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Autoridades europeias de defesa da concorrência estão atingindo o coração da Gazprom ao esmiuçarem as políticas de preços da gigante energética russa e as conotações políticas do seu controle sobre gasodutos.

Mas as forças do mercado, mais do que as pressões regulatórias, estão se acumulando contra a empresa, que se esforça em manter o faturamento e o peso geopolítico.

Muito usada pelo presidente Vladimir Putin para promover os interesses econômicos e políticos da Rússia, a Gazprom valia-se da sua força para ditar preços e impor exigências ao fornecimento de gás natural em toda a Europa.

Isso funcionou porque os clientes tinham poucas opções. Mas a empresa russa está rapidamente percebendo que a política nem sempre faz bem para os lucros.

Essas mesmas questões dificultam suas manobras, já que a russa se vê concorrendo no mercado de gás natural contra uma ampla gama de empresas privadas, mais ágeis e eficientes, voltadas para a prospecção e transporte.

Na Europa, o gás natural liquefeito importado do Qatar sai mais barato e está tomando o lugar do russo. O papel direto da estatal na política externa do Kremlin torna a sua situação mais complicada.

A Rússia aprofundou seus laços com a Ásia, e por isso a Gazprom precisou arcar com a construção de um novo gasoduto de US$ 50 bilhões para a China, que levará anos até se tornar lucrativo.

Internamente, suas dívidas substanciais e as sanções do Ocidente por causa da crise na Ucrânia limitaram fortemente a sua capacidade de contrair crédito.

“O maior problema para a Gazprom é a sua fraqueza generalizada”, disse Matthew Rojansky, do Instituto Kennan de Estudos Russos, do Wilson Center.

“A diferença entre a Gazprom de hoje e a de 2010 é que acabou a sua capacidade de pensar como no pôquer, de simplesmente expulsar os outros da mesa com a vastidão dos seus recursos.”

Ainda assim, a política pode falar mais alto que os lucros na questão do processo antitruste.

A Comissão Europeia acusou a Gazprom de abusar da sua posição dominante ao cobrar preços mais elevados na Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia, países dependentes do gás russo.

A empresa russa negou ter violado qualquer regra, defendendo o seu modelo híbrido de estratégias corporativas e governamentais.

A empresa esperava que as autoridades aceitassem que ela tem “funções socialmente significativas e o status de uma entidade empresarial controlada pelo governo”. Esse modelo —e especificamente a sua função para o Estado— pode complicar o processo.

Apesar de as autoridades se voltarem contra uma estratégia de negócios já minguante, Putin pode não querer recuar. As decisões da Gazprom sobre os gasodutos desempenham há mais de dez anos um papel importante de política externa no Leste Europeu.

Ainda assim, analistas consideram que qualquer resposta contundente provavelmente ficaria para depois de julho, quando os países da União Europeia decidirão se irão ou não renovar as sanções financeiras à Rússia.

Em seu primeiro mandato, Putin adotou na Gazprom políticas favoráveis aos investidores, o que melhorou seus rendimentos. Quando revogou as restrições à venda de ações para estrangeiros, em 2006, os papéis da empresa dispararam momentaneamente.

A Gazprom se tornou fundamental para uma estratégia política e econômica que reafirmava a influência russa sobre as ex-repúblicas soviéticas e as nações satélites do Leste Europeu.

Países que ofereciam vantagens geopolíticas para a Rússia, como o arrendamento de uma base naval na Ucrânia, recebiam um desconto nas tarifas energéticas.

Os que não colaboravam eram penalizados, como quando a Rússia interrompeu o gás entregue à Ucrânia, em 2006 e 2009, o que acabou bloqueando também o fornecimento para a Europa. Mas a estratégia vem perdendo força.

Neste ano, o preço básico da estatal russa para o gás natural ficou em torno de US$ 330 por mil metros cúbicos. O gás liquefeito trazido do Oriente Médio em navios-tanques sai por US$ 270.

Esses preços despencaram por causa do “boom” do gás de xisto nos EUA, que esvaziou a demanda fora da Europa. Novas fontes de abastecimento de gás também devem surgir no Azerbaijão e possivelmente no Irã, se houver acordo sobre o programa nuclear.

Em meio a crescentes tensões com a Europa e os EUA, Putin vem tentando mudar o foco comercial para a Ásia. No ano passado, Moscou fechou acordos para fornecer gás para a China durante 30 anos.

Futuramente, a Rússia poderá vender mais gás à China do que à Alemanha, o seu maior cliente atual. Mas isso ainda poderá demorar anos.

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