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 | Gianni Cipriano para The New York Times
| Foto: Gianni Cipriano para The New York Times

Não havia nada de extraordinário no empresário que esperava numa plataforma ferroviária parisiense, a não ser os envelopes que ele carregava – recheados com 350 mil euros e confiscados pelos agentes da alfândega francesa enquanto o homem se preparava para embarcar para a Bélgica.

O passageiro era Boris Boillon, 43 anos, ex-embaixador francês no Iraque e na Tunísia, condecorado com a medalha da Legião de Honra. Porém, para os agentes da alfândega, em julho, ele era apenas mais entre um número crescente de "transportadores de dinheiro".

Nas fronteiras dos países europeus em crise econômica, os agentes afirmam que estão confiscando quantias crescentes de dinheiro não declarado acima dos dez mil euros que cada viajante pode carregar. Eles o encontram escondido em malas, sacos de batata frita e nos bolsos de crianças. O dinheiro está se movimentando com as correntes políticas enquanto europeus buscam esconder a riqueza dos impostos crescentes, das investigações fiscais e do endurecimento das regras nos bancos suíços e em outros paraísos tradicionais.

"Nós vemos profissionais e empresários do setor de seguros e bancário como ele todo dia", afirmou Philippe Bock, secretário-geral do sindicato francês dos agentes alfandegários, em referência a Boillon.

Durante décadas, as leis do sigilo bancário da Suíça tornaram os bancos de lá um refúgio para estrangeiros que esperavam manter ativos distantes dos olhos oficiais. Porém, a Suíça assinou um tratado em outubro para a troca automática de informações fiscais com os países de origem dos correntistas, e os banqueiros vêm alertando os clientes a fazer declarações de renda ou correr o risco de ver as contas na Suíça fechadas. Tal fato fez muitos candidatos à evasão fiscal transportar dinheiro à moda antiga.

"O principal motivo para o aumento nas apreensões é simplesmente o uso cada vez maior de dinheiro por fraudadores, incluindo redes criminosas e sonegadores", afirmou Mathieu Delahousse, jornalista francês. "As pessoas ainda estão levando dinheiro ao exterior para fugir dos impostos, mas ele está se movimentando em outra direção porque os bancos suíços estão fechando as contas de clientes estrangeiros, e então eles têm de fazer uma escolha: declarar tais contas bancárias e pagar impostos elevados ou esconder o dinheiro."

A regra que exige que os viajantes que cruzam fronteiras dentro da União Europeia façam uma declaração por escrito quando portam mais de dez mil euros em espécie entrou em vigor em 2007. O dinheiro não declarado pode ser confiscado e retido por seis meses, estando sujeito a multas de 25 por cento ou mais. As autoridades também podem começar investigações sobre as origens do dinheiro.

Apreensões de dinheiro por agentes alfandegários franceses aumentaram na última década, embora cortes nos gastos públicos tenham reduzido o número de fiscais em 25 por cento. O total do primeiro trimestre de 2013 foi seis vezes superior a igual período do ano anterior, somando 103 milhões de euros. A alfândega estima flagrar somente cinco por cento do dinheiro não declarado que atravessa as fronteiras.

Em fevereiro, inspetores no trem entre Zurique e Paris detiveram um espanhol que transportava 1,8 milhão de euros, em notas de 500 euros. Tais cédulas, as maiores em circulação, foram apelidadas de Bin Laden pela associação à lavagem de dinheiro e transações ilícitas.

Na Itália, cães farejadores de dinheiro ajudaram a polícia financeira que atua nos aeroportos e na fronteira norte a quase triplicar as apreensões de dinheiro em 2012, totalizando 124 milhões de euros. As autoridades estavam perto de superar esse valor em meados do segundo semestre.

Num caso famoso na Espanha no ano passado, as autoridades desmontaram uma rede que se valia de uma empresa de exportações fictícia para lavar centenas de milhões de euros pertencentes a bandos criminosos chineses e espanhóis endinheirados. O caso resultou em mais de cem prisões. Porém, na maioria das vezes, as pessoas flagradas transportando dinheiro não declarado são tratadas com mais discrição e multadas, em vez de presas.

Na França, o caso de Boillon, o ex-diplomata, ainda aguarda decisão da divisão judiciária da alfândega. Não tiveram êxito as tentativas de ouvir seus comentários ou deixar recado no seu endereço comercial registrado em Paris.

Gaia Pianigiani colaborou com a reportagem em Roma

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