• Carregando...
O jogador de futebol Nicolas Anelka usou o gesto considerado antissemita | Ian Kington/Agence France-Presse — Getty Images
O jogador de futebol Nicolas Anelka usou o gesto considerado antissemita| Foto: Ian Kington/Agence France-Presse — Getty Images

Ninguém parece saber o que significa o "quenelle", gesto com os braços inventado e popularizado por um comediante francês e amplamente criticado como antissemita. Ele realmente não é nada agradável, e parece estar se espalhando.

Fãs do artista, Dieudonné M’Bala M’Bala, lhe enviaram fotos de si mesmos realizando o gesto em frente a monumentos históricos, ao lado de autoridades públicas, em casamentos, embaixo d’água e em salas de aula –, mas também, e cada vez mais, frente a sinagogas, memoriais do Holocausto e placas de rua exibindo a palavra "judeu". Pelo menos um jovem parece ter feito um quenelle em frente a uma escola primária em Toulouse onde, em 2012, quatro judeus foram mortos por um suposto membro da Al Qaeda.

Líderes judaicos, grupos antirracismo e autoridades públicas apontaram que o quenelle, que também é o nome de um bolinho de peixe, lembra fortemente uma saudação nazista de ponta cabeça. Dieudonné insiste que o gesto não é nada além de uma piada "antissistema" para seus iniciados, em sua maioria homens jovens, alguns de subúrbios de imigrantes e alguns da extrema direita xenófoba. Mesmo assim, quando se revolta contra "o sistema" no palco ou em seus populares vídeos na internet, Dieudonné geralmente cita uma suposta quadrilha de "escravistas" judeus, governantes secretos que se ocultam sob a memória do Holocausto. O artista argumenta que os judeus reivindicaram um monopólio do status de "vítimas".

No outono no Hemisfério Norte, líderes militares descobriram que o quenelle era popular entre os soldados, e o comandante das forças armadas proibiu o gesto quando dois homens fardados da infantaria foram sancionados por fazer o gesto em frente a uma sinagoga de Paris. Recentemente, o famoso jogador de futebol francês Nicolas Anelka foi criticado por fazer o gesto durante uma partida.

Tony Parker, um astro da National Basketball Association com o San Antonio Spurs, e um colega de equipe, Boris Diaw, ambos franceses, também foram criticados por repetir o gesto. Parker divulgou um pedido de desculpas.

Anelka declarou que o gesto não era antissemita. Mas as autoridades dizem acompanhar a disseminação do quenelle com crescente preocupação. Grupos judaicos vêm pressionando o governo a agir, embora ainda não se saiba o que pode ser feito: a tradicional saudação nazista não é proibida aqui, e qualquer esforço para proibir o quenelle levantaria questões de liberdade de expressão.

Entretanto, a intervenção do governo em tais assuntos é comum por aqui, com o discurso nazista fortemente restringido por lei, recentemente o Ministro do Interior, Manuel Valls, anunciou que tentaria proibir o humorista de realizar o gesto na França.

A decisão de Valls veio após a divulgação de um vídeo onde Dieudonné lamentava que um famoso jornalista judeu não houvesse morrido "nas câmaras de gás". Sob a lei francesa, essas palavras provavelmente serão consideradas "incitamento ao ódio racial". Jacques Verdier, o advogado do humorista, disse que a frase pode render ao seu cliente dezenas de milhares de euros em multas. Não está claro, porém, se existe base jurídica para uma proibição total em seus shows.

Valls, um socialista com inclinação ao centro, recebeu apoio dos partidos tradicionais de direita e de esquerda, embora notavelmente não da Frente Nacional, o partido de extrema direita. Este último se opôs a uma proibição, posicionando-se como um defensor da liberdade de expressão.

Independente do resultado, Dieudonné , cujos vídeos online foram vistos por milhões, se encontra atualmente no centro de um debate nacional – algo que ele parece apreciar.

"Tenho a sensação de que sou apenas um intermediário, hoje, entre o povo e esse pequeno punhado de governantes escravistas", declarou ele em um vídeo recente.

Mesmo assim, ele disse não ser antissemita. De acordo com seu advogado, Verdier, o quenelle é na verdade um símbolo "antissistema, anti-elite, anti-esquerda, anti-direita" procurando provocar a indignação dos politicamente corretos. Verdier afirmou que seu cliente "desaprova" quando ele é usado para promover o antissemitismo.

Arthur Goldhammer, estudioso da política francesa na Harvard University, argumentou recentemente em seu blog contra a proibição de Dieudonné. Ele escreveu: "Isso apenas permite que ele assuma o papel de vítima da ‘elite’ para a qual o quenelle seria uma resposta".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]