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Ato sindical na Venezuela; queda do preço do petróleo fez reservas caírem | Meridith Kohut/The New York Times
Ato sindical na Venezuela; queda do preço do petróleo fez reservas caírem| Foto: Meridith Kohut/The New York Times

Os cortadores de grama custaram US$ 12.300 —cada um. Depois vieram as máquinas de matar e eviscerar frangos, ao preço de US$ 1,8 milhão. Quando a polícia foi verificar, encontrou apenas um inútil amontoado de sucata enferrujada.

Houve também o caso dos empresários que cobraram US$ 74 milhões para importar substâncias químicas e outros produtos —mas quase nada chegou. Há anos a Venezuela tem um buraco em seus bolsos, um buraco enorme.

O complexo sistema cambial imposto pelo governo motiva os importadores a criarem esquemas exorbitantes, inflando muito o preço das mercadorias para poderem colocar as mãos nos dólares vendidos à taxa de câmbio mais baixa pelo governo.

Em seguida, eles simplesmente embolsam os dólares que o governo fornece, ou revendem uma parte do dinheiro com ágio no mercado negro.

Dessa forma, dezenas de bilhões de dólares que seriam necessários para a aquisição de importações vitais foram desviadas do Tesouro venezuelano, segundo as autoridades, mas a perda é especialmente dolorosa neste momento.

Com a forte queda no preço do petróleo, único produto de exportação relevante da Venezuela, o banco central local informou que as reservas de divisas, essenciais para o comércio internacional e o pagamento de dívidas, atingiram o seu menor nível em quase 12 anos.

Venezuelanos à esquerda e à direita exigem que alguém seja responsabilizado por isso. “É escandaloso”, disse Víctor Álvarez, um economista de esquerda. “É como o roubo ao qual nosso povo foi submetido na época da conquista e da colônia, quando o ouro e a prata eram levados embora às toneladas.”

Hoje, com o país em uma profunda crise econômica marcada pela recessão, pela inflação galopante e pela escassez de produtos como leite, preservativos e xampu, os bilhões que sumiram fazem falta evidente. Muitas lojas têm prateleiras vazias, e as pessoas passam horas nas filas para comprar produtos básicos.

Edmée Betancourt, ex-presidente do banco central venezuelano, disse que até US$ 20 bilhões dos US$ 59 bilhões destinados às importações em 2012 desapareceram por causa de fraudes.

A consultoria econômica Ecoanalítica estima que US$ 69,5 bilhões foram desviados em fraudes de importação entre 2003 e 2012. De acordo com esse estudo, 20% das importações feitas por empresas privadas e 40% das importações realizadas por órgãos públicos foram falsas.

Os controles cambiais lançados em 2003 pelo então presidente Hugo Chávez estão no centro dessas armações. Economistas dizem que os controles estimulam as fraudes nas importações.

“Há muitos multimilionários da Venezuela graças a esse sistema”, disse um importador de roupas, alimentos e medicamentos. Ele disse que costuma entregar apenas 10% do que declara importar oficialmente.

A Venezuela precisam importar alimentos, produtos básicos e matérias-primas para a fabricação de diversos itens.

Mas os exportadores no exterior não querem negociar em bolívares, a moeda venezuelana. Exigem dólares ou outra moeda estrangeira, como euros.

Por isso, os importadores da Venezuela obtêm uma autorização do governo para importar um produto e em seguida solicitam à agência de controle cambial os dólares necessários para selar a compra.

Um importador venezuelano pode adquirir a moeda dos Estados Unidos por 6,30 bolívares, para em seguida receber 280 bolívares por dólar no mercado negro. Os venezuelanos chamam essa operação cambial de “bicicleta”, por ser capaz de girar indefinidamente.

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