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No alto de um morro a quase 1.500 metros de altitude nas montanhas Atlas, formou-se um posto avançado. Os pequenos edifícios de pedra são decorados com grafite e há uma galeria a céu aberto.

É um lugar improvável para um assentamento, mas foi estabelecido com um objetivo: protestar contra a apropriação por uma mineradora de um precioso suprimento de água, assim como a poluição que supostamente resulta da mineração.

Os habitantes vieram do município próximo de Imider, 6 mil pessoas espalhadas em sete aldeias e vizinhas da mais produtiva mina de prata da África.

Mas, embora a área possa ser rica em prata, ela abriga algumas das pessoas mais pobres do Marrocos. A população de Imider disse que passou a rejeitar a mina porque não recebe nada dela a não ser poluentes. Por isso, dois anos atrás, ela subiu o morro e cortou o suprimento de água da mina. Desde então, ocupou o morro enquanto continua a combater a companhia metalúrgica Imider e, por extensão, o rei do Marrocos, seu principal proprietário.

"Estamos dispostos a conversar", disse Brahim Udawd, 30, um dos líderes do movimento de protesto. "Mas ninguém nos deu atenção, por isso fechamos a válvula de água. Eles levam a prata e nos deixam o lixo."

Em 2011, quando as revoluções árabes levaram à queda das ditaduras no Egito e na Tunísia, o rei do Marrocos, Mohamed 6º, ofereceu reformas constitucionais que garantiram mais poder a um governo eleito e mais liberdade aos marroquinos. Mas nada disso ajudou a população de Imider.

Para alguns, o conflito aqui não se trata apenas de pessoas comuns que se levantam para melhorar suas vidas, mas faz parte de um problema maior que se reflete em conflitos com grandes companhias mineradoras em todo o mundo.

A ocupação do morro começou no verão de 2011, depois que estudantes que estavam acostumados a conseguir empregos sazonais foram recusados. Uma das principais exigências dos aldeões é que 75% dos empregos na mina sejam alocados a seu município.

Os aldeões dizem que também querem que a companhia seja responsabilizada por danos ambientais que, segundo eles, são a causa de doenças, morte de gado e desertificação.

"Nos anos 1990, eu costumava ter árvores, frutas, óleo, amêndoas", disse o agricultor Bou Tahar, 70. Mas eles morreram depois que a mina começou a retirar a água, disse ele, acrescentando: "Desde que cortamos o fluxo, em 2011, nossos poços estão começando a se encher de novo".

A companhia diz que um estudo de impacto ambiental provou que a mina não está contaminando o lençol freático ou prejudicando o meio ambiente. A empresa diz que a mineração foi certificada como dentro dos padrões globais ambientais e que ela implementou sistemas de irrigação para os agricultores.

A direção da companhia diz que sua capacidade de processamento caiu 40% em 2012 e 30% em 2013, depois que os moradores cortaram uma fonte de sua água. Hoje em dia, ela usa outra fonte na tentativa de compensar o prejuízo.

Farid Hamdaoui, administrador da mina, disse que a companhia está gastando mais de US$ 1 milhão por ano para construir escolas e apoiar projetos comunitários.

Depois de cada reunião estratégica realizada no sopé do morro, os ativistas voltam para casa mostrando três dedos —um para a língua berbere, um para a terra e um para a humanidade—, esperando que alguém ouça seu apelo.

"O rei nos esqueceu", disse uma mulher. "Ele passeia pelo país ajudando as pessoas e nunca vem para esta região. Ele é nosso pai e se esqueceu de seus filhos."

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