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Projetada para um fluxo de 45.000 viajantes por dia, a passagem de Erez entre Israel e Gaza é agora usada por 400 | Amir Cohen/Reuters
Projetada para um fluxo de 45.000 viajantes por dia, a passagem de Erez entre Israel e Gaza é agora usada por 400| Foto: Amir Cohen/Reuters

O terminal por onde viajantes transitam entre Israel e a faixa de Gaza é um hangar grande, de alta tecnologia com capacidade para 45 mil pessoas por dia. Tráfego atual: 400 ou menos.

Sua construção, a um custo aproximado de US$ 60 milhões, começou em 2005, quando Israel retirou de Gaza todos seus colonos e soldados, o que muitos imaginaram ser o início de um tratado de paz precursor do Estado palestino independente. Mas em junho de 2007, quatro meses após a conclusão do terminal, o Hamas, movimento islâmico militante, tomou o controle da faixa de Gaza. Israel reduziu drasticamente o número de licenças de saída como parte de uma repressão mais ampla.

A travessia tornou-se então um símbolo da promessa de livre fluxo caso o conflito Israel/Palestina fosse resolvido.

"Eles têm que permitir que nossos irmãos e irmãs na Cisjordânia venham a Gaza; precisam permitir que pelo menos as crianças sigam de Gaza para Jerusalém, para Tel Aviv, para Ramallah", disse Faysal Shawa, empresário que está entre os poucos que possuem uma autorização. Ele passa por Erez cerca de duas vezes por mês.

Durante a batalha deste ano entre Israel e o Hamas, Erez foi onde o primeiro civil israelense foi morto por um morteiro. Nos dias finais do combate, outro ataque em Erez feriu quatro pessoas. Agora é um dos pontos centrais do recente acordo de cessar-fogo que interrompeu as hostilidades com a vaga promessa de "liberdade de circulação".

Shlomo Tsaban, que dirige Erez para o Ministério da Defesa israelense, disse que seu chefe lhe pediu que "eu me preparasse para, talvez, cinco mil pessoas por dia". Isso seria ainda muito abaixo do nível de setembro de 2000, mês em que trabalhadores palestinos foram responsáveis por 500.000 saídas por Erez, de acordo com a Gisha, organização israelense que controla a travessia.

Tsaban, de 54 anos, lembra-se de quando havia passagens informais. Ele cresceu em Ashkelon, a menos de 16 quilômetros de Erez, ia de ônibus com sua mãe para Gaza duas vezes por semana para comprar legumes e peixe. Ele também se lembra do bombardeio suicida em Erez, em 2004, que matou três soldados israelenses e um trabalhador civil.

O tráfego menor, de acordo com a Gisha, era de cerca de 2.000 saídas por mês, após a tomada de controle do Hamas em 2007. Durante o primeiro semestre deste ano, havia 6.000 saídas por mês. A maioria dos viajantes são pacientes que necessitam de tratamento médico em Israel ou na Cisjordânia. Os outros são comerciantes e trabalhadores da ajuda internacional.

"Somos as pessoas de bem na faixa de Gaza, e Israel sabe disso", disse Shawa, engenheiro dono de uma empresa de construção e vice-presidente do Paltrade, grupo que trabalha para aumentar as exportações. "Alguns empresários investigados podem passar; nossas esposas e filhos não".

A viagem para Israel parece algo saído de um filme de ficção científica. Depois de deixar todos seus pertences, incluindo passaportes e celulares, os viajantes passam sozinhos através de uma série de cabines de vidro que ficam entre portas trancadas. Para seguir em frente, devem esperar até que as luzes vermelhas fiquem verdes, às vezes auxiliados por instruções dos israelenses nos controles, que ficam muitos andares acima e por trás de mais vidro.

Suhair Zaqqout, funcionária da ajuda humanitária, disse ter percebido o impacto da separação há alguns anos, quando comprou um violino em Jerusalém para seu filho. Os guardas israelenses de Erez vasculharam seus pertences, suspeitando que ela estivesse escondendo uma arma e se surpreenderam ao encontrar o instrumento musical.

"Seus rostos disseram mais do que palavras", recordou Zaqqout, de 44 anos. "Eles ficaram realmente surpresos ao perceber que as pessoas na faixa de Gaza são como quaisquer outras; elas tocam música, se divertem".

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