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Se ainda havia dúvidas de que "fazer dinheiro é arte", como disse Andy Warhol, elas certamente foram dirimidas quando sua gravura em silk-screen "Triple Elvis (Ferus Type)", feita de uma foto de publicidade de Hollywood, foi vendida por quase US$ 82 milhões no mês passado.

Em apenas duas semanas em Nova York, casas de leilão venderam mais US$ 2 bilhões em arte, um recorde de grandes leilões de outono em Nova York. O investidor bilionário Steven A. Cohen pagou mais de US$ 100 milhões por uma escultura de Giacometti. Um Manet foi vendido por US$ 65 milhões, dois Mark Rothkos, um por US$ 45 milhões e outro por quase US$ 40 milhões, uma Georgia O’Keeffe por US$ 44 milhões e uma pequena bandeira americana de Jasper Johns por US$ 36 milhões.

As somas elevadas impressionaram até os mais experientes observadores do mercado. "É fenomenal. As vendas de pós-modernos e contemporâneos da Christie’s tiveram um retorno médio de 20 por cento em um ano. Isso é incrível", disse Michael Moses, fundador do Mei Moses Fine Art Index, índice que mede os preços da arte.

Para o bem ou para o mal, termos financeiros como "taxa de retorno composta" conquistaram seu espaço no vocabulário tradicional de especialistas de arte.

O recorde nas vendas fez com que alguns negociantes e colecionadores falassem sobre uma exuberância irracional ou uma bolha, especialmente no crescente mercado de arte contemporânea. Mas Evan Beard, líder de arte e finanças da Deloitte nos Estados Unidos, disse não concordar. "Se há obras não muito boas sendo vendidas por grandes valores, então dá para dizer que há um gasto pouco inteligente. Mas as obras vendidas por essas quantias elevadas são trabalhos importantes que os historiadores da arte consideram inovadoras e influentes. As pessoas querem ter obras originais dos gênios", disse ele.

Em uma recente pesquisa feita pela Deloitte com profissionais da arte, 76 por cento disseram que os colecionadores veem a arte, pelo menos em parte, como um investimento (apenas 53 por cento dois anos atrás).

Os banqueiros estão tratando a arte como qualquer outra classe de ativos, o que, por sua vez, está ajudando a aumentar os preços. Mais bancos concedem empréstimos tendo uma obra de arte como garantia.

John Arena, do US Trust, disse que o banco tinha bilhões em empréstimos pendentes garantidos por obras artísticas. "A arte contemporânea e do pós-guerra é a força maior", disse ele. Na arte contemporânea, "você está lidando com uma nova geração de colecionadores que se sentem confortáveis com os aspectos econômicos da arte".

A escalada dos preços origina-se na força de mercado, não na estética, disse David Galenson, professor de Economia na Universidade de Chicago. O que importa, disse ele, é a inovação do artista. "É de fato incrivelmente simples. Pinturas valiosas são inovadoras. Artistas valiosos são inovadores. Cézanne fez seu trabalho mais influente no final de sua carreira, Picasso no início, quando inventou o cubismo. Em 1962, Warhol começou a usar reproduções mecânicas e fotografia e reinventou a arte moderna. Suas obras da década de 60 são as mais caras", ele disse.

Beard concordou. "Ver o ‘Triple Elvis’ ser vendido por um preço tão alto não tem nada a ver com seu valor estético ou porque ele é cool ou hype. Tem tudo a ver com o fato de que os historiadores concordam que Warhol, com este trabalho, influenciou a história da arte."

O artista japonês Kazuo Shiraga, que morreu em 2008, não é um nome muito familiar. Mas seu "BB56", vendido por US$ 4,9 milhões, representa a melhor taxa de retorno composta — 53 por cento — de qualquer trabalho vendido no mês passado.

A descrição da obra no catálogo da Christie’s utiliza todos os pontos de referência de Galenson. É inovador: "Pintada com os pés do artista, suspenso sobre a tela por uma corda pendurada no teto, a pintura representa uma unidade dos princípios centrais da abstração do pós-guerra na arte performática."

E é do período mais influente do seu trabalho: "’BB56’ foi feita em 1961 e remonta a uma época altamente significativa para o artista", diz a descrição do catálogo, acrescentando que 1962 "foi o ano em que Shiraga fez sua primeira apresentação solo fora do Japão, na Galerie Stadler, em Paris, onde esse quadro foi exibido". Mesmo que pareça uma pintura a dedo infantil, isso é irrelevante.

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