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Empresa grega de produtos de limpeza conseguiu se recuperar da crise econômica ao aderir a novo modelo de comércio | Angelos Tzortzinis para The New York Times
Empresa grega de produtos de limpeza conseguiu se recuperar da crise econômica ao aderir a novo modelo de comércio| Foto: Angelos Tzortzinis para The New York Times

O dono de uma pequena empresa familiar de detergentes nunca teve paciência com anticapitalistas incendiários. Assim, reagiu com ceticismo e desconfiança quando foi procurado por ativistas de esquerda que faziam campanha para varrer os "aproveitadores" do mercado.

Contudo, com dificuldades para manter seu negócio solvente, diante do peso de faturas não pagas e constantes exigências de propinas, o pequeno empresário, Savros Mavromatis, decidiu apostar na proposta dos ativistas. Começou a vender seus produtos diretamente aos consumidores, à vista e a preços fixos, por meio de um coletivo sem fins lucrativos, em vez das lojas e dos comerciantes de sempre.

Quatorze meses depois, Mavromatis, 46, vê o grupo como responsável por ter salvado sua empresa de um derretimento econômico comparável à Grande Depressão. "Estamos no meio de uma crise terrível e só queremos encontrar soluções", disse Elias Tsolakidis, a força motriz do chamado "movimento sem intermediários" no norte da Grécia —um esforço pequeno, quixotesco, mas surpreendentemente bem-sucedido para redefinir os termos do comércio. "Não temos varinha mágica. Não somos comunistas nem capitalistas, só queremos ajudar as pessoas a sobreviver."

Na busca por soluções, os gregos estão mexendo com um novo tipo de economia que tem poucos precedentes na Europa moderna.

Empreendimentos experimentais, como aquele no qual Mavromatis ingressou, vêm surgindo nas margens de grandes e pequenas cidades em toda a Grécia, num esforço para combater a crise econômica, de baixo para cima.

Tsolakidis organiza as fileiras do movimento sem intermediários em sua região por meio de um coletivo sem fins lucrativos, o Grupo de Ação Voluntária de Pieria. O movimento procura eliminar atacadistas, gerentes de lojas, burocratas estatais ou qualquer outra figura intermediária entre produtores e consumidores. O grupo de Tsolakidis tem um site na internet onde os pedidos são registrados com antecedência e depois distribuídos aos consumidores em mercados, por valores fixos pagos em dinheiro vivo.

Seu grupo tira uma pequena porcentagem para cobrir suas despesas, mas não paga salários a seus membros, que são mais de 3.500 voluntários. O grupo é um elo pequeno numa cadeia de empreendimentos que visam criar uma economia "social" paralela. Tudo começou com a chamada "revolução das batatas", movimento agora nacional que reduziu o preço das batatas, levando os produtores a vender diretamente aos consumidores.

Um produtor que aderiu ao movimento é Christos Kalaitzis, 53. Ele e sua mulher cultivam kiwis, azeitonas e grão de bico em sua fazenda perto do monte Olimpo. Ele reconheceu que inicialmente também ficou cético, mas estava tão farto de levar calote de grandes atacadistas e exportadores que resolveu arriscar.

"O objetivo não é destruir o velho sistema de mercado, mas desacelerá-lo e fazê-lo mudar", explicou. "Se o livre mercado funcionasse corretamente na Grécia, nada disso seria necessário."

Fiori Zafeiropoulou, especialista em maneiras de misturar metas sociais e iniciativas comerciais, assessorou políticos que redigiram uma nova lei que confere status legal a "empreendimentos cooperativistas sociais" que combinam interesses comerciais e benefícios sociais.

De acordo com ela, os avanços muitas vezes têm sido lentos porque "na Grécia existe um problema que se chama corrupção". Essa cultura da corrupção envolve a obtenção de favores do Estado e a exigência de propinas.

Savros Mavromatis, o fabricante de detergente, disse que os gerentes de compras dos supermercados, quer pertençam a gregos ou a estrangeiros, exigem propinas até mesmo para marcar uma reunião de apresentação de produtos. Além disso, pedem dinheiro para garantir que produtos sejam expostos com destaque.

Mavromatis contou que, quando começou a vender por meio do grupo sem intermediários, "eu estava tão acostumado a tratar com supermercados que ficava esperando a hora em que me pedissem dinheiro por baixo do pano. Mas ninguém pediu nada, e eu não paguei nada".

Hoje Mavromatis é presença constante nos mercados sem intermediários. Embora receba um preço um pouco menor do que antes por seus produtos, ele não precisa mais se preocupar em pagar propinas ou receber cheques sem fundos. Enquanto isso, famílias gregas em situação difícil têm a chance de obter detergente doméstico, frutas e inúmeras outras mercadorias por uma fração do preço de mercado normal.

Com dinheiro sobrando pela vez desde que a economia grega entrou em queda livre, em 2008, Mavromatis comprou um caminhão Mercedes-Benz para transportar detergentes de sua fábrica e ampliou sua linha de produtos para incluir papel higiênico. Mesmo depois de seis anos seguidos de recessão, explicou, "as pessoas ainda precisam lavar roupa, lavar a louça e ir ao banheiro".

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