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O sudanês Ismael foi pego tentando sair da Grécia escondido debaixo de um caminhão | Lynsey Addario/The New York Times
O sudanês Ismael foi pego tentando sair da Grécia escondido debaixo de um caminhão| Foto: Lynsey Addario/The New York Times

Em meio aos pedaços podres de madeira e pilhas de lixo de uma fábrica abandonada, um afegão lavava roupa; o outro se barbeava com a água fria de uma mangueira meio partida. O clima era sombrio.

A polícia tinha dado uma batida no lugar ao raiar do dia, levando mais de trinta amigos dos dois, na maioria adolescentes.

Os homens acabam aqui porque, graças à fronteira com a Turquia, é mais fácil chegar à Grécia do que à maioria dos países da Europa Ocidental — e depois de uma viagem longa e cheia de perigos, eles se veem não na terra das oportunidades com que sonhavam, mas sim em um país com dificuldades para cuidar de seu próprio povo e hostil em relação aos imigrantes que chegam do Afeganistão, Irã, Sudão e outros lugares.

Para os estrangeiros, o resultado é desilusão, desespero e, para muitos, a determinação de fazer outra viagem arriscada. Os homens esperam escapar nas balsas que saem do outro lado da rua, rumo à Itália e dali, quem sabe, para outros lugares da Europa.

Uma instituição de caridade fornece café da manhã, banho e acesso à Internet para os adolescentes, mas os mais velhos não recebem esse tipo de ajuda. Grupos de defesa denunciaram a Grécia pelas condições deploráveis de seus centros de detenção e, mais recentemente, por forçar os imigrantes a voltarem para a Turquia.

Alguns dos jovens que tentam entrar nas balsas contam como o Talibã invadiu suas aldeias, como tiveram que sair fugidos, vagando de país em país depois que os pais morreram. Alguns mostram as cicatrizes.

Há quem diga que muitos desses homens têm expectativas pouco realistas sobre o que vão encontrar na Europa. "Mas o que se pode dizer?", questiona Christina Tampakopoulou, do Movimento de Defesa dos Direitos dos Refugiados e Imigrantes. "Aqui está pior".

No início da tarde, eles começaram a se espremer entre as barras da cerca à volta do terminal. Os jovens podiam ser vistos correndo em meio às carretas, procurando algum contêiner destrancado ou um jeito de conseguir uma carona sob a carroceria.

Os inspetores não tiveram dificuldade para encontrar Mohammed Morsal, de 27 anos, encolhido no espaço do pneu sobressalente de um caminhão. Em dois minutos estava algemado.

Quando perguntei se a família sabia onde ele estava, o rapaz, que é do Sudão, começou a soluçar. "Estão todos mortos", disse, antes de ser levado.

Tryfon Korontzis, capitão da Guarda Costeira que supervisiona o porto, conta que quase todos os dias seus funcionários encontram dois ou três homens escondidos nos caminhões.

Liberado após seis horas de detenção, Morsal voltou para a fábrica de pneus, onde vive em um dos colchões espalhados pelo chão.

Ele conta que pediu refúgio há cinco anos, mas o seu caso é um dos 25 mil que aguardam solução. Segundo as estatísticas da União Europeia, a Grécia concedeu asilo a menos de cinco por cento dos requerentes em 2013.

"A gente tem que comer lixo feito animal. O pessoal anda de moto por aí e joga garrafas em nós", conta Morsal.

Ele tenta encontrar emprego, como a maioria daqueles que vivem nas fábricas. Trabalhou nos campos de morango durante um mês, mas o produtor não lhe pagou.

Segundo as regras do continente, agora que deu entrada com o pedido de refúgio na Grécia, não pode fazê-lo em nenhum outro lugar. "Ele não tem opção", sentencia Daniel Esdras da Organização Internacional para a Imigração, em Atenas, que ajuda os imigrantes a voltarem para casa. Só no ano passado, dez mil optaram por esse caminho.

Mohammed Riza disse que não poderia voltar ao Irã. Ele dava aulas de inglês e vivia com os pais até que as autoridades souberam de seu interesse no Cristianismo e a polícia veio procurá-lo. E concluiu: "No meu país, você pode ser enforcado por isso".

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