• Carregando...

Quando uma força irrefreável como o subcontinente indiano se choca com um objeto imóvel, como a placa eurasiana, as consequências incluem as montanhas mais altas do mundo e terremotos como o que atingiu o Nepal em abril.

Muitas perguntas sobre a colisão ainda não têm resposta.

Como o subcontinente indiano chegou tão rápido ao local onde está hoje? Qual era o tamanho original da Índia? Mesmo uma pergunta muito simples —quando ocorreu o encontro entre a Índia e a Eurásia, a placa tectônica sobre a qual ficam a Europa e Ásia— é objeto de discussões. As respostas chegam a diferir em 30 milhões de anos.

Outro mistério é por que a Índia ainda está se deslocando em ritmo acelerado —entre 3,8cm e 5cm por ano—, fato que seria a causa dos terremotos devastadores.

“Pode não parecer muito, mas é o mesmo ritmo de crescimento de nossas unhas”, disse Douwe J.J. van Hinsbergen, professor de ciências da terra na Universidade de Utrecht, na Holanda.

Os geólogos são como investigadores de acidentes, tentando decifrar o que aconteceu a partir dos destroços, refletindo sobre como rochas do leito oceânico foram parar no alto do Himalaia.

Boa parte da evidência está fora de alcance: é a parte da Índia que afundou sob o Tibete e o Himalaia. Ao longo dos 4,5 bilhões de anos de história da Terra, os blocos de terra alternaram entre períodos em que convergiram, formando supercontinentes como a Pangeia, 300 milhões de anos atrás, e períodos em que se distanciaram, como hoje.

Na era dos dinossauros, a Pangeia tinha se separado em dois continentes, Laurásia e Gondwana. A Índia era uma parte de Gondwana, estando ligada à Antártida e entre a África e a Austrália.

Mais de 100 milhões de anos atrás, a Índia se separou e se deslocou em sentido norte. De acordo com a teoria amplamente aceita, esse fragmento continental “fugitivo” colidiu com a Eurásia entre 50 milhões e 55 milhões de anos atrás em um dos poucos pontos onde hoje uma parte de um continente colide com um continente, em vez de uma placa oceânica.

Mas nem todas as partes da visão convencional se encaixam perfeitamente.

Novas análises do magnetismo em rochas sugerem que a extremidade sul da Eurásia tenha estado mais ao norte do que alguns pensavam, levantando uma dúvida: se a Índia estava suficientemente perto da Ásia para fazer contato com ela nessa época.

Outra pergunta crucial: quanto da Índia desapareceu? Se a colisão ocorreu mais de 50 milhões de anos atrás, quase 3.200 quilômetros da Índia devem ter sido empurrados para baixo da Ásia.

Os cientistas concordam que alguma coisa colidiu. “A dúvida não é tanto se houve uma colisão continental 50 milhões de anos atrás, mas se isso aconteceu com a Índia”, disse Van Hinsbergen.

Em 2007, Jonathan Aitchison, hoje professor de geociências na Universidade de Queensland, Austrália, montou uma linha de tempo alternativa. A colisão que se pensava ter sido o encontro da Índia com a Ásia teria sido, na realidade, a Índia atingindo um arco de ilhas ao sul da Ásia, e 20 milhões de anos mais tarde a Índia teria empurrado essas ilhas para dentro da Ásia. “Acreditamos que as evidências indicam que a Índia convergiu com outras coisas antes da Ásia”, disse Aitchison.

Van Hinsbergen propôs outra ideia. Para ele, entre 70 milhões e 120 milhões de anos atrás, a Índia teria se dividido em duas quando se deslocava para o norte. O primeiro pedaço teria alcançado a Ásia entre 50 milhões e 55 milhões de anos atrás, mas a parte principal teria ficado para trás, indo colidir apenas entre 20 milhões e 25 milhões de anos atrás.

Os geólogos Oliver Jagoutz e Leigh H. Royden, do MIT, chegaram a uma conclusão semelhante à de Aitchison —que a Índia teria se chocado com um arco de ilhas antes de colidir com a Ásia—, mas acham que a segunda colisão ocorreu 5 milhões de anos antes do que Aitchison teoriza.

De modo geral, o movimento dos continentes é causado pelas zonas de subducção, onde uma placa tectônica passa por baixo de outra e depois afunda no manto da Terra.

Os geólogos sabiam que havia uma zona de subducção em que a placa indiana mergulha sob a Ásia. Com um arco de ilhas entre a Ásia e a Índia, haveria duas zonas de subducção atraindo a Índia, fato que explicaria seu deslocamento acelerado.

Mas nada disso explica por que a Índia ainda se movimenta tão rapidamente.

Aquilo que estava ao norte da Índia já desapareceu há muito tempo no manto, e a crosta continental não exerce a mesma força de tração para baixo.

“Ainda não está claro o que mantém a Índia se deslocando para o norte”, disse Royden.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]