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Uma escola de matemática nos morros do Rio atrai os melhores talentos do mundo através de salários de alta remuneração para o ensino | Ana Carolina Fernandes para The New York Times
Uma escola de matemática nos morros do Rio atrai os melhores talentos do mundo através de salários de alta remuneração para o ensino| Foto: Ana Carolina Fernandes para The New York Times

Até poucas semanas atrás, poucos brasileiros sequer tinham ouvido falar do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, muito menos acompanhavam os conceitos abstratos ali estudados.

Situado nos morros acima do Jardim Botânico, o instituto é cercado de árvores adornadas com orquídeas onde macacos-prego saltam entre os galhos. Os acadêmicos conversam não apenas em português, mas também em russo, francês e persa. Os seguranças olham surpresos os visitantes que conseguem encontrar o campus.

Mas então um dos pesquisadores do instituto, Artur Ávila, de 35 anos, ganhou visibilidade nacional em agosto ao receber a Medalha Fields, frequentemente considerada equivalente ao Prêmio Nobel da Matemática. Embora Ávila esteja ganhando fama como o primeiro brasileiro a conquistar o prêmio, o instituto está recebendo maior reconhecimento como uma joia oculta que floresceu em um país em desenvolvimento com escassez de instituições educacionais de renome mundial.

"O lugar parece um castelo na selva, e é extraordinário que tenha conseguido se livrar das restrições governamentais", declarou Stephen Smale, de 84 anos, professor emérito da Universidade da Califórnia, em Berkeley, que passou uma temporada no instituto em 1960 fazendo pesquisas no Rio que conduziram à sua própria Medalha Fields em 1966.

Boa parte do instituto, conhecido como IMPA, é misteriosamente silenciosa, enquanto os acadêmicos no seu interior exploram as fronteiras da matemática e do puro raciocínio. "O IMPA é um ambiente extremamente exigente", declarou Inocencio Ortiz, de 29 anos, aluno de doutorado do Paraguai usando uma camiseta do Led Zeppelin. "Mas vale a pena já que um diploma daqui traz consigo o prestígio e grandes chances de conquistar um emprego em matemática no Brasil ou em outro país".

O instituto recruta alunos promissores para os seus programas quando alguns ainda estão no ensino médio. O instituto não cobra mensalidade e reforçou a sua posição no mundo da matemática ao atrair alunos de doutorado e outros pesquisadores através de salários relativamente altos. Um pesquisador recém-contratado recebe cerca de 6000 dólares mensais, uma quantia que sobe para cerca de 8600 dólares no decorrer de um contrato de vários anos.

Contando com apenas 153 alunos nos seus cursos de pós-graduação (não são oferecidos cursos de graduação) e um corpo docente e de pesquisa com 50 pessoas, o instituto se destaca da maioria das universidades brasileiras no sentido de que a metade dos seus alunos e pesquisadores vem do exterior.

"Todos no mundo da matemática conhecem o IMPA", disse Damien Lejay, de 25 anos, aluno de doutorado em matemática da Universidade Pierre e Marie Curie em Paris que está fazendo pesquisas aqui durante dois meses. "O Brasil é muito perspicaz em investir em matemática, enquanto na Europa a história é diferente, os fundos são cortados".

Fundado no Rio em 1952, o instituto permanece bem menor do que muitas universidades, mas se classifica entre os melhores institutos de matemática do mundo em desenvolvimento.

O Brasil reúne outras organizações de pesquisas bem respeitadas, inclusive a Embrapa, pioneira na agricultura tropical que ajudou a transformar o Brasil em um dos maiores exportadores de alimentos, e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, escola de engenharia inspirada no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e que apoiou o crescimento da Embraer, a gigante brasileira da aviação.

Os estudantes brasileiros têm fraco desempenho em matemática, segundo o Programa de Avaliação de Alunos Internacionais. Buscando diminuir essa disparidade, o instituto ajuda a organizar anualmente a Olimpíada Brasileira de Matemática, uma competição nacional dos estudantes envolvendo uma série de testes e um longo processo de seleção.

"No Irã, existe um processo passo a passo para obter um Ph.D., que pode ser muito rígido", declarou Yadollah Zare, de 27 anos, aluno iraniano de doutorado no IMPA. "Uma das primeiras coisas que percebi aqui foi o quão flexível o instituto é, como somos inseridos nesse ambiente e basicamente nos dizem, ‘Bem, agora depende de você’".

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