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Na colina onde soldados do norte e do sul lutaram uma das batalhas mais importantes do conflito entre México e EUA, o barulho da mina de extração de areia e cascalho impede qualquer tentativa de reflexão.

Algumas guerras não são respeitadas e essa é uma delas, embora Ulysses S. Grant a tenha considerado a mais "perversa" que já eclodiu.

Mesmo assim, dois mexicanos apaixonados por história estão tentando preservar o local onde ela ocorreu e mantêm um museu com três salas perto dali, em Saltillo.

"O pessoal não sabe o que aconteceu aqui", afirma Reinaldo Rodríguez, de 68 anos. "Não tem ideia de que foi nesse local que os irlandeses morreram ao lado dos mexicanos."

Eles eram os San Patricios, ou o Batalhão de São Patrício, nome que criaram para si mesmos. Eram imigrantes que se alistaram no Exército Americano e acabaram desertando. Segundo os historiadores, eles se cansaram de um dos piores defeitos dos EUA: o preconceito. Nos idos de 1840, muitos norte-americanos viam os católicos como uma horda invasora.

"Os irlandeses eram católicos e se sentiam diminuídos pelos oficiais protestantes", conta Amy S. Greenberg, historiadora da Universidade Estadual da Pensilvânia.

Os San Patricios fizeram sua primeira participação como batalhão em setembro de 1846, na Batalha de Monterrey. "Nunca ninguém tinha visto nenhum estrangeiro, quanto mais europeu, ajudar o Exército mexicano", conta Rodríguez.

"Acabaram se tornando a força mais efetiva que o México tinha, principalmente pelo fato de saberem como usar os armamentos do inimigo", conta a Prof.a Greenberg.

Na Batalha de La Angostura, que os norte-americanos chamam de Buena Vista, o batalhão ocupou um local próximo do sopé da colina. E massacrou os americanos. Porém, o comandante, o General Antonio López de Santa Anna, bateu em retirada depois do segundo dia de confronto, em 23 de fevereiro de 1847. Suas tropas tinham vantagem numérica sobre as do oponente numa proporção de três ou quatro para um e muitos estudiosos garantem que eram superiores aos voluntários e combatentes do General Zachary Taylor.

Para explicar a decisão do recuo, Rodríguez culpa a corrupção. "Não se esqueça de que ele fez um acordo", ele diz.

Isidro Berrueto Alanis, de 59 anos, é o diretor do museu e descobriu inúmeros artefatos na região, como a coleção de brincos quebrados que revela que as mães de muitos jovens soldados mexicanos foram à guerra com eles.

Todo ano, em fevereiro, Berrueto e Rodríguez sobem ao local onde o General Santa Anna teria ficado. Às vezes, contam com a companhia de representantes do consulado irlandês e moradores de San Antonio.

"Os norte-americanos que lutaram na guerra não são os mesmos que vivem lá hoje. Não queremos revivê-la, só queremos relembrá-la", conclui Rodriguez.

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