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Pete Dunne fundou o Campeonato Mundial de Observação de Aves, que restringe a o uso da tecnologia | Ryan Collerd para The New York Times
Pete Dunne fundou o Campeonato Mundial de Observação de Aves, que restringe a o uso da tecnologia| Foto: Ryan Collerd para The New York Times

Pete Dunne e Benjamin Van Doren são observadores de aves dedicados que dividem uma paixão pela identificação de espécies raras, gravando seus avistamentos e competindo em eventos conhecidos como Grandes Dias. Mas enquanto eles se preparavam para o maior Grande Dia, o Campeonato Mundial de Observação de Aves, suas abordagens tecnológicas não poderiam ser mais distintas.

Van Doren, de 20 anos, que está no segundo ano na Universidade de Cornell, em Ithaca, em Nova York, tem uma câmera de 2.500 dólares, e um iPhone cheio de guias digitais de campo, aplicativos que tocam gravações de cantos dos pássaros e que lhe ajudam a localizar os melhores locais para se encontrar certas espécies. Dunne, de 62 anos, se recusa a levar uma câmera e mantém o seu telefone desligado. Ele se abstém de aplicativos de pássaros e de bibliotecas digitais em favor do diário que mantém desde os sete anos. Segundo ele, a proliferação da tecnologia altera toda a dinâmica de observação das aves, "se afastando da arte da identificação de campo".

Ele acrescentou que tudo estava conduzindo ao estado mental lamentável de "fotografar primeiro e identificar depois". A competição de observação de aves, antes vista como um refúgio para o mundo moderno, agora está debatendo o quanto ela deve abraçar a tecnologia e se a fotografia deve ser exigida para provar um avistamento. Nos debates entre os observadores, a invasão de smartphones e de câmeras digitais se tornou inseparável da questão dos avistamentos questionáveis, conhecidos como enrolação.

O Campeonato Mundial é realizado em maio em Nova Jersey, uma importante parada obrigatória para os pássaros, e o evento atrai cerca de 1.000 dos maiores observadores de aves do mundo, que correrão por todo o estado tentando identificar o maior número de espécies que conseguirem em 24 horas através da visão ou da audição.

A competição não exige prova fotográfica, e a pontuação utiliza o sistema de honra, embora os concorrentes que aleguem terem avistado aves raras possam ser questionados. As regras não permitem o uso de instrumentos na localização ou na audição das aves. Cantos gravados não podem ser tocados a céu aberto, onde eles podem induzir que os pássaros respondam, por exemplo. O lado pró-tecnologia argumenta que é bobagem proibir ferramentas que educam os observadores de aves, tornam a observação mais receptiva e criam apoio para a conservação. "Isso é trazer um novo fôlego para as competições", declarou Scott Whittle, fotógrafo de Cape May, Nova Jersey. Ele contou que começou a observar as aves há seis anos e fotografava os seus avistamentos "porque sabia que eu não era um observador de aves bom o bastante para que as pessoas confiassem em mim".

A comprovação dos avistamentos e o combate às enrolações – avistamentos discutíveis por observadores inexperientes, mais velhos ou simplesmente trapaceiros – é o principal argumento para o uso de fotografias.

Jeffrey Gordon, presidente da Associação Americana de Observadores de Aves, disse que, embora o sistema de honra continuasse importante, as fotos podem oferecer "um padrão mais alto de prova", especialmente para os avistamentos raros, e para os novos observadores que ainda não estabeleceram a reputação de identificação correta.

"Ouço observadores de aves dizer brincando, ‘Fotos, ou não aconteceu’". "A expectativa é que se você relatar algo raro, você precisará de uma foto". Mesmo os puristas como Dunne, funcionário da Sociedade Audubon de Nova Jersey que fundou o Campeonato Mundial, disse que as ferramentas que tornam a observação de aves mais acessível são bem-vindas. Mas introduzi-las nas competições, disseram os puristas, transforma o que deveria ser uma competição de devoção e de habilidade em uma competição livre onde a magia da tecnologia e câmeras se tornam as exigências para a participação. Van Doren reconheceu que deveria haver limites para a tecnologia.

Michael Nagle para The New York Times

Muitos afiram que câmeras e aplicativos educam os observadores de aves e melhoram a identificação

A tecnologia avança em um refúgio do mundo moderno

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