• Carregando...
 | Griesbach/Martucci
| Foto: Griesbach/Martucci

Numa noite fatídica de julho de 2011, a Dra. Janese Trimaldi, médica na Flórida, se trancou no quarto para se esconder do namorado bêbado. Ele foi à cozinha, pegou um facão e arrombou a porta.

Ela afirma que o rapaz tinha o dobro do seu tamanho. "Quando conseguiu entrar, me ergueu como se eu fosse uma criança, e me jogou a quase dois metros de onde estava", conta.

Um vizinho chamou a polícia. O namorado alegou que o ferimento que sangrava no peito tinha sido feito por Trimaldi com a faca. Resultado: ela foi acusada de lesão corporal e porte de arma branca.

A Promotoria acabou retirando a queixa, só que alguns meses depois sua foto apareceu num site de instantâneos policiais da Flórida ao lado de outra, de quando foi detida em 1996, acusada de posse de maconha e esteroides. Os registros mostram que ela não foi indiciada por nenhuma das acusações.

Janese pagou US$ 30 pela remoção das imagens, que logo reapareceram em outros sites, sendo que um deles pediu US$ 400 para se livrar dos retratos.

"Já soube de casos de gente que pagou e não tiraram as fotos e de pessoas que pagaram e viram as fotos irem parar em outros sites. É tudo um esquema", acrescenta, frustrada, a médica de 40 anos.

No momento ela está procurando emprego e teme que as duas imagens acabem levando a melhor sobre seus anos de experiência como médica.

Além da Dra. Trimaldi, há milhões de outras pessoas que foram parar nessas páginas e se sentem como se tivessem sido vítimas de extorsão.

Elas são legais nos EUA, mas alguns estados estão tentando se livrar delas. Os legisladores enfrentam grande resistência, principalmente de jornalistas que defendem que os dados públicos deveriam ser isso mesmo, públicos. Para o Comitê de Repórteres pela Liberdade de Imprensa, quaisquer restrições aos instantâneos vão de encontro ao direito dos editores de determinar o que é notícia ou não.

"O que temos aí é uma situação na qual algumas pessoas estão manipulando dados públicos de forma polêmica", resume Mark Caramanica, diretor do comitê, uma ONG que fica em Arlington, na Virgínia, "mas será que devemos bloquear o acesso a toda a base de dados por causa de uma meia dúzia?".

Atualmente há mais de 80 sites de fotos desse tipo; a maioria obtém as imagens de páginas policiais, cujas políticas sobre divulgação dos instantâneos e permanência dos mesmos variam de estado para estado.

O JustMugshots, criado em 2012 por Arthur D’Antonio III, de 25 anos, já tem cinco funcionários, sendo que dois passam o tempo todo selecionando imagens de 300 fontes. Segundo D’Antonio, ele já conta com 16,8 milhões de instantâneos, mas prefere não falar de lucros, limitando-se a dizer: "Estamos registrando algum crescimento".

Há também a "remoção de cortesia" que permite àqueles que foram absolvidos, ou nunca foram indiciados, retirar as imagens de graça. D’Antonio, porém, não revela quantas pessoas se beneficiaram do serviço.

Quem quiser muito fazer as fotos desaparecerem pode optar por um site de remoção, nicho que vem crescendo barbaramente nos últimos dois anos e é quase tão obscuro quanto aquele que pretende combater. "Não vou dar detalhes sobre o que fazemos; o importante é que funciona", resume Tyronne Jacques, fundador do RemoveSlander.com.

E não sai barato: o RemoveMyMug.com cobra US$ 899 pelo "pacote de instantâneos múltiplos". Pior, os donos das grandes empresas de gestão de imagem alegam que é dinheiro jogado fora.

"Eles trabalham em cima de pessoas dispostas a pagar para verem as fotos retiradas, o que sinaliza um certo desespero, ou seja, elas acabam se tornando um alvo de cobranças extorsivas", afirma Mike Zammuto, presidente da Brand.com.

As fotos parecem atrair um grande interesse. Os resultados do Google, que refletem não só relevância como a popularidade, comprovam o grande sucesso das páginas, como explica Doug Pierce, fundador da Cogney, empresa de otimização de sites de busca.

"Quando alguém faz uma pesquisa com um nome, o link para Mugshots.com chama muito mais a atenção que o perfil no LinkedIn", diz Pierce.

E acrescenta: "Clicando ali, a pessoa fica chocada, e acaba dando uma olhada mais detalhada, ou seja, permanece na página em vez de voltar à busca. O Google toma isso como sinal de que o site é relevante e aumenta sua visibilidade".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]