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suspense francês “La Volante” sendo rodado em Luxemburgo. O filme recebeu um milhão de euros da Film Fund Luxembourg | Agnes Dherbeys/The New York Times
suspense francês “La Volante” sendo rodado em Luxemburgo. O filme recebeu um milhão de euros da Film Fund Luxembourg| Foto: Agnes Dherbeys/The New York Times

Você pode cobrir para mim? Confio em você”, sussurra Marie-France, recepcionista ardilosa interpretada por Nathalie Baye, para a colega, em um escritório pequeno e bem iluminado.

Conforme ela caminha e sai do enquadramento, a bolsa de couro presa no ombro, alguém grita “Coupez! “ e o cenário de “La Volante”, suspense psicológico dirigido por Christophe Ali e Nicolas Bonilauri, vira um pandemônio, com os técnicos preparando tudo para a tomada seguinte.

O filme possui todas as qualidades de um bom thriller francês: trama cheia de reviravoltas, personagens de perfis complexos e um elenco liderado por uma estrela do cinema nacional desde os anos 70 – mas a cena, como grande parte do filme, não foi rodada na França.

O escritório onde Marie-France está planejando sua vingança fica na sede reformada de uma prefeitura em Mondorf-les-Bains, Luxemburgo, a curta distância a pé da fronteira francesa.

Uma vez que vários trechos longos do filme foram rodados ali e envolve uma produtora luxemburguesa, “La Volante” conseguiu obter subvenção pública de um milhão de euros, ou cerca de US$1,2 milhão, da Film Fund Luxembourg, suficiente para cobrir mais de trinta por cento de seus custos.

O projeto é um dos vários longas franceses que depende de financiamento estrangeiro, tendência que representa uma das muitas ameaças à indústria na terra natal do cinema. O Centro Nacional para o Cinema da França, que distribui milhões de euros em subsídios a produções cinematográficas, se viu prejudicado pelas sucessivas arrecadações feitas para ajudar a pagar a dívida pública.

“La Volante” foi adquirido por um pequeno canal da TV paga antes do início das filmagens e recebeu subvenção da região francesa de Lorraine, mas precisava dos 575 mil euros de um programa belga que oferecia benefícios fiscais a empresas que investissem na produção cinematográfica local, mais a contribuição da Film Fund Luxembourg para poder ser realizado.

Vinte e dois por cento das filmagens de longas franceses foram concluídas além de suas fronteiras nos nove primeiros meses de 2014. Segundo a Federação das Indústrias de Cinema, Audiovisual e Multimídia, a FICAM, em 2012, ano particularmente desastroso em termos de evasão de produções, a proporção foi de 50 por cento dos projetos com orçamento entre dez e vinte milhões de euros e 21 por cento dos filmes abaixo de dez milhões de euros. Isso fez o governo elevar seu crédito fiscal para filmes de menos de quatro milhões de euros para trinta por cento, comparados com vinte em 2013.

“J’enrage de son absence”, de Sandrine Bonnaire, deveria ter sido rodado na França, mas quando o dinheiro veio de fora, as equipes tiveram que ser alteradas porque o sistema de financiamento geralmente exige o uso de mão-de-obra local, o que quase sempre significa que os técnicos franceses são substituídos por colegas belgas ou luxemburgueses.

“Tive que abrir mão de gente com quem normalmente trabalho há anos”, lamenta o diretor assistente Sébastien Deux.

Muita gente na França teme que a fuga de filmes implique também na perda dos profissionais que os criam para os vizinhos. Nicolas Steil, do Grupo Iris, produtora de Luxemburgo, diz que as produções com orçamentos entre quatro e oito milhões de euros, geralmente mais experimentais e arriscadas para os investidores, dependem de financiamento estrangeiro.

“Sem dinheiro de fora, esses filmes não poderiam ser feitos e, se fossem, teriam um orçamento muito menor, assim como a qualidade, em relação aos concorrentes”, explica.

Quando “Mr. Hublot”, curta de animação coproduzido pela França e Luxemburgo, ganhou o Oscar em 2014, vários veículos da imprensa francesa o descreveram como “o filme francês que superou a Disney” – o que acabou gerando indignação em Luxemburgo, onde os cinéfilos estavam comemorando o primeiro Oscar do país.

“Mr. Hublot” foi escrito por Laurent Witz, um francês, que o dirigiu ao lado de

Alexandre Espigares, um luxemburguês. A Film Fund Luxembourg financiou 70 por cento do projeto e Lorraine arcou com o resto. Witz mantém a visão pragmática.

“Eu encaro como uma parceria, uma fusão de savoir-faire, talento e fundos, é claro”, comenta.

Donato Rotunno, da Tarantula Productions, disse: “Estamos pendendo para a Europa; estamos envolvidos na construção do cinema europeu”.

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