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A estação ferroviária de Hejaz, em Damasco, remonta a uma época em que viagens de trem conectavam o Oriente Médio | Andrea Bruce/The New York Times
A estação ferroviária de Hejaz, em Damasco, remonta a uma época em que viagens de trem conectavam o Oriente Médio| Foto: Andrea Bruce/The New York Times

Para Younes al-Nasr, antigo admirador dos trens, a estação ferroviária de Hejaz, no coração da capital síria, é um símbolo de ambições perdidas.

Diariamente, Nasr, funcionário do Ministério dos Transportes de 68 anos, caminha pelos escritórios no prédio da era otomana, onde a luz é filtrada por vitrais vermelhos, amarelos e azuis. Ele vê o passado – há um século, o lugar fervilhava com viajantes a caminho de Meca. E imagina o futuro – os grandes planos de conectar o local a uma rede expandida de trens urbanos, devolvendo a importante estação à vida.

Por enquanto, a única evidência dessas ambições é um enorme buraco no chão. Lá, operários cavaram túneis de estações periféricas e iniciaram a fundação de um shopping center de 12 andares sobre os trilhos, antes do país mergulhar num conflito que já dura três anos, deixando a construção – e todo o sistema ferroviário da Síria – num impasse. Mesmo aqui, na estação de Hejaz, a guerra deu as caras; há alguns meses, um morteiro disparado por insurgentes atingiu a movimentada praça logo em frente, matando 12 pessoas.

A proliferação de guerras e fronteiras dos últimos 100 anos cortou laços ferroviários que simbolizavam elos comerciais e sociais, unindo todo o Oriente Médio.

"O trem é o meio de transporte mais sociável", afirmou ele, recordando de suas próprias viagens pela Turquia, Romênia, Bulgária e Irã, ao longo de uma rota hoje interrompida por combates no norte da Síria. "Elas conectam sociedades e economias. Os Estados Unidos não existiriam sem as ferrovias, e a Europa é a Europa por causa dos trens".

Existe uma nostalgia generalizada pela breve época de ferrovias que fomentavam essas conexões. Nasr contou que seu avô ia para o trabalho, na antiga Palestina administrada pelos britânicos, em trens que ligavam Damasco a Haifa e outras cidades, linhas há tempos cortadas por hostilidades com Israel. Os trens para o Líbano pararam durante sua guerra civil, há várias décadas.

A ferrovia de Hejaz foi concluída em 1908, chegando a Medina na Arábia Saudita, e reduzindo o tempo de viagem até Meca de 40 dias para apenas cinco. A estação de Damasco abriu em 1913.

Mas essa linha não sobreviveu à Primeira Guerra Mundial. Combatentes árabes apoiados pelos britânicos sabotaram os trilhos para enfraquecer as linhas de abastecimento otomanas durante a guerra, um episódio imortalizado no filme "Lawrence da Arábia". Mais tarde, em 1920, combatentes pela independência síria se reuniram na estação de Hejaz antes de se dirigirem a Maysaloun para uma ação suicida contra os franceses – hoje lembrada como um ato heróico de resistência.

Esforços periódicos para "restaurar a glória da linha até Medina", como afirmam panfletos do governo, fracassaram ao longo das décadas devido a rivalidades regionais.

Antes da guerra atual, visitantes na Síria podiam pegar uma antiga maria-fumaça numa viagem panorâmica até a fronteira com o Líbano. A estação de Damasco tornou-se um museu.

Hoje, sírios passam ocasionalmente por ali para contemplar uma nova exposição: fotografias da destruição das ferrovias do país. Elas mostram estações incendiadas e em ruínas, pontes derrubadas e antigos motores a vapor destruídos.

Ainda não se sabe se as ferrovias da Síria continuarão como uma lembrança.

Mesmo assim, Nasr se permitiu uma esperançosa metáfora. "Existe luz", disse ele, "no fim do túnel".

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