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Kapol Thongplub ouve histórias de fantasmas no rádio há vinte anos | Guilio Di Sturco /The New York Times
Kapol Thongplub ouve histórias de fantasmas no rádio há vinte anos| Foto: Guilio Di Sturco /The New York Times

Pouco depois da meia-noite, tocou o telefone da rádio onde Kapol Thongplub apresenta um programa dedicado ao sobrenatural. A ouvinte ligou para contar que tinha acabado de encontrar um fantasma em um quarto de hotel da cidade.

“Vi alguém de pé, no meu quarto. Uma mulher”, diz ela.

“Viu o rosto dela?”, Kapol perguntou no ar.

“Ouvi uns ruídos, parecia uma oração indiana e senti uma pressão forte no corpo”, continua a fã.

Kapol ouve histórias fantasmagóricas como essa há mais de duas décadas, ou desde que passou a apresentar “The Shock”, que vai ao ar da meia-noite às três da manhã e transmite histórias de aparições contadas por seus ouvintes – motoristas de táxi, seguranças, estudantes e qualquer um que esteja acordado a essa hora.

Kapol, mais conhecido por seu apelido, Pong, se tornou o maior especialista em fantasmas em um país que os leva muito a sério – e aparentemente está cheio deles.

Ele afirma que há mais de cem tipos de assombrações na Tailândia, incluindo o Pi Pob, que entra no corpo das pessoas e as possui; Preta, versão alta e magra que busca vingança entre os vivos; Phi Lung Kluang, variedade comum no sul que assume a forma humana, mas tem um buraco nas costas, expondo o esqueleto, e as viúvas fantasmas do nordeste, que roubam homens das mulheres vivas.

A crença no sobrenatural faz parte do dia a dia da Tailândia: ministros abrem seus gabinetes em dias “auspiciosos” e sabe-se que até os generais poderosos consultam videntes antes de tomarem decisões importantes – como dar um golpe de Estado, por exemplo. Os adivinhos são consultados por todos, desde os executivos antes de assinarem acordos multimilionários a estudantes com dúvidas sobre a carreira e casais que querem ter filhos.

E parece que a elite política local é a mais supersticiosa: quando a imagem de um ex-primeiro-ministro, Samak Sundhornvej, surgiu no telão do Parlamento logo após sua morte, em 2009, seu líder abriu uma investigação e não encontrou explicações terrenas para o fenômeno.

Bancoc tem um shopping center temático, revistas cheias de histórias fantasmagóricas, programas de TV no horário nobre sobre o assunto e atrações em que os videntes falam de tudo, de conselhos profissionais a números da loteria. Kapol, porém, prefere ficar só com os fantasmas, temática admirada pelos fãs mais puristas.

“Adoramos Pi Pong”, afirma Sirichai Suebua, ator de 37 anos de ópera tailandesa tradicional que ouve o programa. (“Pi” é a palavra tailandesa para “irmão mais velho”, mas também pode significar “fantasma”.)

Kapol admite que nunca viu uma assombração. “Fico todo arrepiado e tenho a sensação de que há alguma coisa ali, mas não consigo ver nada. Não tenho o sexto sentido para isso”, lamenta.

Hoje, aos 48 anos, ele possui vinte funcionários e um pequeno império, suficiente para comprar uma casa e um carro para os pais, além de pagar pela operação de rim do pai.

“Os fantasmas me deram emprego e uma carreira. Tenho medo deles, mas não posso deixar de amá-los”, reconhece.

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