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O fotógrafo Ernie Button descobriu padrões “misteriosos” que se formam no fundo de copos de uísque; ele e vários cientistas estão tentando descobrir a razão disso | fotografias de ernie button
O fotógrafo Ernie Button descobriu padrões “misteriosos” que se formam no fundo de copos de uísque; ele e vários cientistas estão tentando descobrir a razão disso| Foto: fotografias de ernie button

Ernie Button, fotógrafo de Phoenix, Arizona, descobriu arte no fundo de um copo de uísque. Howard A. Stone, professor na Universidade Princeton em Nova Jersey, descobriu o princípio científico por trás dessa arte.

Há oito anos, Button estava prestes a lavar um copo quando notou que as gotas restantes do uísque escocês que havia tomado haviam secado e formado uma película gredosa, porém inesperadamente bela. "Quando ergui o copo contra a luz, notei linhas muito finas e delicadas no fundo."

Ele passou a fazer experiências. Os uísques com sabores turfosos defumados, como os provenientes das ilhas de Islay e Skye, no oeste da Escócia, eram inconstantes e demandavam mais tentativas e erros para produzir os desenhos. Já os uísques produzidos no vale em torno do rio Spey, no nordeste da Escócia, quase sempre funcionavam.

"Basta uma ou duas gotas para criar uma imagem linda", comentou. Button começou a fotografar os resíduos usando luzes coloridas "para dar aquele efeito misterioso", relatou.

Ele fez uma série e deu a ela o título de "Vanishing Spirits — The Dried Remains of Single Malt Scotch" [Espíritos Evanescentes – Os Vestígios Secos de Puro Malte Escocês].

Os experimentos de Button geraram outras revelações sobre a bebida. Um uísque escocês de 12 anos forma padrões indistinguíveis de outro mais caro de 18 anos. Bourbon, o uísque americano à base de milho, também funciona, exceto no caso dos que só passaram cerca de um ano em barris.

Button ficou curioso a respeito do aspecto científico do que estava acontecendo. Ele soube que Peter J. Yunker, então na Universidade da Pensilvânia, fizera uma pesquisa sobre o efeito anel de café. Yunker, porém, não pôde ajudá-lo.

Pesquisando então na internet, Button descobriu o trabalho de Howard A. Stone.

Após comprar alguns uísques escoceses de puro malte, Stone e cientistas de seu laboratório, incluindo Hyoungsoo Kim, conseguiram criar anéis semelhantes. Então, eles começaram a fazer suas próprias misturas de partículas e líquidos para decifrar o que estava acontecendo.

No efeito anel de café, a água que seca nas bordas é reabastecida a partir do centro da gotícula, e esse fluxo fluido leva partículas para a borda, formando o anel. Yunker provou que isso nem sempre é verdade. Quando tinham a forma de grãos de arroz, em vez de esferas, as partículas deformavam a superfície da gotícula e, em vez de se aglomerarem nas bordas, formavam uma rede um tanto dispersa na parte superior do líquido e secavam uniformemente.

O grupo de Stone descobriu que a diferença-chave do uísque em relação ao café é que o primeiro é formado por dois líquidos —água e álcool etílico.

O álcool evapora mais rapidamente e, à medida que o teor de água aumenta, a tensão superficial da gotícula muda. Por sua vez, isso gera fluxos complexos que contribuem para os desenhos fotografados por Button.

Kim salienta que esse efeito é ainda mais complicado, pois a mistura artificial de água, álcool e partículas não reproduz bem os desenhos do uísque.

Aparentemente, o uísque também contém surfactante —agente químico que reduz a tensão superficial das gotículas— e polímeros que aderem ao copo, servindo de molde para os desenhos parecidos com pinceladas vistos nas imagens. Os cientistas e Button suspeitam que as moléculas entrem no uísque durante o processo de envelhecimento.

Descobrir maneiras de depositar partículas uniformemente pode ter aplicações práticas, como melhores tintas para impressoras. Stone comentou: "Eu queria ligar isso a algo mais geral nas ciências duras".

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