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Segurança particular vigia pizzaria em Porto Príncipe, no Haiti | Ian Willms para The New York Times
Segurança particular vigia pizzaria em Porto Príncipe, no Haiti| Foto: Ian Willms para The New York Times

Quando voltou do exílio para o Haiti, há três anos, Jean-Bertrand Aristide, o ex-padre que virou presidente e depois foi deposto, prometeu ficar longe da política.

Ainda assim, o partido político que ele fundou e continua a inspirar levou milhares de pessoas a protestar contra o atual governo, exigindo a renúncia do primeiro-ministro.

Quando o ex-ditador Jean-Claude Duvalier retornou do exílio alguns meses antes de Aristide, limitava-se a frequentar casas noturnas e a se defender contra investigações sobre as atrocidades contra os direitos humanos cometidas durante seu governo. Mas, recentemente, apareceu em um vilarejo à beira-mar para inaugurar um novo partido político.

Já o atual presidente, Michel Martelly, segue emaranhado num impasse com adversários políticos sobre eleições mais do que atrasadas, atraindo ondas de dignitários internacionais que tentam neutralizar uma crise que poderia deixar o país sem um Parlamento e com um presidente governando por decreto.

A história da demorada reconstrução do Haiti depois do terremoto de janeiro de 2010 é, em grande parte, consequência das promessas não atendidas de bilhões de dólares em ajuda da comunidade internacional. Apesar disso, também o latente e incerto cenário político que permanentemente empurra o país para a beira da instabilidade tem inibido o tipo de investimento privado vital para o desenvolvimento de longo prazo.

"É frustante ver como os líderes haitianos estão mais interessados em lutar entre si do que se unir para trabalharem juntos pelo futuro do Haiti", disse Robert Maguire, da Universidade George Washington, em Washington.

"As oportunidades estão sendo desperdiçadas no Haiti, justo quando o país precisa mais do que nunca delas, porque a política está muito polarizada".

Martelly e o Parlamento não conseguem chegar a um acordo sobre como as eleições legislativas e municipais previstas para outubro serão conduzidas. Sem eleições, o Parlamento poderia ser dissolvido em janeiro, jogando o país num caos político.

Mesmo se as eleições de fato forem realizadas, as coisas podem ficar complicadas: dois terços dos 30 membros do Senado, todos os 99 assentos na Câmara de Deputados e centenas de prefeituras estão em jogo. Ambos os lados trocam acusações pela falta de vontade em assumir compromissos.

Martelly, dizem seus adversários, sempre quis governar por decreto e, por isso, tem adiado negociar sobre as eleições. Os partidários de Martelly argumentam que os membros do Parlamento estão parados porque querem estender seus mandatos e enfraquecer o presidente diante da eleição presidencial em 2015.

Martelly agora tenta avançar as eleições com a nomeação de um conselho para conduzir o processo. Embora um punhado de novos hotéis tenha sido aberto ou esteja em construção, algumas fábricas tenham sido inauguradas e a criminalidade tenha diminuído, existe a sensação de que a reconstrução do Haiti está longe de acontecer. A eletricidade ainda vai e vem, as estradas permanecem congestionadas e esburacadas, o lixo entope os canais de drenagem e 137 mil pessoas continuam em acampamentos.

"Na mídia, eles dizem que estão fazendo isso e aquilo, mas não por aqui —está tudo igual", diz Jean Lucknef, 38, que está desempregado. "Não importa quem seja eleito, é tudo a mesma coisa."

O impasse pode continuar. O presidente do Senado, Simon Desras, não parece ter uma atitude conciliatória, acusando Martelly e seu primeiro-ministro, Laurent Lamothe, de, na melhor das ipóteses, violar a Constituição e, na pior, de corrupção.

"Eles não veem o perigo nas ruas, que muitos senadores e membros do Congresso poderiam se tornar militantes", disse. "O país pode mergulhar num caos se não houver eleições".

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