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Acusado de criar uma “Sotheby’s do mercado negro” | Amirtharaj Stephen/ The New York Times
Acusado de criar uma “Sotheby’s do mercado negro”| Foto: Amirtharaj Stephen/ The New York Times

Museus e colecionadores de todo o mundo pagavam milhões de dólares pelas antiguidades hindus, budistas e do sul da Ásia negociadas por Subhash Kapoor.

Uma figura de Shiva dançando, de 900 anos, foi comprada pela National Gallery da Austrália. O Museu de Arte de Toledo, Ohio, adquiriu uma estatueta em bronze de Ganesha de mil anos. Em Manhattan, o Metropolitan Museum of Art agradeceu publicamente Kapoor ao ser presenteado com 58 desenhos indianos em miniatura.

Hoje, no entanto, Kapoor está sendo investigado em dois continentes, suspeito de comandar uma operação de contrabando de arte de US$ 100 milhões.

Investigadores americanos e indianos dizem ter compilado um enorme dossiê contra o marchand. Segundo autoridades, Kapoor é, em termos de volume e valor, o maior contrabandista de antiguidades da história americana.

O marchand nega ter cometido qualquer ilegalidade. Um de seus advogados, S. Kingston Jerold, disse que seu cliente só trabalhava com réplicas e nunca exportou ou comprou antiguidades reais.

As principais provas do crime, segundo os investigadores, são quase inimagináveis 2.622 objetos, no valor total de US$ 107,6 milhões, confiscados principalmente de depósitos nos EUA. Virtualmente todos vieram da Índia.

O investigador James T. Hayes Jr. descreve Kapoor como “um dos maiores contrabandistas de bens do mundo”.

“Às vezes temos um indivíduo que contrabandeou alguns artefatos”, disse. “O que nunca tínhamos visto antes é alguém que basicamente criou uma ‘Sotheby’s’ do mercado negro”, disse, em referência à famosa casa de leilões.

Desde 2011, quando as autoridades indianas o prenderam por roubo e contrabando, Kapoor está detido numa prisão de Chennai (antes conhecida como Madras), cidade portuária na baía de Bengala, aguardando julgamento.

Quando o processo chegar ao fim, promotores americanos esperam extraditá-lo para os EUA para que ele enfrente acusações criminais que incluem a de receptação.

Segundo a polícia indiana, Kapoor já era ativo como negociante de antiguidades quando, em 2005, conheceu Sanjivi Asokan em um hotel da cidade. Os dois então passaram a trabalhar juntos.

De acordo com os investigadores, a dupla traçou um plano simples para roubar objetos de dezenas de templos antigos que, basicamente, não eram vigiados por ninguém. Dezenas dos ídolos de bronze e ferro do século 11 vendidos por Kapoor vieram do templo Varadharaja Perumal, no povoado de Suthamalli.

O sacerdote do templo, Balakrishnan Gurukkal, descobriu o roubo em 14 de abril de 2008.

O templo tinha sido no passado um local ativo de culto, mas os moradores da região tinham passado a frequentar outro templo nos arredores, e Gurukkal não ia ao lugar havia meses.

Investigadores determinaram que o roubo tinha ocorrido um pouco mais de um mês antes. A partir desse momento, os artefatos tinham ido de Suthamalli a Chennai, de lá para Hong Kong e depois para Londres e Nova Jersey. Então, tinham sido rotulados como artesanato de baixo preço e deixados no repositório em Nova York controlado por Kapoor.

Em janeiro de 2012, as autoridades invadiram e revistaram a galeria de Kapoor em Nova York e dois de seus depósitos. Ali, segundo documentos do processo, confiscaram antiguidades no valor de US$ 20 milhões, apreenderam documentos e dados relativos a décadas de transações e interrogaram o gerente do escritório de Kapoor, Aaron W. Freedman.

O gerente vinculou o marchand a incontáveis vendas ilegais, formulários de alfândega e notas fiscais falsificados e transferências bancárias a Asokan de valores de seis algarismos. Depois de 12 revistas nos depósitos, entre 2012 e 2014, as autoridades tinham 2.622 artefatos em custódia.

Kapoor contava com amigos no ramo do comércio de objetos de arte para criar cartas falsificadas, segundo autoridades, alegando que os artefatos contrabandeados tinham um histórico de propriedade fora da Índia anterior aos roubos dos templos.

Uma marchand de Cingapura que ofereceu testemunho por escrito em favor de Kapoor foi Paramaspry Punusamy, uma ex-namorada dele. Segundo as autoridades indianas, Punusamy virou testemunha de acusação contra Kapoor em 2011, depois que ela e ele romperam e moveram processos um contra o outro em Cingapura, cada um reivindicando a propriedade de objetos que não lhes pertenciam de fato.

“É ela quem está por trás de tudo isso”, disse o advogado de Kapoor, Kingston Jerold. “Trata-se de uma tentativa de vingança.”

Hoje o templo Varadharaja Perumal, em Suthamalli, está mais ou menos abandonado. Gurukkal, o sacerdote, vai a Suthamalli apenas nos dias mais auspiciosos para acender pequenas lamparinas de óleo. “Não sei se Kapoor será punido, mas eles precisam nos devolver os ídolos”, disse o sacerdote. “É só isso que pedimos.”

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