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Antigos comerciantes, como Richard Zawisny, estão fechando as portas no Brooklyn | Nicole Bengiveno/The New York Times
Antigos comerciantes, como Richard Zawisny, estão fechando as portas no Brooklyn| Foto: Nicole Bengiveno/The New York Times

Para alguns nova-iorquinos, a alma da cidade está desmoronando. Com o aumento diário do valor dos imóveis, os proprietários expulsam o comércio de bairro para abrigar novos bancos, farmácias ou academias de ginástica.

Porém, no caso de John e Richard Zawisny, donos de um ponto clássico do Brooklyn —um empório polonês de salsichas e cerveja chamado Eagle Provisions, com “delícias gastronômicas do mundo inteiro”—, a história é mais complicada.

“Eu imaginava que depois de 35 anos estaríamos navegando tranquilamente, e isso não aconteceu”, disse John Zawisny, 62, que comprou o negócio com seu pai e seu irmão em 1979, quando a maior parte do bairro era ocupada por italianos e poloneses.

Hoje Nova York é uma cidade diferente, onde jovens profissionais reformam casas geminadas e empreiteiras batem à porta oferecendo milhões de dólares —nesse caso, sete e meio— para transformar propriedades antigas em prédios de apartamentos.

“Não tínhamos percebido que valiamos tanto em relação ao preço que pagamos”, disse Zawisny. “Então você começa a avaliar: ‘Por que estou fazendo isso, quando poderia estar com minha família?’. Ninguém sabe quanto tempo ainda teremos.”

Como os Zawisny são proprietários de seu prédio, eles poderiam decidir ficar, um privilégio comparado a outros comerciantes que enfrentam aluguéis crescentes.

Após décadas atuando como âncoras de seus bairros, esses empresários descobriram que não são mais essenciais. “Faz parte do processo de hiper-gentrificação”, disse Jeremiah Moss, que tem um blog chamado Vanishing New York (literalmente, “a Nova York que desaparece”).

“É mais difícil ver, porque na superfície parece que eles estão apenas ganhando dinheiro e tomando a decisão de se aposentar, que terão um monte de dinheiro e será maravilhoso. Mas isso estaria acontecendo se o bairro não tivesse mudado tão drasticamente?”

Os Zawisny disseram que os clientes poloneses que compravam chucrute, linguiça e pão preto no estilo europeu se mudaram e, apesar de eles oferecerem cervejas artesanais para atrair jovens clientes, tem sido difícil se manter.

No bairro hoje badalado de Williamsburg, os donos do Teddy’s Bar & Grill —cervejaria do século 19 que virou ponto de encontro de poloneses, que virou ponto de artistas, que virou taverna de bairro— também decidiram vender seu negócio.

Para Felice Kirby, que comprou o prédio e o bar com vários sócios em 1987, a área se afastou de maneira desconfortável do bairro de operários aonde ela chegou em 1979. Ao encontrar compradores que conheciam na comunidade e negociar o que consideravam um preço razoável, ela e seus sócios tentaram se proteger do fim que coube a outros.

Kirby disse que os proprietários recusaram uma empreiteira que quis comprar o prédio. Caso o Teddy’s “se transformasse em uma rede, seria uma grande perda para a comunidade”, disse ela.

Os sócios tentaram preservar a tradição do Teddy’s estipulando em contrato que os novos donos deveriam manter as instalações originais, como o piso de tábuas e a placa de vidro colorido que diz: “Peter Doelger’s Extra Beer”, um vestígio dos primeiros anos do bar, quando era franquia de uma cervejaria do Brooklyn.

A maioria dos que estão fechando as portas, porém, parece satisfeita. Em Sheepshead Bay, a extremidade sul do Brooklyn, uma empreiteira comprou o El Greco Diner por US$ 13 milhões no ano passado, planejando construir um condomínio. O prédio foi demolido recentemente. Durante quatro décadas, foi o ganha-pão da família Venetoklis, o negócio ao redor do qual girou a vida de Anastasia Venetoklis e seus quatro filhos. Mas as dificuldades do comércio os esgotaram, e, quando apareceu um comprador, eles abriram mão.

“Queríamos dizer adeus a El Greco de pé”, disse a senhora Venetoklis. “Não queríamos desistir e vê-lo desaparecer lentamente.”

John Zawisny disse que está em paz com sua decisão.

“O que você está fazendo?”, criticou-o um freguês antigo em uma tarde. “Vamos nos aposentar —o sonho americano”, respondeu ele. “Nossos clientes são cada vez mais jovens, e acho que não tínhamos percebido que estamos envelhecendo.”

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