaram-se de lobos, chacais e outros cães há 3 milhões de anos. Em áreas como a Zâmbia, há um lento retorno de cães que caçam juntos | Scott Creel/Universidade Estadual de Montana
Cães selvagens africanos, em perigo de extinção, originaram-se de lobos, chacais e outros cães há 3 milhões de anos. Em áreas como a Zâmbia, há um lento retorno de cães que caçam juntos| Foto: Scott Creel/Universidade Estadual de Montana

Primeiro vimos o impala cortando a planície em um galope desesperado, mas por quê?

Um pouco depois, como se aparecessem do nada, seis cães selvagens africanos, também conhecidos por mabecos, corriam em fila. Moviam-se com precisão militar, suas orelhas apontando para frente, as patas mal tocando o chão.

O ritmo se acelerou. Presa e predadores desceram uma colina e sumiram por trás de arbustos. Quando chegamos ao local, os cães já se banqueteavam, seus focinhos brilhavam com sangue fresco, suas caudas de ponta branca abanando de alegria.

"Eles são os mais animados", disse Rosie Woodroffe, do Instituto de Zoologia de Londres, que estuda os cães selvagens há 20 anos. "Outros predadores podem ser maiores e mais ferozes, mas eu diria que não há nada tão entusiasmado quanto um cão selvagem", ela acrescentou. "Eles vivem a vida que cães domésticos gostariam de viver".

Em 1997, durante a elaboração de um plano para ajudar a salvar a espécie, cujo nome científico é Lycaon pictus, Woodroffe estava longe de se sentir tão animada. Eles estavam entre os mamíferos mais ameaçados da África; ela nunca vira um espécime selvagem e temia que isso nunca acontecesse.

"Lembro-me de ter pensado, ‘Eles vão ser extintos’", ela disse. "Eles têm uma necessidade imensa de espaço em um mundo onde as populações humanas não param de crescer".

Hoje, embora ainda classificados como ameaçados de extinção, os cães selvagens africanos estão se segurando, e em que algumas partes do continente se saindo melhor do que o esperado.

Os cientistas se impressionam com a flexibilidade da dieta e do comportamento da espécie, e com sua capacidade de conviver com as pessoas (caso essas não montem armadilhas ou matem todas suas presas). Alguns pesquisadores dizem que a população pode chegar a quase 7 mil cães em todo o continente – uma melhora em relação às estimativas de 4 mil a 5 mil na década de 90. E matilhas reapareceram no norte do Quênia, onde se presumia que estivessem extintos.

Os cientistas que estudam os cães tricolores dizem que a espécie se originou de lobos, chacais e outros membros do clã dos cães há 3 milhões de anos.

"Eles estão em um ramo distinto da árvore evolutiva, a única espécie no seu gênero," disse Scott Creel da Universidade Estadual de Montana, que é pesquisador do Programa de Carnívoros da Zâmbia.

Já há algum tempo, os pesquisadores sabem que os cães selvagens são socialmente organizados: os filhotes comem primeiro; para os que são jovens demais para deixar a toca ou para os membros da matilha feridos e incapazes de caçar, os adultos regurgitam uma parte de sua refeição.

Em grupos de animais aparentados, um único par é encarregado da maior parte da reprodução, enquanto os outros adultos servem como guardiões dos filhotes.

Creel e seus colegas descobriram que, quanto maior a matilha, mais eficiente é a caça e maior é a prole. No entanto, ficaram surpresos ao perceber que nem todos se beneficiavam de grupos maiores.

"Nas grandes matilhas com muitos descendentes o número de adultos sobreviventes é menor", disse Creel. O custo de regurgitar o alimento para mais filhotes parece exceder as vantagens de capturar mais presas. Os adultos que não se reproduzem gradualmente se tornam desnutridos e morrem mais cedo que outros de clãs menores.

"São verdadeiros altruístas", disse Creel.

Os pesquisadores consideram os cães selvagens um elemento crítico nos esforços para se estabelecer uma reserva de vida selvagem, que pode chegar a ser do tamanho da Suécia, abrangendo partes da Zâmbia, Angola, Botsuana, Zimbábue e Namíbia. Conhecida como Área de Conservação Trans-Fronteiriça Kavango-Zambeze, ou Kaza, a reserva seria a maior área terrestre protegida do mundo.

O destino de cães selvagens está fortemente ligado à abundância e à distribuição relativa de predadores rivais, particularmente leões e hienas, dizem os pesquisadores. Esses três carnívoros não só preferem mesma comida – antílopes, javalis e búfalos – como leões e hienas prontamente reivindicam os frutos do trabalho do cão selvagem, além de seus filhotes. "Os leões não são de se esforçar muito", Creel disse, "mas quando é preciso, vão atrás de tocas de cães selvagens e matam os filhotes".

Os cães selvagens têm vários truques de adaptação para evitar predadores. Aprenderam a se comunicar através de sons suaves, como de pássaros, que apenas eles com suas grandes orelhas conseguem escutar bem. Também são caçadores eficientes, abrindo a presa muitas vezes enquanto ela ainda está no meio de um salto, comem rapidamente e, uma vez que abandonam uma carcaça, raramente retornam a ela, com medo de que um leão a tenha encontrado.

Alguns pesquisadores temem a possibilidade de que os cães selvagens estejam se desenvolvendo relativamente bem ultimamente porque leões e hienas não estão, resultado de surtos de doenças, conflito com agricultores, caça e outros problemas.

Através de projetos como o Kaza, os ambientalistas procuram preservar os campos abertos que favorecem os grandes felinos e hienas e as florestas onde os cães selvagens prosperam, onde dia após dia, um novo espetáculo se desenrola, e mal sabemos para que lado olhar.

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