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Nem todos que se consideram espirituais praticam a religião de modo tradicional. Garoto muçulmano ora em Katmandu | navesh chitrakar/reuters
Nem todos que se consideram espirituais praticam a religião de modo tradicional. Garoto muçulmano ora em Katmandu| Foto: navesh chitrakar/reuters

Deus, diz Timothy Egan, "está com a corda toda" este ano.

"A luta milenar entre Meu Deus e Teu Deus está na raiz de dezenas de atrocidades", escreveu recentemente o colaborador da página de editoriais do "New York Times". Muçulmanos contra judeus na Terra Santa. Budistas versus muçulmanos em Mianmar e Sri Lanka. Muçulmanos contra muçulmanos no Iraque e outros países. E há o Boko Haram, na Nigéria, que Egan sugeriu que talvez seja "o mais horrendo entre os fanatismos de inspiração religiosa".

Ele chamou a atenção para o ensinamento de amor e compaixão que está presente em todas as grandes religiões. "O problema é que as pessoas de fé com frequência se convertem em fanáticas da fé", escreveu.

Sem ter consciência disso, os fanáticos podem ajudar a reforçar as crenças de pessoas de fé mais razoáveis. A professora da Universidade Stanford T. M. Luhrmann escreveu recentemente no NYT sobre o "limiar do pasmo", conceito introduzido décadas atrás por Renée Haynes, que o descreveu como "o nível a partir do qual a mente fica pasma quando se vê diante de um novo fato, relato ou ideia". Ou seja, é a linha que divide aquilo em que acreditamos daquilo que achamos inacreditável. "Todos nós temos esses limiares de pasmo", diz Luhrmann. "Um deus que tem um filho humano que ele permite que seja morto é natural; um deus com oito braços e sexualmente voraz é estranho. A gente acredita no Espírito Santo, mas não no exorcismo."

Ela sugeriu que o fato de traçar essa divisão dota as pessoas de mais confiança nas crenças que têm: você rejeita o que não é razoável, logo, seus pontos de vista são plausíveis.

Luhrmann escreveu que em algum momento da vida muitas pessoas religiosas lutam "contra o medo de que tudo possa ser uma mentira. Se a fé é uma conjectura, ou, como disse Kierkegaard, um salto no desconhecido, talvez a clareza em relação ao que é tolice faça as pessoas sentirem mais segurança em relação a onde o salto as levará."

Esses saltos de fé estão ficando mais curtos para muitas pessoas. O "NYT" tratou recentemente dos crentes que se classificam como "espirituais, mas não religiosos". Uma sondagem indicou que 7% dos americanos se descrevem assim —mais que o número de judeus e muçulmanos.

As crenças dessas pessoas são indefinidas, mas isso não quer dizer que lhes falte substância, disse Linda A. Mercadante, que leciona na Escola Teológica Metodista em Ohio e escreveu um livro sobre esse tipo de fé: "Essas pessoas rejeitam o céu e o inferno, mas acreditam em uma vida após a morte. Podem gostar de Jesus, ele pode ser o guru delas, pode ser um de seus muitos bodhisattvas, mas Jesus como Deus não está em seu radar."

A pastora Lillian Daniel, da igreja Congregacional, também já escreveu sobre esse tipo de espiritualidade, que não a impressiona; ela não tem em alta conta as pessoas que falam sobre encontrar Deus no pôr do sol. "Não há nada de desafiador em tecer reflexões profundas sozinho", ela disse ao NYT. "A vida com Deus fica fértil e provocante quando você mergulha em uma tradição que não inventou sozinho, para você mesmo."

Seria difícil dizer onde Tierney Sutton se encaixaria nessa conversa. Criada como ateia, ela descobriu a tradição baha’í e a segue há 30 anos. Mas ela é também uma eminente cantora de jazz, tendo recebido seis indicações ao Grammy. Se não enxerga Deus num pôr do sol, ela é capaz de ouvir o divino em uma canção.

"A ideia de que a verdade religiosa e a espiritualidade sejam uma coisa calcificada, algo que não está em evolução, é estranha aos escritos baha’ís", ela comentou.

"A espiritualidade cresce nas engrenagens elegantes da proximidade humana. E que metáfora melhor existe para isso, senão a música?"

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