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Em muitos outros lugares da Europa, ele estaria agora na cadeia. Mas aqui na segunda maior cidade da Dinamarca, o jovem de 21 anos de ascendência turca que passou 13 meses lutando na Síria em nome do Islã passa seus dias jogando futebol, malhando na academia e esperando ansiosamente para ver se consegue uma vaga para estudar engenharia na bem reputada universidade local.

"Me sinto em casa. Não tenho problemas aqui", disse o ex-combatente jihadista que falou sob a condição de anonimato, sendo identificado apenas por Osman. Desde que voltou para esta tranquila cidade portuária, ele faz parte de um programa pioneiro que trata ex-combatentes não como criminosos ou terroristas em potencial, mas como jovens rebeldes que merecem uma segunda chance.

O programa, observado de perto pelas autoridades em toda a Europa, envolve aconselhamento, ajuda para a readmissão na escola, reuniões com os pais e outros serviços. O projeto iniciou em 2007 para lidar com extremistas de direita ligados a um clube de futebol de Aarhus.

Agora que o hooliganismo neo-nazista está em decadência e a preocupação com os jihadistas europeus aumenta, o projeto foi reimplantado para lidar com um dos problemas mais calorosamente debatidos na Europa: o que fazer com centenas de jovens muçulmanos que foram lutar na Síria e agora voltam para casa.

Em grande parte da Europa, a resposta tem sido prendê-los, ou pelo menos mantê-los sob investigação de promotores. Bélgica, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Noruega detiveram muitos combatentes que retornaram, sob a suspeita de terem aderido a uma organização terrorista no exterior ou violado as restrições de viagens à Síria.

A Holanda impediu a volta de alguns deles e exigiu que aqueles que estão sendo julgados usem tornozeleiras de controle. A Bélgica, país com o maior número de combatentes per capita na Síria, não só foi atrás dos que voltaram, mas também processa os que ficaram em casa e encorajaram outros a irem à luta.

O prefeito de Londres, Boris Johnson, resumiu o que se tornou a resposta mais comum na Europa em um artigo no The Daily Telegraph. "Temos que deixar claro que você será preso se for para a Síria ou o Iraque sem um bom motivo", escreveu ele.

A Dinamarca, com o segundo maior número de combatentes estrangeiros per capita, foi em outra direção, favorecendo a reabilitação, não a punição.

"Não podemos excluí-los e precisamos nos certificar de que o caminho da radicalização mudou, para que possam ser parte ativa da nossa sociedade", disse Jacob Bundsgard, prefeito social-democrata de Aarhus, cidade pioneira na abordagem mais suave.

De acordo com a polícia, 31 muçulmanos de Aarhus, todos eles com menos de 30 anos, foram para a Síria para apoiar as forças lutando contra o governo de Bashar al-Assad desde o final de 2012, mas apenas um deles foi este ano. Cinco podem ter morrido, incluindo duas mulheres, e 16 voltaram para casa até agora.

"O que estamos fazendo parece estar funcionando", disse Jorgen Ilum, chefe de polícia da região, descrevendo o programa como um exercício de "prevenção ao crime" que visa "proteger a sociedade de extremistas", e não ser condescendente com jihadistas. O chefe de polícia reconheceu que a "reabilitação" total dos que voltaram é extremamente difícil, e que "ninguém é completamente normal", mas acrescentou que nenhum havia aderido à militância desde a volta para casa.

O medo de que antigos combatentes possam fugir ao controle em seus países de origem é grande, desde que Mehdi Nemmouche, um muçulmano francês de 29 anos, matou quatro pessoas no Museu Judaico de Bruxelas em maio, após passar um ano na Síria.

Em Aarhus, os jovens que retornaram são rastreados pela polícia com a ajuda do serviço de segurança interna, conhecido como PET, mas até agora nenhum dos 16 foram presos. Ao contrário, foi-lhes oferecido um "mentor", cuja tarefa é convencê-los de que a militância não tem lugar no Islã tradicional.

Erhan Kilic, advogado de Aarhus de origem turca e observador muçulmano que age como mentor, disse que o maior obstáculo foi ganhar a confiança deles. Se isso pode ser feito, ele disse, "é possível mudar suas ideias de forma moderada", expondo as falhas de interpretação da sua fé.

"O problema não é a mensagem do Islã; são as pessoas que causam todos os problemas", disse ele, observando que jovens recrutas militantes do Islã frequentemente sabem pouco sobre sua fé e adotam pontos de vista assistindo a vídeos no YouTube ou em conversas no pátio da escola.

A mudança do foco em neonazistas para extremistas muçulmanos em Aarhus gerou algumas revisões controversas do programa original, incluindo a iniciativa da polícia de abrir o diálogo com uma mesquita local, que segundo críticos é terreno fértil do radicalismo. A mesquita, frequentada por 22 dos 31 que foram de Aarhus para a Síria, promove o Salafismo, movimento fundamentalista do Islã. Políticos de direita já exigiram que ela fosse fechada.

O prefeito, Bundsgard, disse que a mesquita, Grimhojvej, "é um problema" que "não traz nada de bom para a comunidade local ou a comunidade muçulmana".

Mas fechá-la sem qualquer evidência de ação ilegal, disse ele, não é possível. E questiona: "Em uma sociedade aberta, como é possível, sem comprometer seus princípios fundamentais, desafiar o fato de que alguns discordam desses princípios?"

Oussama el-Saadi, líder da mesquita, disse ter concordado que as autoridades em Aarhus trouxessem seu programa para a mesquita, mas obteve a garantia de que os funcionários não iriam se intrometer em assuntos religiosos e iriam "mostrar respeito" à sua visão do Islã.

Toke Agerschou, funcionário do programa, disse que prender os que voltaram da Síria "é fácil", mas irá apenas os expor ainda mais à radicalização, e que "sua reintegração na sociedade é muito difícil", mas tem um retorno potencialmente mais elevado.

Há a preocupação de que o verdadeiro teste virá quando os combatentes mais radicais Islâmico começarem a voltar para casa.

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