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Dentro do Instituto Allen para a Inteligência Artificial, conhecido como AI2, tudo é branco — as paredes, os móveis, os balcões. Podia até ser o cenário da estação espacial em "2001- Uma Odisseia no Espaço".

"O branco foi uma escolha consciente para evocar a ciência experimental — pense em um ‘jaleco branco’", disse Oren Etzioni, o diretor do novo Instituto, aberto este ano pelo cofundador da Microsoft, Paul Allen, em dupla com o Instituto Allen para a Ciência do Cérebro, sua tentativa para mapear o cérebro humano.

Porém, o ambiente futurista contém uma nota paradoxal: o AI2 dedica-se a pesquisar a inteligência artificial ao mesmo tempo em que examina o passado da área.

Enquanto o Vale do Silício busca técnicas elegantes como redes neurais e aprendizagem de máquina que rapidamente modernizam a alta tecnologia, Etzioni continua a ser um praticante da versão moderna da inteligência artificial à moda antiga.

A referência remete aos primórdios da área na década de 50 e 60, quando pesquisadores de inteligência artificial estavam confiantes que poderiam modelar a inteligência humana usando sistemas simbólicos — lógica incorporada em softwares executados em computadores potentes. Então, na década de 80, a primeira leva de empresas comerciais de inteligência artificial falhou. O campo era visto como um fracasso e entrou em declínio.

Nos últimos anos, no entanto, a I.A. voltou com tudo, agora que o reconhecimento de voz, a visão computacional e os carros sem motoristas fizeram progressos graças a computadores potentes, sensores baratos e técnicas de aprendizagem de máquina.

Mas o debate sobre como chegar à verdadeira inteligência artificial ainda não acabou, e Etzioni e Allen apostam que o caminho que escolheram é mais pragmático. O poder das novas técnicas não é contestado, mas há um crescente debate sobre se é possível alcançar a capacidade humana. "Pense nisso como Sherlock Holmes contra o Homem Aranha", disse Jerry Kaplan, professor visitante na Universidade de Stanford, comparando o poder de dedução de Holmes com o irracional "sentido de aranha" que alerta o super-herói de possíveis perigos.

Etzioni diz que o campo de inteligência artificial tem feito avanços incrementais em áreas como visão e discurso, mas que não nos aproximamos do objetivo maior de sistemas em nível verdadeiramente humano.

"Carros sem motoristas são ótimos", ele disse, mas acrescentou que o campo tinha dado origem a uma "I.A. ruim, pois a NSA ou o Facebook podem usá-lo para rastrear as pessoas".

Ele e Allen acreditam que a tecnologia não pode ser desvinculada de suas consequências sociais e econômicas. Eles acrescentaram uma missão social ao projeto que chamam de "inteligência artificial para o bem comum".

O sucesso ou fracasso do projeto dependerá em última análise da capacidade de Etzioni de criar uma nova síntese da inteligência artificial, unindo poderosas ferramentas de aprendizagem de máquina com software orientado pela lógica tradicional. A moda atual de grandes volumes de dados, onde a aprendizagem de máquina é um componente importante, tem limites significativos. "Se você voltar um pouco para trás e disser que queremos produzir I.A., irá perceber que é necessário conhecimento, raciocínio e explicação", ele disse. "Acredito que os grandes pacotes de dados progrediram muito em áreas limitadas."

Até mesmo Watson, o computador da IBM cuja inteligência a empresa quer utilizar em aplicativos complexos como diagnósticos médicos e call centeres automatizados com reconhecimento interativo de voz, em breve chegará a limites fundamentais, argumenta ele.

"Não quero um sistema que não consiga me dar explicações como meu médico. Posso até imaginar o Watson e o programa dizendo ‘Bem, precisamos remover um rim, Sr. Etzioni’. Eu diria, ‘O quê?’; e eles responderiam: ‘Bom, temos muitas variáveis e uma grande quantidade de dados, e é isso o que diz o modelo’. "

Alguns especialistas em tecnologia argumentam que os computadores autoconscientes estão chegando. "Quanto ao progresso da inteligência artificial, é uma discussão que vem de décadas. Fico contente até quando observo, tentando fazer a minha parte. Quero robôs totalmente autônomos o mais rapidamente possível, para começar a visitar o resto do universo", disse Hans Moravec, roboticista e cientista chefe da Seegrid Corporation, fabricante de veículos autônomos para uso em armazéns.

Allen e Etzioni não são tão otimistas. Ambos são céticos quanto às alegações de que poderemos ter máquinas que pensam no sentido humano em pouco tempo.

"A inteligência artificial completa, como o HAL de ‘2001’, está a centenas de anos de distância (ou mais). Na realidade, estamos apenas começando a compreender a profundidade do funcionamento da inteligência", escreveu Allen em um e-mail.

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