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| Foto: Vincent Thian / Associated Press

ON-LINE: Modelando o visual

Vídeo sobre vestuários tradicionais com toques modernos:nytimes.com Busque "Dian Pelangi"

Um evento de moda que aconteceu no mês passado parecia —bem, parecia diferente: o Festival de Moda Islâmica de Kuala Lumpur, na Malásia. "Desfile de moda islâmica? Simplesmente não faz sentido", tuitou uma moça muçulmana. Mas a ideia, como se viu, era justamente essa.

Fundado nove anos atrás por Dato’ Raja Rezza Shah, em parte para combater estereótipos sobre o islã, o festival integra um movimento mais amplo dentro de uma parcela do mundo islâmico que se vale da moda para remodelar a forma como sua história é contada. Ou, pelo menos, como é vista.

Como disse Reina Lewis, professora da London College of Fashion e autora de "Muslim Fashion: Contemporary Style Cultures" [Moda muçulmana, culturas de estilo contemporâneas], a ser publicado em 2015: "Sempre que há pânico moral no Ocidente a respeito dos muçulmanos como um Outro civilizacional, isso é ilustrado com a foto de uma mulher usando o ‘hijab’ ou a ‘abaya’, coberta de pano preto".

A estilista e blogueira Dian Pelangi declarou ao "The Jakarta Post": "Acho que, se a moda islâmica conseguir ganhar força nos EUA, ela mudará a percepção das pessoas sobre o islã e a moda islâmica".

O evento de moda, iniciado em 2006 e agora realizado três vezes por ano, exibiu recentemente o trabalho de 26 estilistas de Malásia, Cingapura, Indonésia e Paquistão. Seu objetivo oficial é construir "uma referência cultural e visual atual, a partir da qual o islã possa se relacionar com o mundo moderno pela criativa arena da moda, divorciada da luta política, econômica e social". Mas é também um mercado lucrativo. A Thomson Reuters estimou que em 2012 o mercado mundial muçulmano das roupas e calçados movimentou US$ 224 bilhões —10,6% do gasto global total no setor, e o segundo maior mercado no mundo depois dos Estados Unidos (US$ 494 bilhões em 2012). A agência de notícias projeta um crescimento desse mercado para US$ 322 bilhões até 2018.

A Malásia está competindo com Dubai e a Indonésia pela posição de "capital da moda islâmica", segundo Lewis. "É parte da estratégia e desenvolvimento da marca nacional."

Para Calvin Thoo, um dos estilistas que participam do evento desde o início, "o islã provavelmente ganhou má fama por causa dos extremistas, e eu quero mostrar que vestimenta discreta não significa algo sombrio, chato ou complicado demais". Sua recente coleção trazia não apenas mangas longas, saias comportadas e pescoços cobertos, mas também pepluns, blusas de chifon, pedrarias nos ombros e braços e aplicações de renda, tudo em tons que aludem a pedras preciosas.

A maioria das roupas na passarela se caracterizava por cores intensas, do jade ao rosa, safira, carmim e branco, bem como elaborados adornos de cabeça e drapeados. Eram criações discretas na forma de cobrir o corpo, mas não na ambição estética.O aspecto em que o evento mais difere das semanas de moda com as quais compete, como a de Dubai (criada em 2005) e Jacarta (criada em 2008), é que ele acontece também em Londres, Nova York, Mônaco, Cingapura e outras cidades.

O evento é parte de uma crescente consciência de que a moda pode ser uma ferramenta útil de comunicação. A InexModa, da Colômbia, é parte de um esforço para mudar a narrativa nacional, do narcotráfico para o design. Também a semana de moda de Zâmbia foi concebida para substituir o tema da pobreza pelo da criatividade e do orgulho.

Organizadores do evento estão otimistas quanto ao seu potencial. "Acredito que o Festival de Moda Islâmica conseguiu enviar a mensagem de que islã não equivale a terrorismo.", disse Dato’ Rezza.

Lewis foi mais comedida."Não quero sugerir que essa abordagem irá acabar com guerras e atritos mundiais", disse. "Mas estamos transmitindo a mensagem de que [os muçulmanos] vivem no mesmo mundo que todos os demais."

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