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A Alemanha mostrou que o sucesso econômico traz influência política. Foi o que ela usou para rejeitar os pedidos feitos pela França e pela Itália para um tratamento mais brando à Grécia, que enfrenta uma crise.

Nem todo mundo gosta da rigidez alemã, mas a Europa deveria agradecer por ela. Embora não saibamos ainda se o último acordo resistirá, e menos se terá êxito, as exigências são necessárias para levar a Grécia de volta à saúde econômica e salvar sua participação na moeda comum.

Com muita frequência, o debate sobre a política econômica grega é simplificado como uma clássica disputa macroeconômica entre “austeridade” e “estímulo”.

As políticas fiscais prudentes, é claro, são vitais para uma economia funcional. O que recebeu menos atenção foi a necessidade de reformas estruturais na economia ineficiente e super-regulada da Grécia. Vejam, como exemplo, os medicamentos.

A Grécia é um dos poucos países europeus que fixam os preços de remédios vendidos sem receita médica, que só podem ser comercializados em farmácias licenciadas, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos.

As farmácias devem ser propriedade de farmacêuticos licenciados, e estes só podem possuir um estabelecimento. Outras regras ditam onde podem ser abertas novas farmácias, assim como seu horário de funcionamento. Em consequência, os preços para os consumidores são mais altos, assim como as margens de lucro para as farmácias.

Enquanto isso, há restrições para o ingresso em uma série de atividades, como motoristas de táxi e de caminhão, engenheiros, tabeliães e oficiais de Justiça.

A maioria das lojas é obrigada a fechar aos domingos.

A Grécia é o único país da Europa que, por lei, limita o prazo de validade do leite a cinco dias, o que leva a preços mais altos e opções limitadas para os consumidores. As padarias só podem vender pães em alguns pesos específicos. E assim por diante.

Alguns especialistas dizem que a Grécia deveria aproveitar e sair do euro, para que possa reinstituir sua moeda, o que permitiria desvalorizações monetárias destinadas a tornar suas exportações mais competitivas.

No entanto, a desvalorização aumentaria acentuadamente o custo dos produtos e serviços importados (mais de um terço da economia grega), aumentando a taxa de inflação e reduzindo ainda mais o poder aquisitivo dos consumidores gregos.

Os defensores da Grécia dizem que o país já tomou remédios demais, como a reforma dos planos de aposentadoria pública excessivamente generosos. O gasto geral do governo grego caiu 30% desde que incharam durante a crise financeira.

Porém, essas declarações são meias verdades, no sentido de que os cortes médios se seguem a anos de enormes concessões.

Vejam, por exemplo, as aposentadorias. Antes do primeiro socorro ao país, a idade de aposentadoria era 60 para as mulheres e 65 para os homens. Em certas profissões “árduas” —incluindo, por exemplo, cabeleireiros— os gregos se aposentavam aos 55.

Enquanto esse sistema foi substituído pela aposentadoria aos 67 anos para homens e mulheres e as brechas foram substancialmente reduzidas, algumas continuaram intocadas, particularmente a capacidade de os trabalhadores mais velhos se aposentarem nas mesmas condições anteriores. Estes vêm se aposentando aos bandos, pressionando os gastos do governo e encolhendo a força de trabalho.

De maneira semelhante, a Grécia tem um sistema fiscal que parece um queijo suíço, em que grandes partes da economia (como eletricidade, hotéis e muitas das ilhas do país) gozam de um índice menor de imposto sobre valor agregado. Pelo acordo, haveria uma alíquota de imposto mais alta para todos, com raras exceções.

Os prazos rígidos para a implementação são notáveis, uma manifestação da baixa confiança entre a Grécia e outros membros da zona do euro. O país em dificuldades ganhou apenas três dias para adotar como lei algumas das mudanças mais importantes nos sistemas de impostos e aposentadorias.

Esse tratamento duro é atribuído ao constante fracasso da Grécia em instituir reformas, tanto as que deveriam ser obviamente desejáveis quanto as que o país concordou em instituir como parte de ajudas anteriores.

Ao eleger o partido Syriza em janeiro e depois votar “não” em 5 de julho para uma oferta de resgate da Europa, a Grécia prestou a si mesma um enorme desserviço, pois agora está sendo obrigada a fazer mudanças mais draconianas.

A Alemanha e os outros “cuidadores” da Grécia reconhecem a precária situação econômica do país e estão oferecendo um prazo mais longo para o pagamento da dívida e 35 bilhões de euros em fundos de investimento, se as reformas exigidas forem implementadas.

Nesse cenário, os membros da zona do euro deveriam abrir mais suas carteiras para ajudar a Grécia a sair de uma crise pior que a Grande Depressão nos Estados Unidos.

O último rumo dos acontecimentos é extremamente impopular na Grécia. É compreensível. Porém, na realidade, a Alemanha e outros países europeus de mentalidade rígida deveriam receber agradecimentos por obrigar a Grécia a colocar sua economia no século 21.

Se a Grécia decidir não colaborar, só poderá culpar a si mesma.

Steven Rattner é executivo de Wall Street.

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