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A maioria dos pacientes de um hospital judeu em Teerã, são muçulmanos | Morteza Nikoubazi Para The New York Times
A maioria dos pacientes de um hospital judeu em Teerã, são muçulmanos| Foto: Morteza Nikoubazi Para The New York Times

Sentado em seu consultório no único hospital judaico de Teerã, Ciamak Morsadegh acendeu um cigarro e se lembrou de como sua esposa deixou o Irã para ir aos Estados Unidos mesmo depois que ele insistiu para ficarem.

O Dr. Morsadegh , o diretor do Hospital Dr. Sapir e do Centro de Caridade daqui, disse que ao contrário de milhares de outros judeus, ele nunca pensou em deixar a República Islâmica, pela simples razão de que o Irã é seu lar.

"Eu falo Inglês, rezo em hebraico, mas penso em persa", disse o Dr. Morsadegh, um cirurgião que também é membro do Parlamento. "Eu sou iraniano. Iraniano judeu".

Muitos ficaram surpresos este mês, quando o governo do presidente Hassan Rouhani doou US$ 400 mil ao Hospital Dr. Sapir, mas o Dr. Morsadegh não foi um deles. "Nós, judeus, fazemos parte da história do Irã", disse.

O hospital fica em frente à escola Seminário Reza Imam, um dos mais antigos seminários xiitas no Teerã. Embora o hospital possa parecer estar no lugar errado, a população local parece discordar isso.

"Quando estou doente, é só atravessar a rua", disse Mohammad Mirghanin, um seminarista. "Eles podem ser de outra religião, mas são compatriotas iranianos".

O hospital, cujo nome é uma homenagem a um médico judeu que morreu em 1921 tentando curar pacientes durante uma epidemia de tifo no Teerã, começou como uma clínica onde todos os iranianos podiam vir para obter cuidados médicos por preços muito reduzidos. Há mais de 50 anos, ele tem sido ponto de encontro para iranianos judeus e muçulmanos.

"Cerca de 96 por cento dos pacientes são muçulmanos, como a maioria dos funcionários do hospital, mas o que realmente importava era a mensagem de que todas as pessoas podem vir aqui, a despeito de religião, cor ou raça", disse Khoddad Asnashahri,

Embora a população judaica do Irã esteja diminuindo ̶ agora cerca de 9 mil, segundo censo oficial, mesmo que outras estimativas calculem até 20 mil ̶ o país tem o maior número de judeus do Oriente Médio depois de Israel.

O Dr. Morsadegh não vai dizer que a situação para judeus e outras minorias religiosas oficiais como cristãos armênios, assírios, caldeus e zoroastristas é perfeita no Irã. As cinco minorias gostariam de ver uma mudança na lei islâmica que permitisse que a mudança de sua fé ao Islã lhe garantisse toda a herança de sua família não muçulmana, por exemplo. No entanto, as coisas são piores para os cristãos evangélicos e bahais, que podem enfrentar a prisão e, em muitos casos, a exclusão do ensino superior.

Em setembro, o Dr. Morsadegh acompanhou o Presidente Rouhani em sua viagem às Nações Unidas em Nova York. Alguns no Irã sugeriram uma ligação entre a doação financeira do presidente para o hospital e a defesa entusiasmada do Dr. Morsadegh a respeito do Irã e da posição dos judeus no país.

Contudo, o médico não se incomoda com essas questões. "Eu ajudei na guerra contra o Iraque como médico de primeiros socorros e eu faria tudo de novo".

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