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Loubna Abidar, ao centro, e outras atrizes receberam ameaças de morte por interpretarem prostitutas em “Much Loved”. | Virginie Surdej/Pyramide Films
Loubna Abidar, ao centro, e outras atrizes receberam ameaças de morte por interpretarem prostitutas em “Much Loved”.| Foto: Virginie Surdej/Pyramide Films

Um filme marroquino que aborda a prostituição, lançado no Festival de Cannes, em maio, causou um verdadeiro furor por aqui: depois que um vídeo com seis minutos caiu na Internet, o longa foi proibido nos cinemas, as atrizes foram ameaçadas de morte e um ator foi atacado a facadas.

“Much Loved”, do cineasta marroquino Nabil Ayouch, inclui cenas de prostitutas em Marrakech se divertindo, usando expressões chulas em árabe e satisfazendo clientes sauditas. Em questão de dias após o lançamento, o clipe já tinha recebido mais de dois milhões de visitas no YouTube.

Para os muçulmanos conservadores, o filme é escandaloso; os mais moderados ficaram ofendidos com o fato de o retrato mais sombrio de seu país ser exibido em um festival de cinema internacional de prestígio. O ministro das Comunicações, Mustapha Khalfi, membro do Partido Justiça e Desenvolvimento, declarou que o longa sabota os valores morais e a dignidade não só da mulher marroquina, mas do próprio país.

O diretor Ayouch, de 46 anos, disse em entrevista que já esperava um debate, uma grande polêmica e até confronto porque sabia que o tema era delicado. E acrescentou:

“Mas isso não significa que eu esteja me sentindo bem com toda essa controvérsia. Faço filmes para que os marroquinos os vejam. De qualquer forma, todo mundo neste país sabe que a prostituição, mesmo ilegal, é desenfreada em Marrakech.”

“Much Loved” conta a história de quatro mulheres que tentam sobreviver vendendo o corpo. Depois que o trailer vazou na rede, um dos atores que interpreta um cliente saudita foi acusado por um estranho de manchar a imagem do Marrocos — e esfaqueado a seguir. As ameaças de morte viraram rotina para as atrizes, incluindo Loubna Abidar.

Em um programa de rádio local, ela enfatizou que estava apenas representando um papel. “E se eu encarnasse uma assassina? Isso faria de mim uma matadora? Há milhares de prostitutas no Marrocos. É preciso ver o filme para compreender que a situação é mais complexa do que parece”, completou.

O Marrocos se mostra como uma nação muçulmana liberal, mas o governo afirma que os princípios islâmicos é que devem reger a sociedade. Para alguns analistas, a reação ao filme reflete uma sensibilidade ao tema em si, não sendo uma questão de maior conservadorismo muçulmano.

Meriam Cheikh, doutoranda em Antropologia pela Universidade de Bruxelas que está escrevendo sua tese sobre a exploração sexual no Marrocos, disse que o filme mostra, de maneira fiel, o que ela descobriu vivendo durante dois anos entre as profissionais do sexo em Tânger.

“Elas são as primeiras vítimas do desemprego. Muitas não iam bem nos estudos, não conseguiram emprego e começaram a manter relações sexuais por dinheiro na esperança de deixar aquela vida”, explica ela.

Vários abaixo-assinados já circulam pedindo a proibição da exibição do filme.

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