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Cerca de 700 fábricas de roupas em Bangladesh já foram inspecionadas por duas organizações de varejistas ocidentais | Tomas Munita /The New York Times
Cerca de 700 fábricas de roupas em Bangladesh já foram inspecionadas por duas organizações de varejistas ocidentais| Foto: Tomas Munita /The New York Times

Desde que a malharia Spectrum desmoronou, em 2005, matando 64 operários, quase nada mudou para melhor na segurança das fábricas em Bangladesh.

Depois, em 24 de abril do ano passado, a fábrica Rana Plaza, perto de Dacca, desabou, matando 1.129 trabalhadores, no pior desastre já ocorrido na indústria do vestuário.

E isso aconteceu apenas alguns meses depois do incêndio na Tazreen Fashions, que terminou com a morte de 112 operários.

Reagindo à indignação da opinião pública, marcas de roupas e varejistas ocidentais lançaram uma grande ofensiva para melhorar a segurança nas fábricas dos seus fornecedores.

Trata-se de um esforço para inspecionar centenas de fábricas a cada mês e do compromisso de ajudar a corrigir os problemas de segurança encontrados.

Mas, em vez de unirem forças, as marcas ocidentais se dividiram em dois campos eventualmente antagônicos —um resultado, dizem alguns, que prejudica a elogiada iniciativa.

Um desses grupos, chamado Convênio de Bangladesh para a Segurança Predial e de Incêndios, tem mais de 150 integrantes, incluindo muitas marcas europeias, como H & M, Mango e Carrefour, além de 14 empresas americanas.

O outro grupo –a Aliança para a Segurança dos Trabalhadores de Bangladesh– é composto por 26 companhias, todas elas americanas ou canadenses, incluindo Walmart, Gap, Target e Kohl.

Alguns membros da Aliança dizem que ela tem feito mais inspeções que o Convênio, dominado pelos europeus, enquanto integrantes do segundo afirmam que as inspeções do primeiro são menos rigorosas.

Os integrantes do Convênio dizem trabalhar em conjunto com sindicato e contar com forte colaboração dos trabalhadores, ao passo que os membros da Aliança afirmam que os rivais não pagaram os trabalhadores demitidos de uma fábrica interditada por problemas graves.

A Aliança inspecionou 400 fábricas até abril e tem como meta visitar as 630 instalações de seus membros até 10 de julho. Por outro lado, o Convênio revistou 300 fábricas e estima chegar até o fim de outubro com suas 1.500 fábricas até o final de outubro.

Os inspetores encontraram problemas graves: edifícios com rachaduras nas colunas devido à sobrecarga, depósitos de tecido inflamável ​​ao lado de espaços de trabalho, escadas de incêndio que levam ao chão da fábrica, em vez de terminarem fora do prédio.

O custo para a correção dos problemas pode ser substancial —de vários milhares de dólares por algumas portas corta-fogo até US$ 250 mil (R$ 555 mil) para um sistema de "sprinklers".

"Encontramos problemas em todas as fábricas que já inspecionamos", disse Brad Loewen, inspetor-chefe de segurança do Convênio.

"Há portões com trancas em 90% das fábricas, e ocasionalmente elas estão trancadas quando os nossos engenheiros chegam lá."

Como resultado das inspeções do Convênio, quatro prédios fabris foram interditados por risco de desabamento, e o Convênio solicitou a uma comissão governamental que feche outros quatro.

Alguns membros da Aliança criticam o Convênio por não ter pagado os salários aos mais de 2.500 operários da fábrica Softex quando ela foi interditada, em março, depois de inspetores relatarem problemas estruturais que precisavam de atenção urgente.

A Aliança diz ter um fundo de US$ 5 milhões (R$ 11,1 milhões) para pagar metade dos salários dos trabalhadores bengaleses demitidos nessas circunstâncias.

Segundo as regras do Convênio, os donos das fábricas devem pagar todos os salários perdidos, se tiverem condições.

Rezwan Selim, presidente-executivo da Softex, afirmou que sua fábrica foi fechada sem o devido processo e que o Convênio não estava sendo cooperativo nem profissional.

Selim disse que pegou um empréstimo bancário para pagar os salários depois que os trabalhadores começaram a protestar.

Rob Wayss, diretor-executivo do Convênio para Bangladesh, disse que uma das principais conquistas do grupo foi permitir que o público tenha acesso a relatórios detalhados das inspeções fabris, os quais incluem fotos mostrando quadros elétricos perigosos e rachaduras nas colunas.

"Isso demonstrou um nível inédito de transparência. O objetivo é identificar as preocupações de segurança e fazer com que as pessoas que trabalham na fábrica, as pessoas que possuem a fábrica e as pessoas que produzem na fábrica entendam quais necessidades precisam ser corrigidas."

A Aliança, preocupada com processos por difamação e em obter de antemão o aval das autoridades bengalesas, não divulgou ao público nenhum dos seus relatórios de inspeção.

Insatisfeita com o atrito entre as duas organizações, Ellen Tauscher, presidente do conselho de administração da Aliança, disse: "Isto não é realmente uma competição entre a Aliança e o Convênio. Trata-se de trabalhar em conjunto para mudar a vida dos trabalhadores em Bangladesh".

Mas Dara O’Rourke, especialista em monitoramento no local de trabalho da Universidade da Califórnia, em Berkeley, disse que a rivalidade é inegável.

"Há um aspecto bom na competição. Ela está empurrando ambos os lados a aumentarem o nível daquilo que estão fazendo para melhorar a segurança."

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