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Saul Williams, no centro, como John em “Holler if Ya Hear Me”, um musical baseado nas músicas e letras de Tupac Shakur | Fotos: Fred R. Conrad/The New York Times
Saul Williams, no centro, como John em “Holler if Ya Hear Me”, um musical baseado nas músicas e letras de Tupac Shakur| Foto: Fotos: Fred R. Conrad/The New York Times
  • Williams e Christopher Jackson têm passado no hip-hop

Na primavera de 2001, Todd Kreidler se encontrou com seu chefe, o dramaturgo August Wilson, para um café da manhã. Kreidler estava ajudando Wilson com uma peça, mas na verdade estava ali para aprender o que Wilson quisesse lhe ensinar. E naquela manhã, o assunto era Tupac Shakur.

Wilson estava exasperado com sua carga. "Você não conhece de verdade ‘Dear Mama’", disse ele, referindo-se ao famoso hino de Shakur a sua mãe. Wilson comprou uma cópia do álbum "Me Against the World" e a colocou nas mãos de Kreidler.

"Não há nada em sua vida que não esteja contido nessa música", lhe disse Wilson. "Há amor, honra, dever, traição, o amor de um povo. Há um universo completo nessa música!". Kreidler só poderia voltar aos ensaios depois de absorver aquilo tudo.

Assim, em 2010, quando Kreidler abriu um pacote com 23 dos CDs de Shakur e dois livros de seus escritos, encarregado de criar um musical baseado nas palavras daquele rapper, ele estava preparado.

O resultado é "Holler if Ya Hear Me", que estreou em Nova York em 19 de junho, e transforma 21 canções de Shakur numa história sobre uma comunidade lutando para encontrar esperança em meio a profundos males sociais. Em outras palavras, não é bem uma versão para Broadway da vida ou da visão de Shakur, mas uma redefinição de suas palavras num contexto emocional e voltado para a família.

"É uma história sobre amor incondicional que eleva todas as palavras dele", explicou Kenny Leon, o diretor do musical.

Mas ainda não se sabe se as plateias comuns da Broadway, ou mesmo os espectadores de teatro negros de classe média, poderão abrir espaço em seus corações e carteiras para as palavras de Shakur. O hip-hop já esteve na Broadway anteriormente, mas o espetáculo "In the Heights" (premiado com um Tony) testou as águas que antes eram exclusivas do Off Broadway, e não teve de lidar com um astro que as pessoas consideram controverso mesmo anos após sua morte.

A produção de US$ 8 milhões está estreando diretamente na Broadway. Depois que produtores influentes preferiram não se envolver, Eric Gold, antigo agente de Hollywood, e Shin Chun-soo, empresário do teatro sul-coreano, investiram.

Assassinado em 1996 num caso ainda sem solução, Shakur segue como uma das figuras mais celebradas do hip-hop. Ele era prolífico e contraditório, filho de ativistas. Assinou com a Death Row bem tarde em sua carreira, a gravadora que estourou o "gangster rap".

Em grande parte, "Holler if Ya Hear Me" – cujo título vem de uma canção de Shakur – passa longe de uma biografia, por razões artísticas, e porque a equipe criativa não possuía os direitos para a história da vida de Shakur.

"Holler" é o resultado de quase 15 anos de conversas entre Afeni Shakur, mãe do rapper, que também é uma das produtoras do musical, e Leon e Gold.

"Para contar sua história direito, é preciso explicar o contexto mais amplo da experiência negra nos Estados Unidos", afirmou Gold. Tanto ele quanto a Sra. Shakur acharam que Wilson, duas vencedor do Prêmio Pulitzer por trabalhos em seu ciclo de 10 peças sobre a vida afro-americana, era a pessoa certa para a tarefa. Wilson recusou, e depois que ele morreu, em 2005, o projeto ficou no limbo durante vários anos, até Leon se juntar com Kreidler.

"O fato de os críticos muitas vezes classificarem Pac como contraditório faz disso um grande material dramatúrgico", declarou Kreidler sobre o processo pelo qual dissecou letras para formar uma narrativa. "Eu não queria inventar uma história e encaixar Tupac nela. Queria ir de dentro para fora".

O resultado é uma visão inesperadamente utópica sobre a obra de Shakur. Ao dividir suas canções entre diferentes personagens, Kreidler afirmou uma posição filosófica: a ideia de que Tupac Shakur é universal, que uma parte dele pode ser encontrada em todos.

A história gira em torno de um grupo de amigos que se reúne numa quadra: suas famílias, suas boas e más escolhas, seus relacionamentos fracassados.

Christopher Jackson interpreta Vertus, um durão reformado tentando encontrar seu caminho para a luz. Saul Williams está no papel crucial de John, recém-saído da prisão e confrontado pela consciência.

Tanto Williams quanto Jackson têm origens que abrangem hip-hop e o teatro tradicional. Williams, um dos grandes poetas de palavra falada nas décadas de 1990 e 2000, recordou-se de quando interpretou canções de hip-hop para testes na escola de teatro. Jackson faz parte de uma trupe de improvisação de hip-hop. E ambos sentiram uma ligação visceral com Shakur: os dois se lembraram de cair em lágrimas quando souberam de sua morte.

"Pac era muito perspicaz", afirmou Williams. "’I Ain’t Mad at Ya’, ‘Dear Mama’, ouça essas músicas. É incrível a quantidade de paixão, vulnerabilidade e empatia em suas letras. Eu nunca tinha ouvido uma referência a um rapper levar às lágrimas tanto como Pac".

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