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A Filarmônica de Viena em 2013; oficiais saúdam Hitler em 1938 na Ópera Estatal de Viena; Gun-Brit Barkmin em “Salomé” | Dieter Nagl/Agence France-Presse — Getty Images
A Filarmônica de Viena em 2013; oficiais saúdam Hitler em 1938 na Ópera Estatal de Viena; Gun-Brit Barkmin em “Salomé”| Foto: Dieter Nagl/Agence France-Presse — Getty Images

O recém-iniciado festival Viena: Cidade dos Sonhos, que acontece em Nova York, promete ser um dos mais grandiosos na rica história do Carnegie Hall: uma celebração de três semanas com mais de 50 eventos ancorados em cinco programas da Filarmônica de Viena e duas óperas da companhia-mãe da orquestra, a Ópera Estatal de Viena.

Trata-se de uma grande representação da música vienense dos séculos 18 ao 21, desde as valsas da família Strauss até duas óperas catárticas —"Salomé", de Richard Strauss, e "Wozzeck", de Alban Berg.

Mas nem tudo será comemoração e festa. Viena também foi, afinal, uma cidade de pesadelos em algumas ocasiões, e os aspectos sombrios de sua história serão examinados em detalhes durante o festival em Nova York.

Antes mesmo do primeiro concerto, com Franz Welser-Möst regendo a Filarmônica de Viena em um programa com a Nona Sinfonia de Beethoven e "Friede auf Erden" [paz na Terra], de Schoenberg, haverá um simpósio sobre a história de Viena que incluirá tópicos como "as raízes do colapso da sociedade".

Outro painel, intitulado "Como a Sociedade Criativa e Culta de Viena Perdeu sua Bússola Moral?", apresentará a Filarmônica de Viena como exemplo de primeira ordem. Tendo entre os palestrantes Clemens Hellsberg, violinista e presidente da orquestra, que é administrada por um sistema de autogestão, o debate inevitavelmente chegará a um tema mais profundo: a responsabilidade moral de artistas e instituições artísticas.

O comportamento da filarmônica e de membros da orquestra durante a era nazista foi, sob qualquer ponto de vista, horrível.

Mas a orquestra deu passos significativos nos últimos 25 anos para reconhecer os erros do passado, admitir sua cumplicidade com os nazistas, homenagear os feridos e mortos por causa da ação ou inação de uma geração anterior de instrumentistas e se dedicar à causa da paz internacional.

Não é suficiente, dizem alguns, liderados pelos Verdes, partido austríaco da esquerda liberal, que mantém um olhar cético sobre as atitudes tomadas pela flarmônica para escapar da sombra de seu passado. Para alguns —como, talvez, parentes de pessoas envolvidas na expulsão de judeus da orquestra em 1938— talvez nunca seja.

Outros, como Daniel Barenboim, que regeu os concertos da Filarmônica em dezembro e janeiro, asseguram que a orquestra está no caminho certo. "Admitir responsabilidades sempre é uma coisa boa", disse Barenboim, "e a Filarmônica fez isso".

Joel Bell, o organizador do simpósio no Carnegie, apoia as iniciativas de Hellsberg.

Bell disse que a orquestra apresentou os fatos no seu site —"Um primeiro passo necessário"—, realizou homenagens, incluindo uma apresentação da Nona Sinfonia de Beethoven em um antigo campo de concentração na Áustria, e tem mostrado disposição para participar do diálogo.

Mas também é verdade que a filarmônica foi, de certa forma, obrigada a apresentar os fatos.

No início do ano passado, um incidente envolvendo Baldur von Schirach tornou-se público. Schirach —que foi, entre outras coisas, governador de Viena de 1940 a 1945 e parcialmente responsável pela deportação de dezenas de milhares de judeus para campos de extermínio na Polônia— foi um dos muitos (possivelmente incluindo Hitler) a terem recebido anéis ou medalhas de honra da orquestra por ocasião do seu centenário, em 1942.

Em resposta à indignação pública, a orquestra encarregou historiadores de estudarem as suas atividades durante a era nazista. O cerne do relatório dos historiadores consiste nos relatos de Bernadette Mayrhofer sobre o destino de 16 músicos judeus: 13 que foram expulsos da orquestra e 3 que já haviam se aposentado. Nove fugiram para o exílio, cinco foram deportados e mortos em campos de concentração e dois morreram na miséria em Viena.

As recentes revelações, disseram os Verdes, foram tímidas e tardias demais. "Agora eles admitiram mais ou menos o que todo mundo sabia", disse Hannes Metzler, porta-voz do partido.

Hellsberg se mantém firme.

"Nós temos mais obrigações do que simplesmente fazer o trabalho. Nós estamos cientes de que é importante que nossa história completa seja revelada, os altos e baixos, não somente o período nazista."

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