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Ativistas montaram acampamento em Lisle-sur-Tarn, onde os protestos mostram a ira dos jovens contra o governo | Ulrich Lebeuf para The New York Times
Ativistas montaram acampamento em Lisle-sur-Tarn, onde os protestos mostram a ira dos jovens contra o governo| Foto: Ulrich Lebeuf para The New York Times

Neste canto quieto do sudoeste da França, os protestos começaram há um ano como um pequeno agrupamento pacífico de hippies, ativistas ambientais e sonhadores de todos os tipos, que lá acamparam para se opor à construção de uma barragem nas proximidades.

Em agosto, após as autoridades locais enviarem escavadeiras e britadeiras para nivelar o solo e arrancar árvores, começaram os confrontos entre os manifestantes e a polícia, transformando este vasto trecho de floresta em uma zona de guerra.

Mais de cem manifestantes, acompanhados por uma minoria de grupos violentos, responderam ao gás de efeito moral e às balas de borracha com coquetéis molotov. Eles improvisaram bloqueios e duas torres de observação. Então, no mês passado, um estudante de 21 anos, Rémi Fraisse, foi morto após ser atingido por uma bomba de efeito moral que os manifestantes dizem ter sido lançada por um policial.

Mas essa morte evidenciou o aparente fracasso do governo em se relacionar com os jovens franceses, além da natureza cada vez mais violenta dos protestos inspirados nos movimentos antiglobalização. Inicialmente alimentados por preocupações ambientais, esses protestos revelaram o desencanto e a raiva da juventude que não vê muitas oportunidades no futuro e tem pouca fé no governo.

Muitos dos que estavam lá reunidos para se opor à barragem dizem que vieram construir uma sociedade independente.

"Pela primeira vez, estamos lutando contra um projeto que simboliza o que rejeitamos", disse Jordan Samson, estudante da cidade de Toulouse. "Nosso movimento está se espalhando para uma geração inteira".

Os protestos são a mais recente oposição a um número crescente de projetos que os manifestantes chamam de monumentos à ambição arrogante de políticos locais e suas conexões corporativas.

As consequências dos confrontos em Lisle-sur-Tarn também espalharam medo entre os agricultores locais, em uma das áreas rurais mais pobres da França, onde a agricultura compõe cerca de 88 por cento da economia. A suspensão do projeto da barragem e a intrusão dos manifestantes irritaram muitos agricultores que já têm dificuldades de manter seus negócios em uma região pobre e afetada por secas frequentes. Muitos temem que os manifestantes irão interromper a construção de uma barragem que eles veem como necessária.

"Como iremos viver se pararmos de plantar milho?" disse Laurent, fazendeiro local que não quis dar o sobrenome, temendo retaliações. "O que queremos criar, um deserto rural?"

O projeto da barragem de 8,4 milhões de euros visava criar um lago artificial para ajudar a irrigar terras para menos 100 agricultores locais.

Mas para muitos manifestantes, ela foi projetada para apoiar os produtores de milho que praticam o que muitos chamam de "agricultura intensiva", que ameaçaria 94 espécies de animais e plantas.

"Vimos árvores caindo uma após a outra," disse Camille, de 18 anos, que não deu o sobrenome por medo de sofrer retaliações das autoridades. "Foi um desastre ambiental".

Como muitos outros, Camille disse que tinha vindo para a área para denunciar "grandes projetos inúteis e impostos".

Um relatório recente encomendado pelo governo mostrou que o projeto era muito caro, que a necessidade da barragem tinha sido superestimada e que opções não haviam sido suficientemente exploradas. Mas o relatório também disse que seria difícil parar a construção nessa fase.

Muitos manifestantes dormem em barracas ou trailers, e vivem de doações dos moradores e agricultores locais.

Outros agricultores recentemente relataram atos de vandalismo e ameaças.

Desde que os protestos começaram, Guy de Pierpont, agricultor local de 66 anos que cria perdizes e faisões, disse que agora dorme com um rifle e spray de pimenta ao lado da janela do quarto.

Os manifestantes recentemente invadiram seu aviário, e um de seus filhos foi hospitalizado depois de uma briga com um grupo de manifestantes.

"Eles não vieram para cá por causa da barragem — vieram para brigar. E destruíram nossa floresta", disse de Pierpont.

Contribuiu Aurelien Breeden

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