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O primeiro ministro japonês Shinzo Abe, ao centro, no Templo de Yasukuni, visita que está causando tensão na Ásia | Toru Ya Manaka/Agence France Presse — Getty Images
O primeiro ministro japonês Shinzo Abe, ao centro, no Templo de Yasukuni, visita que está causando tensão na Ásia| Foto: Toru Ya Manaka/Agence France Presse — Getty Images

Para o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, o ano passado se concentrou principalmente em reavivar a economia que andava há muito tempo em crise no país. Ainda assim, na cabeça de Abe, o novo fôlego econômico nacional não passa do meio para um fim maior: a construção de um Japão mais poderoso e assertivo, com um exército completo e orgulhoso de seu passado na Segunda Guerra Mundial.

O objetivo de longo prazo, que ajudou a interromper a primeira tentativa de Abe à frente do poder entre 2006 e 2007, veio novamente ao primeiro plano nas últimas semanas, culminando com sua visita de fim de ano ao Templo de Yasukuni, em honra aos mortos de guerra do país, incluindo diversos criminosos de guerra que foram executados após a derrota japonesa. Visitas anteriores de políticos japoneses irritaram a China e a Coreia do Sul, ambos países que sofreram muito durante as tentativas japonesas de fundar um império asiático no século XX.

A visita mais recente gerou uma série de reações de autoridades em Pequim e Seul, acusando Abe de tentar esconder as atrocidades imperiais do Japão. E, em uma crítica rara a um aliado importante, a nova embaixadora norte-americana no Japão, Caroline Kennedy, também se mostrou decepcionada.

Todavia, Abe revelou que está disposto a correr um grande risco político para tirar o país da onda de pacifismo do pós-guerra. Em novembro, ele ignorou críticas pesadas de oponentes políticos e da mídia nacional, passando como um trator pelo parlamento com uma lei para aumentar os controles do governo sobre os segredos de Estado.

Ele também aumentou o orçamento do exército pela primeira vez em uma década e aliviou as restrições autoimpostas à exportação de armas. Um novo plano inclui a aquisição de drones e veículos anfíbios de assalto em preparação à possibilidade de uma rivalidade prolongada contra a China.

Especialistas afirmam que Abe poderia começar a dar passos no sentido de rever a constituição pacifista do Japão, algo que ele já descreveu como um objetivo de vida. As mudanças propostas poderiam permitir que o país mantivesse oficialmente um exército ativo pela primeira vez desde a guerra e assumisse um papel mais relevante na segurança internacional.

"O ano passado deu a Abe confiança para começar a mostrar quem realmente é", afirmou Koji Murata, presidente da Universidade de Doshisha, em Quioto. "Ele está dando sinais a seus apoiadores de que é um político capaz de lutar pelo que acredita."

A posição de Abe é ao mesmo tempo oportuna e arriscada. A ansiedade regional em relação ao rápido fortalecimento militar de Pequim – e o relativo declínio da influência americana, enquanto Washington continuam distraída com o Oriente Médio – pareceu criar o ambiente propício para um Japão mais confiante. Além disso, as tensões entre China e Coreia do Sul tornaram o público cético mais predisposto a aceitar os objetivos direitistas de Abe, incluindo a criação órgãos militares mais robustos.

Porém, as disputas territoriais, bem como as discordâncias extremas em relação ao legado da guerra, também geram um pano de fundo perigoso para a ascensão japonesa. Barcos de patrulha japoneses e chineses continuam em um confronto tenso próximo a ilhas inabitadas no Mar da China Oriental que são reivindicadas por ambos os países, levando a preocupações entre alguns analistas militares, que sugerem que um erro de cálculo ou um acidente poderia dar início a um confronto militar.

As relações do Japão com a Coreia do Norte atingiram o fundo do poço em decorrência de outra disputa territorial e de discordâncias em relação às interpretações da história.

Geralmente Washington apoia a iniciativa japonesa de uma presença militar mais ativa na região para contrabalancear o poder crescente da China. Porém, ao invés de se tornar um aliado estável, Tóquio está se transformando em mais um problema asiático para as autoridades americanas por conta de suas querelas com Pequim.

O índice de aprovação de Abe, em torno de 50 por cento, é um ponto alto para os atuais padrões da política japonesa; ele não tem qualquer opositor de peso e as próximas eleições nacionais ocorrerão apenas em 2016. O partido governista, o Partido Democrático Liberal, venceu de lavada as eleições parlamentares de julho, assumindo o controle de ambas as câmaras do Parlamento.

Muitos conservadores japoneses afirmam que a visita ao templo não deveria ser encarada de forma tão política, uma vez que o único objetivo era o de honrar os 3,1 milhões de japoneses que morreram durante a Segunda Guerra Mundial.

O próprio Abe afirmou isso, dizendo que contemplava a "preciosidade da paz" enquanto honrava os mortos.

"É possível que a maior lição da visita de Abe a Yasukuni seja a de que, muito embora Abe esteja focado na economia, o primeiro-ministro não acredita que seu mandato se limite apenas às políticas econômicas", afirmou Tobias Harris, especialista em política japonesa da empresa de consultoria Teneo Intelligence.

Eiji Yoshida, professor da Universidade de Universidade Kansai, em Osaka, afirmou que Abe está "só esperando pelo momento certo para revelar seus objetivos reais e esse momento é agora".

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